Amorim, Conceição e o comboio
'Hat trick' é o espaço de opinião semanal do jornalista Paulo Cunha
1Rúben Amorim (RA) vai despedir-se do Sporting a 10 de novembro de 2024, na Pedreira, frente ao SC Braga, Sérgio Conceição (SC) disse adeus ao FC Porto a 26 de maio de 2024, no Estádio Nacional, tarde de festa garantida a Taça de Portugal em final diante dos leões comandados pelo futuro treinador do Manchester United. Nesse dia terminava uma rivalidade iniciada em março de 2020, quando RA trocou os arsenalistas pelos verdes e brancos, trajeto marcado por aqueles momentos de tensão próprios de quem luta pelos mesmos objetivos.
Na apresentação, em maio de 2017, SC proferiu declaração — «Não vim aqui para aprender, vim para ensinar» — que ficaria na memória, à semelhança de RA na hora de colocar questão — «As pessoas perguntam: 'E se corre mal?' E eu pergunto: 'E se corre bem?'» — que se manteve sempre presente desde a chegada a Alvalade.
Ambos os técnicos iniciaram funções em contextos complicados, SC a conviver com jejum de troféus de quatro anos, nada habitual no reinado de Pinto da Costa, então já sem a popularidade de outros tempos, e RA a ser a última boia de salvação de Frederico Varandas, após apostas falhadas em Marcel Keizer, Leonel Pontes e Jorge Silas, enquanto o Sporting atingia de novo o triste marco de 18 anos sem celebrar o campeonato.
À míngua de conquistas em campo, SC e RA partilhavam igualmente uma enorme escassez de recursos financeiros para comporem os plantéis, cofres vazios que condicionaram o trabalho, sobretudo nas primeiras épocas, mas que no futuro ajudariam a encher com a valorização de jogadores e presenças na Liga dos Campeões.
Em sete temporadas, SC enriqueceu o museu dos azuis e brancos com 11 títulos (3 Ligas, 4 Taças de Portugal, 3 Supertaças e 1 Taça da Liga), já RA, em quatro épocas completas mais o fim de uma e o início de outra, acrescentou cinco ao currículo dos verdes e brancos (2 Ligas, 1 Supertaça e 2 Taças da Liga).
Com a renovação a dois dias das eleições, depois de ter prometido que não se envolveria na disputa eleitoral entre Pinto da Costa e André Villas-Boas, SC saiu do FC Porto sob polémica agravada pela forma como foi substituído por Vítor Bruno sem que nunca se pronunciasse de viva voz sobre o tema. Sem nada a apontar do ponto de vista legal, graças a cláusula no contrato que lhe permitia sair em qualquer altura, RA deixou o Sporting por uma porta mais apertada do que a qualidade do trabalho realizado justificava.
Se SC faltou à palavra dada aos adeptos portistas, julgo que RA não conseguirá escapar às críticas de alguma deslealdade/ingratidão por todas as juras públicas de amor que iludiram a massa adepta leonina que sonha com novo bicampeonato 70 anos depois. E por esclarecer está ainda a noticiada desilusão provocada no balneário, caso, no começo da época, tenha dito aos jogadores que onde ia um, iam todos, e agora só foi ele… Mas quem poderia resistir ao ultimato — é agora ou nunca — do Manchester United?
Certo é que RA é hoje o homem do leme dos red devils e SC continua no desemprego à espera que passe o comboio com o tal destino irrecusável que parou na estação do compatriota. Percursos e enquadramentos semelhantes de ambos em dois grandes clubes portugueses, o ex-dragão até apresenta melhores resultados no confronto direto e na Champions, mas um vai para Old Trafford e o outro mantém-se em casa. Porquê? Uma boa reflexão para SC quando se voltar a sentar (e levantar...) no banco.
2No último relatório e contas da administração de Pinto da Costa, referente a 2023/24, o FC Porto apresentou um resultado líquido negativo de 21 milhões de euros. Mais importante que analisar os números é esperar pelas conclusões da auditoria forense que está a decorrer. Isso, sim, poderá dar para escrever um best seller.
3Cada golo de Gyokeres é uma alegria para os sportinguistas no imediato e uma preocupação adiada para o futuro, seja em janeiro ou no mercado de verão. O goleador sueco já come à mesma mesa de Jardel, Liedson, Falcao, Jonas, Jackson… Um fenómeno!