Determinante janeiro
1Arrancou um novo Ano. Ano novo e Liga NOS . Novo Ano e final da Taça da Liga. E Ano novo e também oitavos e quartos de final da Taça de Portugal. Em termos de futebol será um mês determinante e com decisões relevantes nas três competições internas. E com o Benfica a ter duas deslocações difíceis, a primeira ao Dragão e a outra, porventura ainda no final do mês, a Alvalade. Janeiro, sabemos do calendário, é o mês de Janus, um dos marcantes deuses romanos. E Janus tem duas faces. Uma olha para o passado. A outra olha para o futuro. Um olho olha para trás. O outro olha para a frente. Janus é, assim, o deus das idas e das vindas. Logo é, igualmente, o deus das mudanças. Olho em termos de futebol para janeiro e ambiciono que o meu Benfica entre já hoje nos Açores olhando, com vontade firme, para o futuro e conquiste os três pontos. Sabendo desde já o resultado do confronto de ontem que opôs o Sporting ao Braga e não ignorando que o Futebol Clube do Porto só joga ao final desta noite contra um Moreirense que ficou, num ápice e ontem mesmo, sem treinador. O Benfica tem de olhar para este janeiro como o construiu Janus. Olhando para o passado e para as virtudes, que as há , mas também os defeitos, que os houve.
Assumindo que importa chegar à frente e olhar, sempre, em frente. E não rejeitando as necessárias mudanças e as idas e as vindas que este mercado de inverno proporciona. Mercado que já abriu em Inglaterra, Alemanha e França e que abre amanhã em Espanha , em Itália, na Bélgica e nos Países Baixos. E, por cá, apenas na próxima terça-feira e terminando a 4 de fevereiro. É este janeiro, assim, o mês das mudanças e o mês de algumas decisões. A decisão final da Taça da Liga e as decisões quanto à luta pela presença nas meias-finais da prova rainha do futebol português, a Taça de Portugal. E no mais é um Ano Novo com esperança, e muita, na conquista da Liga NOS. E como nos ensinou Helen Keller «o otimista é a fé em ação. Nada se pode levar a efeito sem otimismo». E, mesmo neste tempo de evidentes dificuldades, sou um otimista.
Na vida vivida e, também, na fé no meu Benfica. Mesmo que, em certos momentos, a fé seja abalada e a crença perturbada. Mas não quero olhar mais para trás. Importa, mesmo com algumas vozes dissonantes, olhar para este janeiro com esperança no futuro. No futuro próximo. E este, desde já, tem hora e local. Ocorre, no primeiro e determinante momento, a meio desta tarde, e no meio do Atlântico, na fantástica Ilha de São Miguel e na bonita cidade de Ponta Delgada. Não vale olhar para trás. O que conta é o futuro. E neste mês é o Santa Clara e depois, na Luz, o Tondela. E, depois, o renovado Estrela da Amadora - num jogo da Taça de Portugal com VAR! - e, logo, a seguir, o Futebol Clube do Porto. E, assim, e antes das meias finais da Taça da Liga, chegamos ao meio deste mês de janeiro. Como bem percebemos deste determinante janeiro!
2Este mês de janeiro é o mês das nossas eleições presidenciais e tendo nós, desde ontem, a oportunidade de julgarmos, em diferentes debates, os candidatos que legítima e validamente apresentaram as respetivas candidaturas. Mas no mesmo dia (24 de janeiro) vão ocorrer eleições no Barcelona em razão da demissão, diria que forçada, do ainda Presidente. Barcelona que é, de forma surpreendente, o novo clube do nosso Nélson Évora. Mas o Barcelona, clube, vive tempos complexos. Desde logo em razão dos resultados na Liga espanhola de futebol, a chave do seu êxito global e da sua efetiva pujança. Depois, e por conexão, em razão da sua grave situação financeira. E, aqui, sem ignorarmos a especificidade da Catalunha e da sua complexa realidade política e também económica.
Por ora leio que poderão haver nove candidatos, sendo que o prazo limite para a apresentação de candidaturas é o próximo dia 11 de janeiro. Mas também se percebe que um anterior presidente (2003-2010), Joan Laporta, lidera, folgado, as sondagens. Em pleno mês do mercado de Inverno irão multiplicar-se nomes sonantes a chegar ao Barcelona que, acima de tudo, não quererá perder Messi. Mas janeiro, em Barcelona, será mesmo um mês de mudanças. De idas e de vindas! E também Janus exigirá que os sócios deste clube singular olhem, com serenidade, para trás e olhem, com sagacidade, para o futuro. Sendo inequívoco que tantas vezes «o futuro permanece escondido até dos homens que o fazem»! Também aqui um determinante janeiro !
3No terceiro dia do ano 47 antes de Cristo ardeu a biblioteca mais famosa da Antiguidade, a biblioteca de Alexandria. E na história da Humanidade, só no século dez, a biblioteca itinerante - exemplo de múltiplas e marcantes bibliotecas - do persa Abdul Kassem Ismael sobreviveu a incêndios e guerras. Os seus quatrocentos camelos carregavam cento e dezassete mil livros numa caravana de dois quilómetros de extensão. Onde, por vezes, decerto, apareciam andorinhas.
E este ano arrancou com a súbita partida de um Senhor que sempre nos levava a entoar, em múltiplos concertos, deliciosas canções e, entre elas, ‘Por morrer uma andorinha’! De um Senhor que levou o FADO a todos os lugares e que o ajudou a ser Património da Humanidade. Amanhã Portugal despede-se de um dos grandes Senhores da nossa Cultura e um dos mais empolgantes e carismáticos homens do Fado, o Senhor Carlos do Carmo. Permitam-me, aqui, uma dupla referência. Recordo que, salvo erro em 2002, apresentou um seu novo disco em Sintra no Centro Cultural Olga Cadaval. De uma simpatia contagiante e de uma sinceridade mesmo perturbante não esqueço que assumiu que era do Belenenses e que, de vez em quando, me via nos debates em que então eu participava.
Há alguns (poucos) anos o meu Querido Filho, Alexandre - mais a Rita e os meus amados netos - foi viver para o segundo andar do prédio onde residia o Senhor, já saudoso, Carlos do Carmo. Mais sua Querida e estimada Esposa. Meu Filho dizia-me sempre: «Vi o Senhor Carlos do Carmo e voltou a tratar-me por Engenheiro!» Ele que é, e muito bem, de Gestão. Mas era, na linguagem e testemunho de todos eles, um verdadeiro Senhor, um singular Diplomata e, por excelência, um Homem charmoso. Estou certo de que para o já saudoso Senhor Carlos do Carmo são justas e merecidas as palavras de José Marti nas suas Páginas Escolhidas: «A morte é uma vitória, e quando se viveu bem, o caixão é um arco do triunfo!» Que Arco! Neste determinante janeiro!