OPINIÃO Rui Costa, 1-Adeptos, 1
O presidente do Benfica pode refletir sobre o que disse Arnold H. Glasow: «Um dos testes à liderança é a capacidade de reconhecer um problema antes que se torne numa emergência.»
Rui Costa bem que poderia refletir sobre um dos conceitos de liderança de Janet Yellen, a secretária do Tesouro dos Estados Unidos. «Na liderança é preciso que confiem em si. Para o conseguir tem de explicar muito bem o que está a fazer e o porquê». Uma visão que aponta ao sentido de eficácia da liderança, naquilo que eu chamaria um triângulo virtuoso: uma coisa é ter razão, outra é as pessoas perceberem e aceitarem que se tem razão; outra ainda é retirar benefícios dessa razão
Rui Costa tinha razão quando apostou em Roger Schmidt, mesmo com muitos notáveis benfiquistas a criticarem a escolha. Teve por melhor reação dos adeptos «se o presidente escolheu é porque deve ter valor». A escolha foi justificada, o caminho apontado, os recursos humanos bem geridos e o sucesso desportivo imediato tornou-se no terceiro pilar da razão. Rui Costa, 1-Adeptos, 0.
Dois anos depois tudo mudou. Rui Costa demorou quatro meses a decidir o que os benfiquistas, alguns até dentro da própria direção, tinham por óbvio: o ciclo de Roger Schmidt tinha chegado ao fim. A história demonstra-o: são escassas as probabilidades de sucesso de um treinador que transita de época com o grau de fragilidade e animosidade com que Schmidt terminou a temporada. Faltou-lhe ter lido o empresário norte-americano Arnold H. Glasow: «Um dos testes à liderança é a capacidade de reconhecer um problema antes que se torne numa emergência.» Rui Costa, 1-Adeptos, 1.
O desempate vai assentar na escolha do sucessor. Bruno Lage? Está longe de ser um nome consensual, também ele contestado por ter desperdiçado sete pontos de avanço para o FC Porto numa segunda volta de campeonato inenarrável, sem direito a desempate depois da reviravolta épica da época anterior em que recuperou os mesmos sete pontos de atraso para o FC Porto. Rui Costa sabe que esta é uma decisão crucial a um ano das eleições. O meu respeito por ele e por todos quantos decidem sabendo do impacto no próprio futuro.
Creio que a percentagem de decisões certas não está sequer no top-10 das qualidades que as pessoas reconhecem como fundamentais num líder. Coerência, justiça, visão, falar verdade, capacidade de mobilização ou coragem estão à frente. Faça-se uma comparação entre Rúben Amorim e Roger Schmidt: ambos tiverem um impacto tremendo e foram campeões na primeira época (completa no caso de Amorim). Ambos ficaram em 2.º lugar na segunda época. Ambos tinham cinco pontos perdidos à quarta jornada na terceira época. Schmidt foi despedido, Amorim nem sequer foi questionado e acabou a época sob o signo do fracasso. Mas voltou a ser campeão. Será Rui Costa menos paciente que Varandas? Serão os adeptos do Sporting mais benevolentes? Não creio. A diferença esteve na perceção clara do que é ser-se líder. Uma coisa é estar errado, outra é estar perdido. Para quem provou conhecer o caminho, um erro é um desvio que tem correção; para quem está perdido, qualquer estrada leva a lado nenhum.
PS. Hoje celebro os 78 anos do nascimento de Freddie Mercury, o mais genial intérprete e compositor que conheci. Líder da banda que marcou a minha vida: Queen. Imagino Schmidt a ouvir The Show Must Go on; Rúben Amorim a entoar Dont Stop Me Now; Vítor Bruno a gritar I Want to Break Free. Para quem generosamente me lê e incentiva dedico Friends Will Be Friends.