Compadres na Horta

OPINIÃO19.08.202206:30

Que interessam a carreira do jogador e o projeto desportivo do comprador?

O caso de Ricardo Horta corre o risco de ficar na história como exemplo daquilo que não se deve fazer ao nível da gestão desportiva e revela o pior que existe na dependência criada ao longo dos tempos entre dirigentes e empresários. As partes parecem estar cada vez mais distantes num negócio que seria de resolução fácil se fossem sérios e cumprissem o que ficou estipulado quando Horta viajou para Braga. É que, para além dos direitos económicos de Horta (third-party ownership aos olhos da FIFA) se encontrarem divididos entre Braga (33%) e Málaga (67%), existem dois elementos cruciais que aceleraram a despedida do atleta no final do jogo com o Sporting: (i) o SLB ter dado conhecimento por escrito ao Málaga de que apresentara primeira oferta formal ao Braga pela aquisição dos direitos desportivos de Horta por €10 milhões (que Salvador rejeitou) e o facto consumado de que (ii) o jogador aceitou o SLB como próximo clube. No negócio Horta, as duas condições referidas são cumulativas pois ficou acordado entre portugueses e espanhóis que, caso o Braga rejeitasse uma oferta formal de um terceiro clube acima de €5 milhões para a transferência de Horta e este aceitasse esse mesmo clube como próximo destino, o Braga estava obrigado a pagar ao Málaga o valor correspondente à percentagem que lhe cabe de acordo com o valor oferecido. O Braga recusou a primeira oferta mas não pagou ao Málaga nem este decidiu exigir (ainda) tal valor. Porquê? Porque há um Mendes no negócio que tem ascendente sobre os espanhóis (por ter a receber à volta de 55% da parte destes) e que lhes diz que é possível receber mais e, por outro lado, pela existência de um histórico compadrio com Salvador. O testemunho do Jeová Mendes é fácil: vai sempre receber por ter direito mas quanto mais melhor. Esta é a palavra que ele apregoa de porta em porta: quanto mais ele receber, significa que os outros também receberão mais. Que interessam a carreira de Horta e o projeto desportivo do comprador?