Benfica, Sporting e a frustração do que podia ter sido

OPINIÃO08:00

E se o Benfica que dominou o FC Porto no clássico tivesse estado em Munique? E se Ruben Amorim não deixasse o melhor Sporting das últimas duas décadas?

Ao ver o Benfica dominar o FC Porto como poucas vezes terá feito na história recente — tanto que não marcava quatro golos ao rival há quase 60 anos —, é impossível não recuar quatro dias, até à quarta-feira anterior, em Munique. Frente ao Bayern, e mesmo com derrota por apenas um golo, o Benfica foi menos do que o FC Porto foi na Luz. Só defendeu, nem pareceu tentar atacar — se tentou, isso ainda é pior; se a estratégia não era dar a bola ao adversário para não correr riscos de perdê-la em zonas proibidas, isso revela uma incapacidade ainda maior...

E o problema não foi, tecnicamente, jogar com três centrais, porque não faltam exemplos de equipas que jogam assim e são muito ofensivas. Quanto muito, a questão dos três centrais atrapalhou o lado psicológico dos jogadores, pelo sinal que deu de que era um jogo particularmente difícil e seria preciso ter cuidados extra. Talvez os três centrais até fossem uma boa ideia com mais treino, com mais rodagem, com outros alas (pelo menos à direita). Talvez, mesmo sem treino, rodagem e com Kaboré, o sistema resultasse se a estratégia fosse outra, se Bruno Lage tivesse conseguido convencer os jogadores de que, mesmo com cautelas maiores, era possível jogar no meio campo do adversário.

Não resultou. O treinador do Benfica, valha a verdade, assumiu o erro e corrigiu a mão no clássico contra o FC Porto. Viu-se uma equipa mais próxima do que tem sido ultimamente, mais atrevida, mais confiante. Com os jogadores nas posições certas.

Por isso, a frustração dos benfiquistas. É certo que este FC Porto está a anos-luz do Bayern, mas foi tal a superioridade encarnada que é impossível não pensar no que poderia ter acontecido em Munique se o Benfica tivesse sido igual a si próprio...

Ao ver o Sporting desmontar o Manchester City no início da segunda parte, com um golo a partir do pontapé de saída, em 8 passes e 18 toques na bola, sem que os adversários sequer a cheirassem, é impossível não recuar até 2020 e à decisão de Frederico Varandas e Hugo Viana de pagarem 10 milhões de euros para tirarem um treinador inexperiente, Ruben Amorim (tinha à data oito jogos na Liga), de Braga.

O antigo jogador do Benfica chegou a Alvalade com o clube em profundo tumulto. Marcel Keizer, primeira aposta de Varandas, ainda ganhou Taça de Portugal e Taça da Liga em 2019, mas venceu menos de 60 por cento dos jogos (25 em 42) antes de ser demitido. Seguiu-se Leonel Pontes, como interino, sem vitórias em quatro jogos, o que precipitou a escolha de Silas, que perdeu mais de um terço das partidas (10 em 28). Foi então que chegou Amorim. Sem surpresa, a desconfiança era muita — o benfiquismo do novo treinador seria o menor dos problemas; as dúvidas sobre as suas qualidades, sobre o investimento, sobre o valor do plantel, isso sim atormentava os sportinguistas.

Quatro anos e meio depois, Ruben Amorim sai para o Manchester United e deixa saudades. Teve altos e baixos, claro, quem os não tem?, mas os baixos nunca foram tão baixos como outros no passado recente, mesmo com um 4.º na Liga em 2022/2023, e os altos... Bom, não é preciso recuperar os dois campeonatos ganhos, os cinco troféus, os jogadores lançados, as vendas... Basta ir a quarta-feira e àquele golo de Maxi Araújo contra o City.

Vamos ver como as coisas correm a João Pereira, recebido com um pouco de desconfiança, pela falta de experiência, mas com algum benefício da dúvida, por o caso anterior, de Ruben Amorim, ter corrido tão bem. Mas, salvo se ganhar a Champions (o que não é provável; também não seria com o treinador anterior...), será impossível não pensar: até onde poderia ter ido este Sporting (concretamente este, deste ano, o melhor dos últimos 20) se Ruben Amorim tivesse continuado?...