Círculo vicioso
A gestão da SAD deve ser criteriosa no que respeita às contratações
Embora não estivesse a pensar propriamente em futebol, foi Einstein quem criou o melhor conceito de insanidade aplicável à gestão dos clubes e sociedades desportivas. Fazer repetidamente a mesma coisa várias vezes e esperar resultados diferentes é de insânia extrema. Não temos que ser génios para percebermos que, quando desejamos e necessitamos alcançar resultados diferentes, somos forçados a ter que executar abordagens distintas em termos de plano estratégico, comportamental ou de visão.
As experiências servem de aprendizagem, mas temos que nos adaptar às circunstâncias e estar dispostos a experimentar novas alternativas caso as anteriores falhem ou não nos guiem ao sucesso pretendido. Schmidt foi disso o maior exemplo ao longo da presente época no Sport Lisboa e Benfica, daí a crítica da qual é alvo por parte de sócios, adeptos e respetivos analistas. Mais: a segunda metade da época passada 2022/23 já servia de padrão para o que se avizinhava em 2023/24 ainda que a venda anormal de uma pedra basilar como Enzo Fernández sirva de atenuação para a respetiva análise. Os indícios estavam todos lá, daí ninguém se poder surpreender com uma gestão desportiva repetidamente executada sem grande sucesso, sobretudo a nível interno onde a SAD benfiquista tinha a obrigação de demonstrar ser a mais forte por se tratar da campeã em título, por ser mais poderosa financeiramente no início da época e por ter o plantel com mais alternativas e que ainda viria a ser reforçado neste mercado de inverno.
Na verdade, desde que Schmidt aterrou em Portugal, a única grande surpresa foi somente a sua renovação no dia 31 de Março de 2023. Ou seja, Rui Costa só pode ser um homem de fé pois recusou aguardar pela experiência do alemão em Portugal para depois refletir, avaliar e decidir. Optou por renovar quando nada estava ganho, as duas taças nacionais já tinham ido à vida e apenas bem encaminhado a conquista da I Liga e uma difícil Champions que teve o seu auge na fase inicial de grupos.
A renovação de Schmidt fê-lo estender a sua ligação contratual até junho de 2026 e catapultar a sua conta bancária para mais um milhão de salário líquido por ano. E isto, relembro, sem que houvessem provas dadas lá fora no seu passado, quanto mais apostar o seu futuro em Portugal. O mais engraçado (mas que, na realidade, não tem piada nenhuma) é que o alemão fez com que as pessoas, do dia para a noite, o parassem de elogiar para passarem a criticar. Como se não tivesse bastado assistir, há uns meses atrás, ao seu discurso a criticar sócios e adeptos e a apelar para que estes ficassem em casa se não gostarem da sua gestão repetida, eis que agora decide reiterar a sua falta de noção em relação à exigência benfiquista e respetivo tribunal da Luz que só foi capaz de atestar com o seu treinador-adjunto (deduzo ser Javi García) e o diretor técnico Luisão, este último que foi pródigo enquanto jogador em fazer sair todas as épocas nos media que os melhores clubes da Europa o assediavam para, na realidade, poder melhorar o seu contrato de trabalho substancialmente.
Schmidt acredita mesmo que não lhe devem assacar responsabilidades com o ordenado que recebe, independentemente de quando a sua equipa ganha? E quando a mesma é humilhada por um clube falido desportivamente esta época, em convulsão social e que vai ser alvo de controlo pela UEFA devido ao buraco financeiro que apresenta nas contas? Schmidt também merece os euros que ganha? A gestão da SAD deve ser criteriosa no que respeita às contratações de todo o tipo de humanos, sejam eles treinadores, atletas ou até quadros de pessoal para uma qualquer sua área interna. E no caso da Benfica SAD, há que reduzir brutalmente os custos e canalizar obrigatoriamente determinada percentagem da venda de jogadores para o abate da dívida que é enorme. Esta SAD dá a entender que só vende jogadores para financiar a sua operação corrente pois a dívida bancária ronda os 200 milhões e a obrigacionista é maior. Isto, meus caros, é um círculo vicioso e empurrar com a barriga não é solução pois a dívida praticamente não mexe e tem subido tal como os ativos para aumentar os capitais próprios positivos. Mas, pergunta-se, todos acreditam no valor oscilante do ativo atual declarado pelo Benfica?