Da fantástica ‘Laminico’ a Léo
Euro 2024 e Copa América, juntos, foram um bom torneio. Isolados nem por isso. Espanha (e Alemanha) e Argentina (e Colômbia, Canadá e Uruguai) ficam como referências para o futuro
A Copa América foi o condimento que completou um Europeu insosso, o caos na ordem monocórdica que nos chegava quase todos os dias da Alemanha. Felizmente, se é que posso pôr um felizmente nisto, venceu a equipa menos medrosa, mais bem preparada para todos os cenários, mais confiante no próprio processo, que é, sobretudo, muito mais do que isso: é uma identidade. Um ADN que recebeu a mutação certa para voltar a ser triunfal, com a entrada da vertigem de Nico Williams e Lamine Yamal. A Laminico enquanto dupla foi o melhor jogador do Euro. Desculpa lá, Rodri.
A Alemanha, que teve parecenças na abordagem e que vêm da influência profunda de Guardiola no país e ainda nas tendências, graças aos triunfos que alcançou, além do trabalho consequente, foi a melhor derivação da Roja e ao mesmo tempo o seu maior rival, como se confirmou nos quartos, hoje com toda a certeza final antecipada. Todos os outros decalques, como Inglaterra e Portugal, ficaram aquém das expetativas. E, assim, o troféu foi mesmo para casa... certa. Se os ingleses quiseram ser espanhóis e não conseguiram, será que podem contrapor?
Suíça, Áustria e até mesmo Turquia e Países Baixos são notas positivas num torneio cheio de cautelas e caldos de galinha. Por isso, porque a imitação tem papel importante, o melhor que poderia ter acontecido era a Espanha ficar como exemplo e não uma Inglaterra desconexa, que sobreviveu graças ao talento individual e às fezadas de Southgate.
Nos Estados Unidos, houve caos – a mais, fora de campo –, mas sobretudo ritmo, coragem e dose certa de loucura, ou um dos protagonistas não fosse Bielsa, que todo o futebol devia venerar, mesmo que quase nunca ganhe. Faltou-lhe um Suárez ou um Cavani mais novos para dar golo a esta geração. Ganhou a Argentina, com uma identidade muito sua, equilíbrio entre o bilardismo e o menottismo, e um pouco de bielsismo, com três guardas pretorianos a defender o mais-que-tudo Messi, ainda cheio de classe e influência, e o outro mais querido, Di María, a dizer adeus. Scaloni e Aimar merecem estátuas junto ao Obelisco pela transformação competitiva dos eternos favoritos fracassados no pós-Maradona.
Talvez a Colômbia merecesse mais, com um James MVP (De Paul para mim) rejuvenescido, e o Canadá foi um pouco austríaco, marca Red Bull, nas ideias de Jesse Marsch. Tal como a Laminico, Euro e Copa América juntos foram o melhor torneio dos últimos tempos.