BOLA DO DIA Avanços e recuos no Dragão
Vítor Bruno precisa de encontrar o equilíbrio entre boas ideias do início de época e novas soluções para problemas graves do FC Porto. Felizmente para ele, terá tempo para trabalhar isso
Podia ter sido pior, mas também podia ter sido bem melhor. É verdade que o FC Porto evitou quarta derrota consecutiva, o que igualaria a pior sequência da sua história (1964/65), mas o empate também não afasta muitas nuvens cinzentas por cima da cabeça do treinador.
Vítor Bruno sabe que está a caminhar no arame e, para evitar que a queda seja grande, precisa encontrar o equilíbrio entre a necessidade de recuperar dinâmicas positivas do início da época, por um lado, e a urgência de encontrar novas soluções para problemas persistentes da equipa, por outro.
No reduto do Anderlecht, onde finalmente o FC Porto conseguiu marcar golos e evitar uma derrota, o técnico azul e branco ajustou a equipa num 4x3x3 mais declarado, que promove o trio Varela-Eustáquio-Nico em simultâneo, e que até pode servir Fábio Vieira — seja bem aparecido! —, mas que levanta dúvidas quanto ao apoio a Samu. É verdade que um jogo apenas é amostra curta para análise, mas o perfil de Galeno, que até foi o melhor em campo na Bélgica, pode não ser propriamente beneficiado, e por mais que Pepê tenha a capacidade de jogar por dentro o ponta de lança espanhol arrisca uma certa solidão. Se tivermos em conta que Samu tem apenas um golo marcado nos últimos seis jogos, percebemos que o problema não é novo, e não será propriamente por culpa do internacional espanhol. Os erros defensivos justificam muito na crise portista, mas não dizem tudo. É preciso olhar também para a produção ofensiva, e perceber aquilo que se foi perdendo. O que é feito daquela dinâmica interessante de construção a três, puxando Francisco Moura para junto dos centrais, com Galeno aberto à esquerda e o lateral direito projetado do outro lado, com muita gente a criar linhas de passe por dentro? E a facilidade com que a equipa conseguia compensar depois para que o lateral-esquerdo também subisse? Menos gente na frente e menor influência dos laterais, a prejudicar a forma como Samu é alimentado.
Os avanços e recuos são normais, dada a situação, mas Vítor Bruno não pode permitir que a pressão abane constantemente a sua ideia. Felizmente para ele, há espaço e tempo para trabalhar. Assim garantiu o presidente André Villas-Boas, que não foi propriamente fiel às suas palavras quando apareceu à porta da garagem do Dragão conversar com um grupo de adeptos, e não quererá agora renunciar à coerência com o treinador.