Consequências operação ‘Cartão Vermelho’

OPINIÃO11.07.202107:05

Mais do que a legalidade estatutária importa a legitimidade institucional. Que só se adquire com uma Assembleia Geral

A operação Cartão Vermelho tem consequências jurídicas e institucionais. As jurídicas e judiciais foram ontem comunicadas pelo Juiz Carlos Alexandre. As institucionais no que respeita ao Benfica determinarão, na minha opinião, uma Assembleia Geral em tempo razoável. Mais do que a legalidade estatutária importa a legitimidade institucional. E esta, mesmo que haja quem possa divergir, só se adquire, numa primeira fase , com uma Assembleia Geral. Agora, para além das dores que os últimos dias suscitaram, importa unidade estratégica face aos desafios desportivos de um clube eclético como o Benfica. E, acima de tudo, face aos desafios do futebol profissional, ao empréstimo obrigacionista em curso e, naturalmente, tendo a consciência que a operação Cartão Vermelho deixa feridas no tecido associativo benfiquista. Mas o que importa, mais do que ajustes de contas ou estratégias pessoais - que  as há! -  é criar um ambiente de unidade face aos desafios da equipa profissional de futebol, a essência desportiva e financeira do Benfica, deste Benfica. No mais haverá tempo, com mais calma para outra reflexões.

Há cinco anos, Portugal, e em particular a cidade de Lisboa, quase que viveu  um dia feriado. Os campeões da Europa chegavam e milhares de adeptos enchiam as  alamedas e as avenidas, as ruas e as lindas esquinas da capital para saudarem, com um imenso sorriso de alegria e um prazer intenso, Cristiano Ronaldo e Fernando Santos, Éder e Rui Patrício, Pepe e Quaresma entre outros fantásticos jogadores  que na noite anterior tinham calado toda a França e levado a alegria da conquista lusitana de Paris a Dili. Sei bem que estremeci e chorei de alegria em Paris. Recordo bem o abraço que dei ao Joaquim que nesse dia fazia anos e que não deixou de brindar, no final do fantástico  almoço, com cinco pedras de gelo! Como decerto fez ontem, confinado e sempre cuidadoso, em Aveiro, com a sua família próxima. E não esqueço a nossa  alegria  contagiante, as vespas que não nos largavam no estádio e o salta coração que nos dominou, e bem,  nos instantes finais . Cinco anos depois, hoje em Londres, a Inglaterra e a Itália procuram a vitória e ficaremos a saber, logo bem à noite, quem sucede a Portugal no trono europeu! O certo é que a Inglaterra procura, com um fervor imenso, o primeiro Europeu e a Itália deseja reconquistar um troféu erguido em 1968! Ou seja, a Inglaterra quer sorrir com um novo e diferente troféu após o êxito do Mundial de 1966 (55 anos) e a Itália renovar uma conquista que tem 53 anos!  Impressionante o tempo de espera! Arrisco que amanhã não será  feriado em Inglaterra mas sim, e com uma festa contagiante, em Roma  e em muitas cidades italianas. E no relvado de Wembley para além do duelo entre os dois treinadores - Southgate e Mancini - teremos o confronto entre Kane e Chiesa e com 60 mil pessoas nas bancadas. É o regresso do povo do futebol, milhares sem máscaras mas, decerto, com certificado digital ou com testes negativos a este vírus que, nas suas diferentes variantes,  nos aflige e contagia, nos perturba  e condiciona. E com Cristiano Ronaldo a poder ser o máximo goleador deste singular Europeu e, também, o futebolista com mais golos somados em Mundiais e Europeus (21). Num  Europeu , em que, por largos minutos, percebemos a importância da vida vivida. O momento de Eriksen fica, para sempre, na nossa memória. A celebração da vida que está, e muito, para além do futebol!

Com a nossa atenção obviamente concentrada nas questões relacionadas com a operação Cartão Vermelho quase não nos demos conta  quer do anúncio do regresso, se bem que limitado, do público aos estádios - com as condições aqui referenciadas no domingo passado - quer, acima de tudo, do sorteio da nossa principal Liga. E, aqui, o Sporting arranca a defesa do título com o Vizela e logo na segunda jornada vai a Braga. E o Futebol Clube do Porto começa com o B-SAD e no jornada seguinte vai a Famalicão. E o Benfica joga em Moreira de Cónegos no arranque da Liga e recebe o Arouca na segunda jornada e num mês de agosto em que o sorteio nacional lhe foi , em termos teóricos, favorável. Mas sabendo que tem um exigente e determinante mês de agosto em termos europeus já que joga a presença na fase de grupos da Liga dos Campeões . Em agosto teremos quatro jornadas na nossa Liga e logo a seguir a primeira pausa  para as seleções nacionais e, aqui, com os jogos de acesso ao Mundial do Catar . E o regresso da Liga no fim de semana de 12 de setembro ocorre com o primeiro clássico em Alvalade, um Sporting-Futebol Clube do Porto. Um fim de semana em que o Benfica joga nos Açores, em Ponta Delgada,   frente ao Santa Clara. Ou seja, o Benfica de Jorge Jesus nas primeiras  cinco jornadas joga  três vezes fora - Moreira de Cónegos, Gil Vicente e Santa Clara - e duas vezes na Luz, aqui frente ao Arouca e Tondela. Sabendo, ainda, que recebe na primeira volta na Luz, em novembro e dezembro respetivamente, SC Braga e Sporting, vai ao Dragão no final do ano,  na décima sexta jornada prevista para 29 de dezembro. O sorteio aí está.  Importa acreditar e importa , acima de tudo, ganhar. Se possível chegar ao final de agosto com doze pontos. Seria, a par da entrada na Europa, um mês de sonho. Bem necessário para a imensa alma benfiquista.

Ficámos a saber esta semana que os Jogos Olímpicos de Tóquio decorrerão sem público. O Governo japonês decretou, esta semana, o estado de emergência para a aérea metropolitana de Tóquio - trinta milhões de habitantes - e os Jogos serão, de verdade, uns Jogos singulares. Com prejuízos impressionantes e encargos públicos dolorosos. Faltarão os adeptos, as palmas motivantes, a alegria das bancadas, o contágio entre as pistas e os gritos de apoio e de estímulo, as múltiplas vozes  e o diferenciado ambiente humano, a não ser, porventura, nas competições que decorem nos recintos desportivos fora da área da capital nipónica. Mas serão uns Jogos para a história do desporto: em tempos de pandemia e sem público. Os Jogos do confinamento planetário.