Camaradas e fé

OPINIÃO16.11.201803:14

1. No final do dia de trabalho, os jornalistas, por norma, ficam a saber qual a agenda para o dia seguinte. A pergunta ao camarada do lado, agora, já não é: ‘a que clube vais amanhã?’. Passou a ser: ‘a que tribunal vais amanhã?’. Bem sei que quanto mais informados sobre as mais diversas matérias formos, mais transversais seremos, mas, por mim, dispensava tanto conhecimento judicial.

2. À porta do Tribunal do Barreiro, durante dias a fio, manifestaram-se a favor de Bruno de Carvalho algumas - cada vez menos - pessoas. Estão no pleno direito de o fazer, mas já não me parece que se trate de uma questão de camaradagem mas de fé numa religião que não adora um qualquer Deus, mas um homem, com todos os defeitos e virtudes inerentes à condição humana.

3. Ronníe O’Sullivan é um homem de carne e osso, como Bruno de Carvalho. Mas com um taco de snooker na mão transforma-se num deus. E não é uma questão de fé, é só de ter olhos para o ver jogar.

4. Jorge Jesus é quase um Deus na Arábia Saudita, uma condição que lhe insufla ainda mais um ego que já de si não é pequeno. Mas basta ler a entrevista de hoje em A BOLA para, quem olha para o futebol com algum romantismo e sentido de humor - no princípio e no fim, é só um jogo -, sentir uma saudade imensa de que JJ não esteja por Portugal.

5. Um número considerável de jogadores de râguebi recusaram a convocatória para o último jogo da Seleção Nacional, diante da Roménia. Num desporto em que tantas vezes a camaradagem e espírito de equipa - e bem - é exaltada, não fica bem dizer não à Seleção, seja em que circunstâncias for.

6. Marcel Keizer começou a trabalhar no Sporting, que está a dois pontos do líder FC Porto. Ao holandês não foram pedidos títulos no imediato e até seria um pouco indecoroso. Depois de tudo o que aconteceu nos últimos seis meses, não será um milagre a conquista da Liga mas é preciso muita fé para acreditar.