As moscas mudam mas...
Há quem me critique por defender o voto em papel exclusivamente para efeitos eleitorais
Brito Camacho vai-me perdoar pela apropriação da sua célebre frase para título. É que, enquanto alguns mais ingénuos pensavam que a campanha eleitoral para o FC Porto seria praticada com elevação, eis que temos desfrutado, para gáudio do público, de uma infeliz realidade que era expetável.
No mínimo, apela-se a todos os envolvidos nas eleições de abril para que não ocorram atos de violência (conforme sucedido na última reunião magna do clube) ou de dúvidas na contagem dos votos à imagem de março de 2011 no Sporting Clube de Portugal (vitória de Godinho Lopes com 36,55% acima dos 36,15% de Bruno de Carvalho) ou em outubro de 2020 no Sport Lisboa e Benfica (reeleição de Luís Filipe Vieira com 62,59% acima dos 34,71% de João Noronha Lopes).
Há quem me critique por defender o voto em papel exclusivamente para efeitos eleitorais numa era tecnológica. Mas eu não me importo de explicar a base do meu raciocínio as vezes que forem necessárias: quem confia num sistema eletrónico ou informático patrocinado e necessariamente custeado pela própria direção em funções nos clubes à altura das eleições?
Quem hoje não receia a facilidade com que se pratica o crime de burla informática e nas comunicações prevista no artigo 221.º do Código Penal com o fito de fazer perpetuar no poder quem a este tem acesso direto e tendo em conta que este mesmo crime é maioritariamente praticado por indivíduos cujo rasto é difícil, senão impossível, de identificar?
Conseguimos garantir (e qual a despesa?) o necessário acompanhamento, intervenção, análise e controlo do processo eleitoral pela única entidade capaz (Comissão Nacional de Proteção de Dados - CNPD) de proteger os direitos dos sócios (cidadãos) votantes?
Ora, com o aproximar do mês de Abril, confirmaremos se os sócios pretendem apostar na continuidade ou se querem ver alguém a meter pausa no tipo de gestão que tem vindo a ser praticado na SAD do FC Porto.
Mais do que promessas eleitorais sobre a aposta em modalidades que o clube claramente nunca teve interesse, há tópicos essenciais em cima da mesa que ditarão o sentido de voto para muitos dos eleitores. Se já se sabe que o presidente atual é um promotor de Pedro Proença, qual é a posição de Villas-Boas relativamente aos nomes apontados à Federação Portuguesa de Futebol e à Liga de Clubes?
No âmbito da centralização dos direitos televisivos, qual a posição do ex-treinador relativamente a todas as propostas apresentadas à Liga pela Quadrantis, CVC-Fortitude e BCG-Nomura?
Em concreto, entende existir conflito de interesses em relação à Quadrantis por ter à sua frente João Rafael Koehler, membro da lista de Pinto da Costa?
Defende a proposta deste fundo para injeção de 500 milhões de euros a troco de 20% da Liga Centralização num modelo de partilha de receitas para reforçar as finanças das SAD’s e investimento nas infraestruturas para atrair mais adeptos (clientes, no meu ponto de vista) aos estádios?
Não há dúvidas que Villas-Boas está preocupado com as contas, dinheiros e finanças da SAD. Mas não é tempo de dar a entender aos seus consócios, em particular em quem quer votar nele, qual a sua visão sobre o futuro prestes a chegar desta receita essencial ao grupo de empresas que pretende assumir?
Mais que o local onde deve ser construída uma futura academia, é essencial perceber se há dinheiro, quanto e até quando. Pode ser que se dê o caso de ter que apostar e canalizar no imediato verbas para efeitos desportivos para, mais tarde, investir em infraestruturas.
A UEFA paga depressa, a tempo e a horas. Melhor ainda se existir apoio político ou perdões de dívida por parte da banca. Tal foi a preocupação e carinho com que ouvi Villas-Boas falar no último mês sobre Pinto da Costa e as más companhias em torno deste que ainda considerei que o ex-treinador tivesse na manga uma estratégia quase infalível e que lhe seria extremamente útil: um processo de maior acompanhado ou de interdição para que jorge nuno seja impedido, à face da lei, de poder vir a exercer e governar os seus próprios bens e a sua pessoa.
Mas o amor que ambos nutrem pelo mesmo clube não é idêntico. Um candidato que se preze, ao considerar que o seu clube está a definhar perante uma gestão danosa ou calamitosa, age e faz de tudo.