André Villas-Boas, minas e armadilhas
André Villas-Boas e o CFO Pereira da Costa

André Villas-Boas, minas e armadilhas

OPINIÃO29.08.202409:00

O presidente do FC Porto tem optado por ser politicamente correto, quando confrontado com a areia que lhe tentam atirar para a engrenagem...

Imagine-se que há um ano, ou há dois, ou há três, ou há quatro, ou há cinco, ou há 10, ou há 15, ou há 20, ou há 25, ou há 30, ou há 35, ou há 40, ou há 41, ou há 42, alguém que tivesse feito parte da estrutura do FC Porto, ocupando lugar de responsabilidade, viesse a público, a pouco tempo de um clássico, tentar fragilizar a posição do atual treinador, tecer, ao mesmo tempo, loas ao anterior responsável técnico, e ainda criticar, implícita ou explicitamente, decisões da administração em exercício, sem deixar de zurzir comportamentos de elementos que transitaram da estrutura anterior para a vigente. O que seria dito, pela nomenclatura e pelos ‘apparatchiks’, de quem tivesse esse comportamento? Anti-portista? Traidor? Ressabiado? E que tratamento receberia, de imediato? No mínimo, seria proscrito, e deixaria de ser aconselhável frequentar as Antas ou o Dragão. Pois bem, aquilo que tem acontecido no universo portista nos últimos dias, após quatro vitórias, três para a Liga e uma outra, épica, na Supertaça, frente ao campeão nacional, e quando os dragões preparam a visita a Alvalade, entra no rol das improbabilidades que o deixaram de ser.

André Villas-Boas

Perante este quadro, ninguém terá dúvidas de que a administração de André Villas-Boas está a adotar um política de «olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço», ou seja, tem sido absolutamente intransigente quanto ao rumo que decidiu seguir, mesmo que isso implique fazer tábua rasa do passado recente, ao mesmo tempo que vai adotando um discurso de veludo, pleno de uma unidade de matriz politicamente correta, que serve, sobretudo, para desativar as minas e armadilhas que lhe vão sendo postas no caminho, não respondendo, pela desvalorização, às provocações que existem, e não partem, sublinhe-se, de outros emblemas.

Vítor Bruno e a sua equipa técnica com a Supertaça Cândido de Oliveira (IMAGO

Ninguém terá dúvidas de que o jogo de Alvalade, contra um Sporting que tem crescido muito, e se sente como um leão ferido no orgulho pela ‘remontada’ de Aveiro, é de extrema dificuldade para o FC Porto, obrigado a uma tremenda ginástica para se manter competitivo apesar da pesada herança recebida da gestão anterior. Trata-se, até, apesar de estarmos apenas na quarta jornada, de um dos momentos, do ponto de vista psicológico, que podem a vir revelar-se importantes para o decorrer da época, daí que seja no mínimo curioso que este ‘timing’ crítico tenha sido escolhido para tentar deitar alguma areia numa engrenagem que, graças a uma organização exemplar, tem funcionado bem. É caso para se dizer que, com amigos destes, quem precisa de inimigos?