Descansa bem querida Marieke

OPINIÃO25.10.201904:00

Torpor e azia

Ainda o jogo com o Rangers não começara e já estava dado um sinal inequívoco sobre o nível de entusiasmo que a equipa portista hoje em dia suscita junto dos seus adeptos: pela primeira vez em muito tempo vi as bancadas do Dragão repletas de clareiras. Talvez haja uma explicação para isso - esta época, com a singular excepção da vitória na Luz, a equipa tem oscilado entre a mediania e a mediocridade. Quer dizer, a cotação do todo é inferior à soma dos seus valores individuais. E essa perplexidade é a causa maior de todas as preocupações. A começar pela (des)organização defensiva, onde Marchesín tem evitado desastres ainda mais gravosos. O empate final, resultante de golos colombianos (Alfredo Morellos é mais um produto daquela que é, insisto, a melhor escola de pontas de lança do mundo), só veio confirmar a pertinência da desconfiança das bancadas. Enfim, suspeito que vamos ter uma temporada aziaga, com mais tristezas do que alegrias.

Bonobos

Os bonobos, também popularmente conhecidos por chimpanzés-pigmeus ou chimpanzés-anões, classificados pela ciência como Pan peniscos, são uma   espécie animal omnívora que habita em pântanos, florestas e alguns bairros suburbanos, onde se dedicam primordialmente ao treino e à prática da violência grupal, de preferência sob as vestes de claques desportivas. Garantem os especialistas em Etologia que o bonobo é o parente vivo mais próximo do Homo Sapiens. Sinceramente, tenho algumas dúvidas.

Avestruz

Aáguia parecia ferida de morte, mas eis que, num repente, truz! A garça caída em desgraça renasceu. Não qual fénix, antes sim como aves(truz).

E que Viva Marieke Vervoort!

Morreu Marieke Vervoort. Tinha 40 anos e era uma atleta paralímpica belga.  Foi medalha de ouro nos 100 metros T52 e de prata nos 200 metros T52 nos Jogos Paralímpicos de 2012, em Londres (T corresponde à categoria dos atletas com deficiência na espinal medula). Na edição seguinte dos Jogos, disputados no Rio de Janeiro em 2016, conquistou as medalhas de prata em T51/52 400 metros e de bronze em T51/52 100 metros.

Marieke sofria, desde os 14 anos, de uma doença degenerativa grave e crónica, a qual, entre outras limitações, além das dores, a impedia de andar e dormir normalmente. Confessou ela: «É demasiado duro para o meu corpo. Sofro a cada treino por causa das dores. E tenho de treinar muito para cada corrida. Mas treinar e competir são as minhas curas. Esforço-me tanto. Esforço-me para empurrar todo o meu medo e tudo o resto para longe». E de tal modo se esforçava que por vezes desmaiava devido às dores provocadas pelos treinos.

Aquando dos Jogos no Brasil, a atleta belga já anunciara que o dia em que tudo seria «suficiente» estava mais perto. Esse dia, em que todos os demais se mostram bastantes ou redundantes, chegou esta terça-feira. Marieke escolheu morrer exactamente da mesma forma que escolhera viver: com coragem. E dignidade. Também já havia dito que gostaria de ser recordada como «a senhora que estava sempre a rir, sempre a sorrir». Mais disse: «Olho para a morte de forma diferente agora. Vamos dormir e nunca acordamos. Para mim, é algo pacífico.» A atleta belga já tinha cumprido os procedimentos e formalidades que lhe permitiam avançar para a morte assistida: «Assinei os papéis em 2008 porque tenho muita dor e não quero viver com dor. Quero viver, mas bem. Vivo dia a dia. Quando não aguentar mais, pedirei».  Dias atrás, Marieke escrevera numa rede social: «Não podemos esquecer as boas lembranças.» Uma semana antes, cumprira um dos sonhos da sua vida: foi copiloto a bordo de um Lamborghini. «Realizei muitos sonhos na minha vida. Este é o último».

Descansa bem querida Marieke!

Entrevista imaginária

- As contas do nosso clube não estão nada famosas…
- Mas isso é por causa da economia!
- Qual economia? A mim parece-me, bem ao contrário, que tal se deve muito mais aos desperdícios do que a alguma suposta economia.
- Ora, não confundamos as coisas. Porque é precisamente por isso que tem de se distinguir entre a microeconomia e a má-economia.
- Má-economia? Ou macroeconomia?
- Posso provar-lhe por A+B que essas duas nomenclaturas correspondem afinal a uma, e só uma, disciplina! De resto, uma das qualidades mais admiráveis da economia é, justamente, ser a única coisa na vida que, fatalmente, cresce sempre.
- Perdão?
- Então não sabe que em economia só há taxas de crescimento? O que acontece é que elas podem ser positivas ou negativas… Percebe agora porque não se pode dizer que as nossas contas estão mal apenas porque os resultados são negativos?