Benfica: Reabertura
'Visão de golo' é o espaço de opinião semanal de Rui Águas, antigo internacional português e treinador
Em curto espaço de tempo, duas candidaturas que o Benfica, sem dúvida, reforça. Reabrem-se as portas dos mais importantes objetivos da época. Um confronto europeu de exigência máxima ultrapassado na raça e na capacidade artística de Di María, mesmo que no limite das suas forças. Depois de um início receoso e consequente golo sofrido que não prometia nada de bom, Pavlidis aproveitou um erro para empatar quando já decorria a segunda parte e a urgência crescia. Mais tarde e novamente em desvantagem, foi à boleia de dois cruzamentos perfeitos que os substitutos Arthur Cabral e depois Amdouni seguiram, carimbando a valiosa vitória. Três avançados a marcar é uma bênção para qualquer equipa. Sucesso com reviravolta é sempre dramático e desgastante, mas sem dúvida ganha um sabor mais apurado.
Tomás Araújo destacou-se muito em ambos os jogos. Afinal, nada de novo. Defende cometendo poucas faltas (nenhuma cometida em Arouca!) e descobre com o seu passe longo os colegas mais próximos da baliza. Parece fácil. Araújo afirma-se nesta fase como dos mais indiscutíveis da equipa. Talvez seja apressado dizê-lo, mas olhando às qualidades que possui, é difícil lembrar alguém parecido na história do nosso futebol. Eficiente e correto. Longe vai a repressão a que os pobres avançados estavam sujeitos no meu passado... Hoje, a agressividade dos centrais é controlada, a bem do espetáculo e das canelas adversárias.
Chegado, então, o fim deste ciclo, objetivos estão cumpridos com distinção numa escalada intensa de complicados obstáculos.
Agora está, finalmente, em curso a primeira semana normal de trabalho desde a chegada de Bruno Lage ao Benfica. Uma raridade para aproveitar!
NOVO TRIO
Nota prévia: sou fã de Ruben Amorim, tal como a grande maioria dos adeptos portugueses. Curiosamente, a única assinatura de contrato em que estive com Rui Costa, então diretor desportivo, aconteceu quando se mudou do Belenenses para o Benfica. Muito, entretanto, se passou e o que mudou está bem à vista.
Na atualidade, acompanhando com expetativa o seu trajeto, confesso que me confundi com um par de substituições feitas na estreia europeia na sua nova casa.
Contra um adversário pouco ilustre (Bodo/Glimt...), mas que tem feito obra, o trio de habituais defesas escolhidos por Amorim passou, inicialmente, por um lateral adaptado (Mazraoui) e dois centrais frequentemente utilizados (De Ligt e Lisandro). Até aqui tudo bem. Mas depois, com o resultado ainda perigosamente em aberto, as opções passaram por manter o lateral adaptado, acrescentando mais duas adaptações: um médio experiente, mas que já teve melhores dias (Casemiro), e mais um lateral há pouco regressado de lesão (Luke Shaw), retirando os únicos centrais em campo...
Numa exigente Liga Europa, imagino o que terão pensado os próprios substitutos chamados ao jogo: 'Vou jogar onde? No lugar de quem?' A verdade é que o Manchester United, mesmo com dificuldade, venceu, até com o recorde mundial de três centrais adaptados de uma só vez a ser batido. E o que terá pairado no ar de estranho para alguns observadores, acabou por durar pouco. A força da vitória imediata sobre o Everton reafirmou a necessária confiança.
Afinal, são os primeiros e diferentes passos numa nova casa de um líder especial sobre quem recaem enormes expetativas. Força, Amorim!
A UNHA
Insólito o episódio mostrado ao mundo por Pep Guardiola, no final do último jogo europeu do Manchester City. O treinador, referência para muitos adeptos e treinadores, despido de qualquer capa, vulnerável como muitos. Evidente frustração pelo empate sofrido depois de uma vantagem de três golos, traduzida em ferimentos na face provocados pelo próprio (!). Guardiola é dos treinadores de maior êxito desportivo da história.
Sucesso desportivo ímpar e da estabilidade económica nem falar, que é aquilo que todos os simples mortais ambicionam. Da unha afiada, Guardiola passou por um despropositado tom de humor, mas corrigiu com um alerta público sobre o problema da automutilação. Esclarecer e admitir uma fraqueza ou patologia faz parte da nobreza e humildade humana. Este episódio foi assustador, mas real.
ARTUR JORGE
Num país onde ser treinador de futebol já é especialmente difícil, mais complicado se torna quando o mister chega de um país pequeno e íntimo parceiro histórico do gigante anfitrião. Mais uma conquista retumbante de um dos nossos treinadores na Taça dos Libertadores da América, no caso Artur Jorge no Botafogo, competição rainha da América do Sul. Já é o terceiro... Parabéns!