O jogo de hoje pode ter um grande impacto na época desportiva do Benfica
Um dérbi é, e sempre será, um encontro especial, pela rivalidade que caracteriza estas duas grandes equipas. Todos os anos, o contexto em que estes clubes se encontram é diferente. Hoje, o Benfica é uma equipa muito mais pressionada, pelo dececionante trajeto na Liga dos Campeões e pela fraca qualidade do futebol apresentado. Apesar de estarmos apenas na 11.ª jornada, o jogo de hoje pode ter um grande impacto na época desportiva do Benfica.
Muito mais que um jogo
Apesar deste jogo apenas representar três pontos, a realidade é que, indiretamente, tem um peso muito superior. Para o Benfica, pelo contexto que atravessa, é fulcral apresentar uma reação forte no jogo com o eterno rival.
Um dos argumentos apresentados até aqui é que nas competições europeias o Benfica está a ter um péssimo desempenho, mas que nas provas nacionais as coisas são diferentes. Por este motivo, se o Benfica escorregar hoje frente ao Sporting, toda esta retórica cai por terra. Adicionalmente, depois deste jogo iremos ter uma paragem de duas semanas para jogos das seleções. Isto significa que se a equipa encarnada tiver um mau resultado, e não podendo competir logo de seguida, poderá cair numa zona de depressão. Ficar a seis pontos do líder à 11.ª jornada, no contexto que o Benfica atravessa, é um cenário que ninguém na estrutura do clube pretende. Por outro lado, se olharmos para o copo meio cheio, este jogo pode ser o melhor que pode acontecer ao campeão nacional. Depois de uma péssima exibição, e de muita contestação, nada melhor do que ter um grande jogo em casa, frente a um rival que está na liderança do campeonato.
Trata-se da oportunidade perfeita para poder unir adeptos, equipa e Direção rumo ao objetivo pretendido, o campeonato nacional. Muito mais do que três pontos, o Benfica tem a oportunidade de dar um pontapé na crise, ficar em primeiro no campeonato, fortalecer a relação com os adeptos e, em simultâneo, demonstrar aos rivais que independentemente do momento que a equipa esteja a atravessar, nos momentos decisivos o Benfica diz presente. Do lado do Sporting, a situação é muito diferente. Está a atravessar um bom momento. Está em primeiro no campeonato e é a equipa que se tem exibido a melhor nível, embora ainda lhe falte ter a capacidade de saber controlar os desafios quando estes, aparentemente, estão resolvidos.
Apesar deste pormenor importante, o Sporting apresenta algo que ajuda a desbloquear jogos. É uma equipa que tem alma, crença e está confiante. A confiança advém dos resultados, mas também da organização apresentada, que faz com que os jogadores se sintam confortáveis no relvado. No desafio de hoje, o Sporting passa a pressão toda para o rival, embora Rúben Amorim queira que os seus jogadores também a sintam, de forma a estarem totalmente ligados ao jogo. O que fez, desde o início da época até aqui, deixou o Sporting com espaço para poder errar e confiança para se apresentar na Luz e impor o seu jogo.
Schmidt: e agora?
Roger Schmidt sabe a importância que este jogo tem para as ambições do clube. A reação que teve à pergunta - se sentia o lugar em perigo - demonstra, claramente, que sente a pressão do seu lado. O treinador alemão já nos habituou a não ser muito ágil nos jogos contra adversários com maior qualidade. Não muda a sua forma de jogar, não se adapta aos adversários e, estrategicamente, não tem sido capaz de acrescentar valor. Se há um jogo em que a capacidade de surpreender seria bem-vinda é no de hoje. Não deve ser fácil, para um treinador que costuma ter tantas certezas, ter agora tantas dúvidas. Começou a época com o seu sistema preferido, 4x2x3x1, tentando implementar o seu ADN, caracterizado por uma equipa ultra pressionante e sempre de olhos na baliza do adversário. Ao perceber que não estava a conseguir ter sucesso porque não só não pressionava e não criava ocasiões de golo, como permitiu sempre muito espaço para os adversários explorarem, alterou o sistema para 3x4x3. Sem dúvida que foi uma alteração que causou estranheza. A justificação ainda causou maior perplexidade: segundo o treinador encarnado, a alteração teve a ver com jogadores lesionados e com a qualidade de Morato, que com quatro defesas não tinha espaço para jogar.
