No Benfica há quem deseje vitórias morais como a peste, mas o jogo com o Sporting reforçará, indiscutivelmente, a confiança
O Benfica recuperou a energia e alma do início da época passada, pressionou com inteligência e coragem como há muito não se via, recuperou bolas no meio-campo do Sporting e fê-las chegar com rapidez à área adversária para finalizar, teve músculo e pulmão de quem não está a caminhar para o fim da temporada, criou sensação de alarme nos jogadores da equipa de Rúben Amorim e obrigou-os a decidir sem tempo de pensar, criou situações, condições e espaço favoráveis, através do envolvimento dos laterais e da gestão de jogo de João Neves, para Di María ou David Neres, junto à área de Israel, fazerem diferença, soube reagir, salvo algumas exceções, aos perigos dos contra-ataques rápidos, diminuindo as situações em que os leões conduziram a bola de frente para Trubin, cortando o mal à nascença, cortando linhas de passe, marcando sem contemplações o homem que poderia receber a bola.
E fê-lo, seguramente, consciente de uma das maiores fraquezas: a falta de ideias, ou pelo menos a dificuldade em executá-las, quando tem a bola e encontra um adversário bem organizado pela frente. Aquilo que pomposamente poderemos chamar agora de ataque posicional ou, usando expressão que se vai perdendo, fio de jogo.
Foi alma e coração mas também músculo e execução; exibição pode muito bem ser um manual de boas práticas de um médio; voltou Bah da época passada, Neres teve sempre um trunfo na manga, Aursnes sempre prego a fundo
Os jogadores do Benfica nunca tiveram problemas, ou tiveram mesmo ordens, para despachar a bola para longe, para o meio-campo do Sporting, ao menor sinal ou ameaça de desconforto, como provam os oito passes longos (e só um certo) de Trubin. Era, depois, quando o Sporting a recuperava que o Benfica tentava enfraquecer o adversário por asfixia.
Abdicou Roger Schmidt de tentar controlar o jogo com a bola, apesar de no final a posse estar bem dividida (49 contra 51 por cento), para depois, como se disse, a tentar recuperar depressa e chegar com rapidez à baliza.
Essas circunstâncias levaram o Sporting a viver sem a convicção da segurança e a baixar as linhas. E o Benfica, para lá da boa execução da estratégia, sentiu-se, na prática dos lances e emocionalmente, por cima no jogo.
A exibição e o resultado poderão não representar vitória moral, ninguém a estima, no Benfica há até quem a deseje como peste, mas proporcionará, indiscutivelmente, um reforço de confiança.
E mesmo que o desfecho tenha desagradado adeptos e jogadores o conteúdo do jogo poderá contribuir para uma reconciliação. Desde logo e sempre se os bons sinais forem confirmados, no próximo dérbi, com um triunfo em Alvalade. Se isso não acontecer de nada valerá.
Rúben Amorim já estará, agora, mais salvaguardado para a estratégia de Roger Schmidt. E não é certo, também, que o Benfica tenha capacidade de pô-la em prática em Alvalade como aconteceu na Luz.
O Sporting é, realmente, equipa mais bem trabalhada. E o Benfica demorou demasiado tempo para chegar a uma exibição que proporcionou apenas um empate. Menos certo é, ainda, que tenha capacidade de repeti-la e melhorá-la. Porque teria de ganhar mais força noutras fraquezas.