Paulo Bento utilizou e muito bem o termo há uns anos, quando falou de uma minoria ruidosa
O Benfica precisa de paz e não a tem.
Os encarnados entraram para o último jogo da época com o sabor de que pelo menos podiam ter tido a hipótese de jogar dois mais em maio e de que a Supertaça foi pouco para quem tinha sido campeão em 2022/23.
De objetivos falhados está o desporto cheio e os maiores campeões da História também. Falhar faz parte do processo, o modo é que tem relevância. O problema do Benfica não foi apenas aquele. O do resultado e exibição desportiva. Foi para além do relvado, passou da bancada para o banco e acabou na tribuna.
Treinador do Benfica reforçou a sua posição em relação à derrota com o FC Porto, tendo em vista a partida da primeira mão dos oitavos de final da Liga Europa. Técnico também afirma «não estar satisfeito» com a época até ao momento
A insatisfação pelo que se passava em campo foi em crescendo e, dir-se-ia, até de forma natural, naquilo que é o comportamento do seguidor apaixonado, mas escalou de forma repentina, não só porque Schmidt falou diretamente para esses adeptos, mas porque há minorias ruidosas – Paulo Bento utilizou e muito bem este termo há uns anos – que parece que têm mais importância do que, de facto, têm.
Há uns anos, Paulo Bento dizia: «Enquanto deixarem que seis mil sejam mais importantes do que 60 mil, o Sporting vai ter problemas… e teve.»
No último jogo na Luz, na semana passada, quando uma minoria ruidosa se manifestou, quem estava em silêncio revoltou-se, desunindo-se desse protesto e mostrando que na bancada há uma divisão. Pelo menos, na forma.
Frederico Varandas, por exemplo, teve a coragem de lidar com o assunto, Pinto da Costa optou pelo caminho contrário, agarrou-se a uma minoria de quem outros adeptos estavam fartos e acabou por perder como perdeu. Para as manifestações violentas só há um caminho.
No banco, Roger Schmidt podia ter apaziguado as coisas com o discurso e frases de circunstância, mas preferiu ser honesto com o seu caráter. Há quem ache que fora um desrespeito, outros que era questão de nacionalidade – como se não houvesse portugueses que pensem o mesmo, que adeptos que se comportam como aqueles de Faro ou alguns ontem em Vila do Conde devam ficar em casa.
Depois do Dragão, Schmidt não pediu desculpa, mas explicou-o na conferência de imprensa seguinte, quando disse que isso não serve para nada e que para fazer os adeptos felizes ter-se-ia de reagir em campo e vencer. Não me parece que o principal problema de Schmidt tivessem sido as palavras, mas sim algum do trabalho técnico: das estratégias aplicadas, ou não, perante adversários, à gestão de jogadores. Problema haverá se Schmidt, numa lógica de evolução como treinador, não os percebeu.
Toda esta conjuntura colocou em dúvida a ligação do técnico e o foco passou para o que faria a tribuna. A estratégia podia passar por ganhar tempo, ter algum sossego com o final da época, e pensar em 2024/25. Mas suspeitas noticiadas de uma outra gestão declararam que na Luz não há direito à paz e que o sossego sonhado para ganhar entusiasmo acabou assombrado por um fantasma do passado e por uma mão de Florentino.