As perguntas que faltaram às respostas de Rui Costa
Presidente do Benfica foi ao canal do clube cumprir uma rotina e não dar uma entrevista, algo que nunca esteve em cima da mesa. Será que deixou realmente adeptos e sócios esclarecidos?
Rui Costa cumpriu na TV a rotina de explicar o mercado de transferências do Benfica. Teve ainda menos de entrevista, ou seja, contraditório (sim, era possível) do que as visitas anteriores ao estúdio do canal do clube. Não houve perguntas e sim alíneas, como se preenchesse um relatório. A culpa não é do jornalista, acreditem. São as regras do jogo e resultaram num bizarro espetáculo televisivo.
Depois de já ter eu próprio conduzido algumas entrevistas, garanto-vos que estas são eficazes quando se cria uma dinâmica entre entrevistador e entrevistado e sobretudo quando é o último que guia, com deixas até por vezes inconscientes, para onde a conversa deve prosseguir, exista ou não um guião. Rui Costa sabia o que tinha de dizer, porque os temas eram óbvios e o entrevistador deixaria sempre a resposta anterior morrer, aceitando-a como definitiva. Muitas vezes nem sequer havia questão, era apenas um… «Marcos Leonardo…»
Não sei se os sócios ou adeptos ficaram ou não esclarecidos, mas a imagem que fica para mim é a do líder dos encarnados a querer mostrar que sabe nadar, mas à beira da costa, sem ondas e com boias à volta dos braços e da cintura.
Várias perguntas ficaram por fazer. «Por que razão o clube precisa de continuar a vender e um jogador já não chega, mesmo com presença na Liga dos Campeões?» Seria uma delas. Outra: «o que diferencia um Morato suplente ficar, mesmo depois de uma boa proposta, de um Marcos Leonardo não titular, preparado para as duas posições requeridas, vendido à primeira boa oferta?» Não teria potencial de valorização superior por estar há meses na Europa e a saída obrigar a aposta num emprestado, dois anos mais velho, e que no melhor cenário obrigará a um investimento de 22 milhões, somada a taxa de cedência, e no pior levará a novo raide no mercado? Era ou não aposta de futuro, nome que poderia valer bem mais ao clube mais à frente, se fosse criado espaço em que vingasse? E João Neves? Sem dúvida bom negócio perante o contexto, mas porquê a impaciência? Um clube sustentado, como Rui Costa quer fazer parecer, não se pode permitir segurar o seu Gyokeres, ou Gyorkerzinho, para vendê-lo depois em alta? Ou até se «a estrutura percebeu que as decisões que foi tomando com Otamendi e Di María levaram às saídas de Morato e de Neres, que o dirigente vendeu como alguém agarrado a apenas uma posição em campo e com rendimento que não lhe garantia a titularidade?» Exemplos. Apenas exemplos.
O líder das águias veio a público dizer que, afinal, está tudo bem. Que é possível confiar numa estrutura que tem perdido massa crítica e acumulado decisões duvidosas. Já que falamos em perguntas por fazer deixo esta: a alegada entrevista dissipou as vossas dúvidas?