Luís Filipe Vieira e a fina ironia
Antigo presidente do Benfica preparou um ataque como nunca
Luís Filipe Vieira não ganhou com a entrevista que concedeu à CMTV. Nem sei se o antigo presidente do Benfica queria ganhar, para ser sincero. Sei, isso sim, que queria que algumas pessoas perdessem. Isso Vieira conseguiu.
LFV sempre foi um dirigente com contradições. A sua entrevista, nesse aspeto, não foi novidade. Mas teve momentos diferentes, surpreendentes até. Desde logo, a preparação. Vieira ‘sabia’ o que lhe iam perguntar. E até uma cábula levou. Parece pormenor supérfluo perante tudo o que o antigo líder disse. Mas não é. Porque desde logo denota a intencionalidade do ataque.
Surpreendente, também, o momento em que disse que no Benfica «só querem gente do PSD». Vieira, preparado, não disse coisas à toa, mas queria chegar onde com tal afirmação?
Ao mesmo tempo que quis magoar Rui Costa – e Nuno Costa de forma muito clara – Vieira quis ainda mostrar o seu lado de «salvador da pátria», em mais uma aparição de Messias.
É verdade que LFV fez obra no Benfica. A transformação do clube e SAD desde a sua entrada é inegável. O Benfica pensou e executou vários projetos com Vieira. Mas achar que só ele saberá negociar um contrato de direitos televisivos é por demais egocêntrico. Aliás, até diz muito do que foi a gestão de LFV no Benfica. Com tanta gente a transitar do seu tempo para agora, Vieira não «ensinou» ninguém? A conversa de sucessão e do sucessor teve alguma ação interna? Percebemos que não. Pois Vieira nunca teve a intenção de ter de abdicar de nada, apenas foi gerindo situações consoante o rumo das coisas, aproximando e afastando pessoas, elogiando ou criticando conforme lhe convinha, Rui Costa incluído.
Não percebi uma coisa, confesso. Se Vieira ainda tem influência suficiente para «colocar» Stock da Cunha na SAD – Nuno Catarino vem da McKinsey com quem o Benfica já trabalhara no passado - ou se disse que Rui Costa acertou nas escolhas.
Vieira, insisto, não ganhou nada até porque facilmente se recuperam vídeos e declarações em que o antigo presidente criticou quem fez o que ele acabara de fazer.
Vieira disse que não venderia João Neves. Quando o seu currículo nesta matéria nos indica o contrário. Vieira também gosta de usar o argumento de Rúben Amorim quando, na realidade, foi o único presidente do Benfica que teve oportunidade de o contratar como treinador.
Vieira não ganhou com a entrevista, mas fez Rui Costa perder pela natureza do ataque. O momento é político e da Luz não há reação. Não se antecipou o ataque e, depois deste, talvez ninguém estivesse preparado para o que se ouviu. Pode ser também que o terramoto seja tão grande que os alicerces da Luz ainda estão a abanar, sem esquecer que Rui Costa vai ter de estar na tribuna presidencial já hoje, perante o universo encarnado.
Houve reação, porém, vinda do Seixal. Numa «fina ironia» de Lage, a lembrar a Vieira que agora já o acha um bom treinador. Disse mais o técnico. «Temos de estar todos juntos, até dito por ele.» Fina ironia, pois claro…