Di María é uma boa notícia para o Benfica?
Copa América ou Mundial são competições curtas e a Argentina é uma seleção formatada para proteger um jogador como ele; no clube, não
Corre o minuto 119 da final da Copa América e Rodrigo de Paul pressiona o defesa contrário, depois cai em cima do guarda-redes para onde se dirige a bola, de seguida faz um sprint de 20 metros para o flanco esquerdo defensivo do adversário para onde o guardião da Colômbia colocou o esférico. São segundos de alta voltagem. Fosse o futebol ciclismo, o médio do Atlético Madrid seria um gregário, a função que João Almeida está a desempenhar com todo o brilho nesta Volta à França. Messi ou Di María são, à vez, o Pogaçar.
Vemos esta Argentina jogar e compreendemos as saudades por antecipação que treinador, colegas e adeptos vão ter do esquerdino que na época passada jogou pelas águias. Lionel Scaloni teve a inteligência de estruturar uma equipa que trabalha a dobrar para não obrigar os dois jogadores mais criativos (e mais velhos) a defender. Até o ponta de lança Julián Álvarez assume esse perfil de lutador - não por acaso é pretendido por Diego Simeone no Atlético Madrid).
Esta é uma estratégia que faz sentido para torneios de curta duração. Desde o início do século, quando começaram a esbater-se as diferenças entre os mais apetrechados e os menos abonados (pela melhoria global da qualidade do treino e das condições de trabalho), todos os campeões mundiais ou europeus o foram porque, acima de tudo, defenderam bem e com muita gente. O último título do Brasil, no longínquo 2002, não aconteceu só por causa de Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo, mas também por causa dos três médios posicionais (sem um típico 10) a resguardá-los (Edmilson, Kleberson e Gilberto Silva).
Mas um Europeu, Mundial ou Copa América têm uma lógica diferente de provas longas. E por isso El Fideo sabe que não irá ter na Luz em 2024/2025 a mesma aura da albiceleste. Não por culpa própria. Afinal, na temporada anterior ele limitou-se a ser o que é: brilhante do ponto de vista técnico, mas com lacunas óbvias no pressing e nas transições. Fez das melhores temporadas da carreira, mas numa equipa desequilibrada e que nunca pareceu formatada para ele, como a Argentina. Momentos houve de muito Di María e pouco Benfica. Um paradoxo com a assinatura de Roger Schmidt, que por vezes pareceu inebriado com o talento do argentino, esquecendo-se de proporcionar os ajustamentos necessários. Foram muitas fintas que caíram no vazio.
Fosse hoje anunciada a renovação e com direito a subir à varanda sobre a porta 18, não se repetiria a cena de há um ano quando dois mil adeptos acorreram ao Estádio da Luz para saudar o regresso de um génio, 13 anos depois. Aqueles que gritaram por Ángel Di María a 6 julho de 2023 são os mesmos que hoje encaram com alguma desconfiança a continuidade do campeão do mundo. Não pela qualidade intrínseca do futebolista, mas por tudo aquilo que a equipa tem de prescindir para não beliscar essa qualidade, incluindo a afirmação de valores emergentes e de outros seguros como David Neres. A não ser Schmidt transforme alguns criativos em gregários. A adaptação de Rollheiser não será por acaso: não corre como De Paul mas estará disposto a dar tudo para proteger um dos seus ídolos. A dúvida é se isso é suficiente para evitar os erros do passado.