Dinheiro Público & Futebol

OPINIÃO23.09.202206:30

Após a permuta, faz sentido o município decidir não querer cobrar receita?

ACâmara Municipal do Porto (CMP) aprovou em outubro de 2020 um contrato-programa de desenvolvimento desportivo com a Liga Portugal cujo objeto consistiu na permuta de uma parcela de terreno sito na freguesia de Ramalde e que permitirá à Liga construir a sua futura nova sede. Por outras palavras, a Liga entrega à CMP a sua sede (inaugurada em 1999) na Rua da Constituição por troca com um terreno onde irá erigir o projeto Arena Liga Portugal e que engloba um investimento previsível na ordem dos €18 milhões (a assumir pela Liga). O acordo foi validado pela maioria dos deputados à Assembleia Municipal com o PAN a abster-se e a CDU a votar contra. Neste seguimento, correu esta semana a notícia (não confirmada) de que o Executivo da CMP iria (ou irá) isentar a Liga de todos e quaisquer custos, encargos e despesas decorrentes do processo de licenciamento urbanístico relacionados com a construção da nova sede e que tal receita municipal rondaria uma verba superior a €1 milhão. Pergunta-se: após o negócio da permuta imobiliária, faz sentido o município decidir não querer cobrar uma fonte de receita exorbitante de dinheiros públicos? É que, ainda para mais, o próprio presidente da Liga destacou, à altura, que a construção da nova sede iria duplicar alguns números do futebol profissional como, por exemplo, a representação de 0,3% do Produto Interno Bruto, o facto de originar mais de €800 milhões/ano e o pagamento anual de €150 M em impostos. Com tanta riqueza de uma Liga que cobra tostões em multas aos vários agentes desportivos e perante aquilo que quase todos consideram ser o sucesso certo na construção da Arena desportiva, podiam-na ter considerado para uma área de densidade populacional reduzida ou que realmente necessitasse de ser reativada. Preferiram fixar-se nos 80% do tecido empresarial do futebol que reside a Norte fruto de um trabalho de décadas da Associação do Futebol do Porto.