Com base nesta justificação, apetece perguntar ao treinador alemão por que não alterou o sistema no último ano! Refiro isto, porque dos jogadores lesionados, Kokçu não estava cá na última época, Neres estava, mas não era titular indiscutível, e Bah esteve bastante tempo lesionado numa fase da época importante. Por fim, Morato estava no plantel e também não jogava apesar de ser um valor reconhecido! Claro que estas justificações não fazem sentido. A alteração de sistema teve a intenção de dar maior equilíbrio à equipa. O único problema é que para uma equipa jogar bem num sistema diferente, este tem de estar devidamente trabalhado, rotinado, com uma definição correta dos posicionamentos defensivos e com as saídas de bola para o ataque bem padronizadas, de forma a que o coletivo funcione e permita que as individualidades venham ao de cima. É ainda importante referir que este sistema é difícil de trabalhar, porque altera muitos posicionamentos em campo e porque a maior parte dos jogadores, na sua formação, cresceu em sistemas de quatro defesas. Para tornar tudo ainda mais difícil, Roger Schmidt não só trocou o sistema tático sem o trabalhar devidamente, como ainda colocou jogadores fora das suas posições naturais. Ora, sem coletivo, ao menos que fosse pela individualidade que as coisas se pudessem compor. O problema é que nem coletivo nem jogadores nas suas posições, o que torna tudo muito mais difícil. Nos jogos de competições nacionais as coisas são ultrapassadas pela diferença de qualidade individual dos jogadores do Benfica face à maior parte das restantes equipas. Nos encontros com equipas de dimensão superior, como é o caso da Real Sociedad, as fragilidades ficam totalmente expostas e aquilo que parecia ser equilíbrio defensivo foi um amontoado de jogadores atrás da linha da bola. A grande curiosidade para o jogo de hoje é: qual vai ser a abordagem de Schmidt ao jogo? Vai regressar ao 4x2x3x1 que tem vindo a ser trabalhado desde o último ano, deixando os jogadores mais confortáveis e tentando corrigir o desequilíbrio das transições defensivas através de comportamentos táticos? Ou vai apostar no sistema de três centrais (3x4x3), que não foi trabalhado e que não está rotinado? Tem a palavra o (confuso) treinador alemão!
Rúben Amorim: a oportunidade
O Sporting apresenta-se hoje na Luz com um estado de espírito diferente. A equipa cresceu de um ano para o outro. Contratou jogadores que estão a acrescentar valor e imprevisibilidade. Com um sistema bem definido e trabalhado, os resultados ajudam a que a equipa se sinta confiante e preparada. Neste campo, Rúben Amorim tem sido determinante. Com tantas competições, Rúben tem promovido a rotatividade da equipa e tem feito crescer os jogadores com tempo de jogo e nas várias competições. Neste momento, tem muito mais soluções do que no início da época, simplesmente porque todos se sentem envolvidos nos objetivos da equipa. Os exemplos de Edwards e Trincão são claros. Não começaram a época a titulares. Rúben Amorim foi aproveitando todas as provas para lhes dar minutos e confiança. Trata-se de dois jogadores que precisam de se sentir bem, e com minutos, para poderem render.
Neste momento, não são titulares indiscutíveis, mas são duas opções muito importantes porque estão em boa forma e têm caraterísticas que permitem a RA mexer com o jogo. Com esta gestão, o treinador leonino, em vez de ter dois jogadores desmotivados, tem dois atletas que acrescentam muito, que se sentem importantes e que podem fazer a diferença. Voltando ao dérbi, apesar de a pressão estar toda do lado do Benfica, Rúben Amorim sabe da importância deste desafio para o Sporting. Se vencer fica com seis pontos de vantagem e aumenta a confiança dos jogadores e dos adeptos. Uma vitória pode ainda significar o agudizar do mau momento do adversário. Como tal, estrategicamente, o encontro ganha uma dimensão adicional e que não deve ser desvalorizada. Em caso de derrota, o Sporting continuará na posição que está atualmente, uma vez que, pelo seu mérito, ganhou margem para poder errar. Por fim, existem dois pontos que o treinador verde e branco irá ter em conta: o primeiro é que no último ano em que foi campeão, a partir do momento que ficou em primeiro, nunca mais largou essa posição; o segundo é que Amorim, ao referir que o Sporting este ano é candidato a ganhar tudo em Portugal, sente que a equipa está preparada, não só para vencer todos os jogos, mas sobretudo para lidar com a dimensão destes encontros. Uma resposta positiva da sua equipa irá validar e reforçar a convicção e confiança de todos e, apesar de estarmos apenas na 11.ª jornada, este pode ser um passo muito importante para a decisão da prova.
Duas formas de estar diferentes
Para finalizar, hoje estarão em campo dois estados de espírito diferentes. Isto é bem visível na forma como abordam as dificuldades. Roger Schmidt realça de uma forma sistemática as lesões (de três jogadores!) e a necessidade de tempo para os reforços aparecerem, como principais motivos para o momento menos positivo. Já Rúben Amorim, apesar de ter menos um dia de descanso para o jogo de hoje, não aponta esse facto como desculpa, pelo contrário, reforça que será na via mental que o jogo se irá resolver.
A valorizar
Fernando Santos: Na segunda parte da entrevista publicada ontem no jornal A BOLA, Fernando Santos esclareceu a forma como se processou a sua contratação por parte da FPF. A FPF e o seu Presidente Fernando Gomes não ficam bem na fotografia e deviam esclarecer a opinião pública.
Fernando Santos recorda o processo que o levou a selecionador, que o presidente da FPF terá confirmado, segundo o próprio, em tribunal, e desmente que tenha criado a Femacosa de propósito para receber vencimentos do organismo
A desvalorizar
Benfica: A imagem que a equipa tem deixado na melhor competição de clubes é dececionante. Se juntarmos as fracas exibições à saída prematura da Liga dos Campeões, percebemos que os proveitos operacionais vão ter uma redução substancial face ao último ano e este é um problema difícil de gerir, porque os custos operacionais continuam a aumentar…