Coates deixa equipa órfã
Coates sai de Alvalade como uma referência. Foto: IMAGO

Coates deixa equipa órfã

OPINIÃO11.07.202410:20

No início do século, Quaresma, João Pinto e Jardel continuaram e André Cruz e Phil Babb saíram. Sporting iniciou aí longo jejum…

Coates saiu e o Sporting não perde apenas o capitão, perde um líder. O líder da equipa. Penso que ninguém tem dúvidas que a grande figura do renovado Sporting é Rúben Amorim. O novo Sporting confunde-se com o treinador, apesar do grande trabalho da Administração de Frederico Varandas. O presidente dos leões assumiu o clube talvez no período mais crítico da sua centenária história e num ápice não só o estabilizou como o tornou mais forte, mas não tem o carisma de Rúben Amorim, que a todos conquistou em Alvalade e não para de somar fãs nas mais diversas latitudes.

O inqualificável ataque de Alcochete já está bem guardado no passado, mas foi apenas há seis anos e o grande obreiro deste milagre é Frederico Varandas. A propósito, Coates foi uma das vítimas de 15 de maio de 2018. Ao contrário de muitos, na maioria até formados no Sporting, o uruguaio, que tinha chegado a Alvalade apenas dois anos antes, manteve-se fiel. Ficou e ajudou a reconstruir o clube. Que vivia já um grande jejum e ao qual muitos se apressaram a sentenciar o destino. Afinal, os prognósticos falharam e hoje em dia o Sporting é um clube saudável e até ganhador.

Dois campeonatos em quatro anos é, em qualquer circunstância, um bom balanço e para o Sporting, então, é muito bom. Os adeptos, justificadamente, querem mais. E mal celebraram o último título começaram a exigir o bicampeonato, com Rúben Amorim, em pleno Marquês de Pombal, a dar o mote. A fasquia está, pois, alta, até porque se sabe bem o poder da concorrência, que tem repartido o domínio nos últimos 40 anos, nos quais o Sporting apenas conquistou quatro campeonatos.

Coates sai de Alvalade como uma referência e deixa, inevitavelmente, a equipa órfã. Compreendo os motivos do central e é fácil perceber que não resistiu ao chamamento da família e que tenha optado pelo reencontro com as raízes. Percebo também o clube, que, perante tudo o que foi descrito, não podia dizer não ao uruguaio. Mas considero que a saída pode ser problemática para os leões. Por todo o peso dentro das quatro linhas e por muito do que representava no clube.

O adeus do capitão ganha ainda maior peso porque surge no seguimento do de Adán, Neto e Paulinho. Esgaio é agora o único trintão e mesmo ele parece não ter lugar garantido. Como sou daqueles que consideram que a experiência é fundamental numa equipa, diria mesmo que a idade é neste momento a maior mais-valia do lateral-direito no plantel e pode ser decisiva na continuidade.

Este momento do Sporting fez-me recuar ao início de século e ao último campeonato conquistado pelos leões antes da trilogia Varandas-Amorim-Coates. Foi em 2001/2002 e no centro da defesa estavam dois trintões: André Cruz e Phil Babb. A dupla saiu após conquistar a dobradinha numa equipa que tinha Quaresma, João Pinto e Jardel. Na época seguinte, apesar de o trio de ataque ter continuado, o clube iniciou o jejum. Faltou, então, liderança ao clube.