Da justiça desportiva

OPINIÃO21.02.202205:30

O Conselho de Disciplina tem, nos incidentes do Dragão, um desafio e uma oportunidade. A ver se desta vez não falha ao futebol português

Ajustiça desportiva portuguesa tem, nos incidentes registados no clássico do Dragão (foi tudo tão vergonhoso, pelo menos que sirva para alguma coisa...), um desafio que não deve desperdiçar e uma oportunidade que não pode perder. O desafio passa por mostrar, de uma vez por todas, ser verdadeiramente independente e indiferente aos nomes, de clubes e jogadores, ou à grandeza dos envolvidos. A oportunidade é de provar que consegue ser célere e punir, sem contemplações, comportamentos que têm de ser erradicados de uma vez do futebol em Portugal.

Sobre os jogadores que podia punir em processo sumário, os que foram expulsos por agressões a companheiros de profissão, mão pesada, como se pedia - não tanto pelas agressões em si, mas pelo momento em que ocorreram: três jogos para Palhinha, dois para Marchesín. Em relação a Pepe e Tabata, suspensão provisória enquanto decorre o processo que conduzirá (só pode conduzir) a penas mais pesadas. Tudo certo. Veremos (e é neste ponto que reside o real desafio e a real oportunidade) o que acontece em relação ao resto: as agressões de pessoal acreditado para colocar publicidade e apanha-bolas a jogadores do Sporting e o inqualificável comportamento de Vítor Baía e Rui Cerqueira depois da conferência de Imprensa de Frederico Varandas - tiremos, por agora, Sérgio Conceição do quadro, porque embora o Sporting insista na presença do treinador do FC Porto no momento dos insultos e tentativas de agressão ao presidente do Sporting não foi, até ao momento, aberto qualquer inquérito que o vise.

No primeiro caso, aquele que aconteceu à vista de todos, a coisa parece de simples resolução. Não precisa, naturalmente, o Conselho de Disciplina que o FC Porto conclua o processo de averiguações que timidamente anunciou e ainda sem resultados conhecidos - não parece, afinal, tão complicado, porque todos os coletes estavam numerados. E a conclusão do processo só pode, naturalmente, terminar num castigo aos dragões, como organizadores do jogo e, por isso, responsáveis por quem tem acesso, com as suas acreditações, à zona do relvado. E não pode ser, naturalmente, um castigo qualquer, porque só assim pode dar um exemplo que acabe, de uma vez, com o sentimento de impunidade que parece reinar nalguns estádios.

Sobre aquele que aconteceu longe da vista, na garagem do Estádio do Dragão, se vierem a ser provadas as acusações contra o vice-presidente e o responsável pela comunicação do FC Porto - e o que o próprio clube e os seus responsáveis têm dito depois do incidente, em que afirmou perceber a reação de alguns dos seus face aos insultos de Varandas a Pinto da Costa, parecem indiciar que serão facilmente provados -, a punição tem, também ela, de ser pesada, para ver se acabamos, de uma vez por todas, com os insultos, ameaças e afins que sofre quem, naquela sala de imprensa, diz ou pergunta aquilo que os responsáveis do FC Porto não gostam. Não vale tudo.

PS - Ainda sobre o que se seguiu ao clássico: incríveis as provocações que o FC Porto tem feito, nos seus órgãos oficiais, ao Sporting depois do clássico, que incluíram, até, uma dedicatória especial depois da goleada na Champions frente ao Manchester City. O FC Porto é um grande clube, português e mundial, mas alguns dos que o servem, aparentemente sem dimensão para servi-lo, teimam em tratá-lo de forma muito pequenina...

AINDA sobre a justiça desportiva: é inenarrável aquilo que aconteceu no caso Palhinha, provavelmente o primeiro jogador da história do futebol mundial e escapar a uma suspensão depois de ter atingido o limite legal de amarelos que pode ver numa época sem cumprir castigo. Depois de o Supremo Tribunal ter dado razão ao Tribunal Central Administrativo Sul, é caso para perguntar: o juiz que aceitou a providência cautelar e os juízes do TAD que, sem competência para tal, anularam o castigo ao médio do Sporting, não deviam ser, eles, alvos de um inquérito e, se calhar, de uma suspensão?