Benfica: na fraqueza a força
Roger Schmidt e Rúben Amorim cumprimentam-se no Estádio da Luz, no dérbi da segunda mão da meia-final da Taça de Portugal. Foto: Miguel Nunes

Benfica: na fraqueza a força

OPINIÃO04.04.202410:45

No Benfica há quem deseje vitórias morais como a peste, mas o jogo com o Sporting reforçará, indiscutivelmente, a confiança

O Benfica recuperou a energia e alma do início da época passada, pressionou com inteligência e coragem como há muito não se via, recuperou bolas no meio-campo do Sporting e fê-las chegar com rapidez à área adversária para finalizar, teve músculo e pulmão de quem não está a caminhar para o fim da temporada, criou sensação de alarme nos jogadores da equipa de Rúben Amorim e obrigou-os a decidir sem tempo de pensar, criou situações, condições e espaço favoráveis, através do envolvimento dos laterais e da gestão de jogo de João Neves, para Di María ou David Neres, junto à área de Israel, fazerem diferença, soube reagir, salvo algumas exceções, aos perigos dos contra-ataques rápidos, diminuindo as situações em que os leões conduziram a bola de frente para Trubin, cortando o mal à nascença, cortando linhas de passe, marcando sem contemplações o homem que poderia receber a bola.

E fê-lo, seguramente, consciente de uma das maiores fraquezas: a falta de ideias, ou pelo menos a dificuldade em executá-las, quando tem a bola e encontra um adversário bem organizado pela frente. Aquilo que pomposamente poderemos chamar agora de ataque posicional ou, usando expressão que se vai perdendo, fio de jogo.

Os jogadores do Benfica nunca tiveram problemas, ou tiveram mesmo ordens, para despachar a bola para longe, para o meio-campo do Sporting, ao menor sinal ou ameaça de desconforto, como provam os oito passes longos (e só um certo) de Trubin. Era, depois, quando o Sporting a recuperava que o Benfica tentava enfraquecer o adversário por asfixia.

Abdicou Roger Schmidt de tentar controlar o jogo com a bola, apesar de no final a posse estar bem dividida (49 contra 51 por cento), para depois, como se disse, a tentar recuperar depressa e chegar com rapidez à baliza.

Essas circunstâncias levaram o Sporting a viver sem a convicção da segurança e a baixar as linhas. E o Benfica, para lá da boa execução da estratégia, sentiu-se, na prática dos lances e emocionalmente, por cima no jogo.

A exibição e o resultado poderão não representar vitória moral, ninguém a estima, no Benfica há até quem a deseje como peste, mas proporcionará, indiscutivelmente, um reforço de confiança.

E mesmo que o desfecho tenha desagradado adeptos e jogadores o conteúdo do jogo poderá contribuir para uma reconciliação. Desde logo e sempre se os bons sinais forem confirmados, no próximo dérbi, com um triunfo em Alvalade. Se isso não acontecer de nada valerá.

Rúben Amorim já estará, agora, mais salvaguardado para a estratégia de Roger Schmidt. E não é certo, também, que o Benfica tenha capacidade de pô-la em prática em Alvalade como aconteceu na Luz.

O Sporting é, realmente, equipa mais bem trabalhada. E o Benfica demorou demasiado tempo para chegar a uma exibição que proporcionou apenas um empate. Menos certo é, ainda, que tenha capacidade de repeti-la e melhorá-la. Porque teria de ganhar mais força noutras fraquezas.