Ambições e Irritações
Não sou diferente da maioria dos benfiquistas, que, creio, sonham com o regresso de Bernardo Silva. Só peço uma coisa a todos os envolvidos: acordem-me quando o sonho for concretizável
Falsas partidas e recomeços
Estamos à porta de dezembro e eu só tenho duas certezas: a primeira é que ainda não vi o Benfica atingir o nível exibicional que sinto que nos é devido; a segunda certeza é que ainda não desisti de acreditar que esse futebol pode voltar. Talvez um mercado de janeiro invulgarmente bem conseguido, ou quem sabe uma compressão do espaço e do tempo possa produzir um acontecimento singular na história recente do Benfica, que é o de um treinador do clube ter duas vidas no período de vigência do seu contrato de trabalho - geralmente vão-se abaixo uma vez e acabam despedidos, o que é também difícil de censurar num clube cuja identidade é definida antes de mais pela capacidade de vencer.
Depois de termos ultrapassado o Sporting de forma épica e eliminado um muito bem organizado Famalicão, há mais uma sensação de recomeço no ar. Sinto que já aqui estive esta época, e que esta espécie de ânsia tem algo de irónico quando constatamos que o Benfica segue em primeiro lugar na principal competição que disputa, mas o facto é que precisamos de ser mais convincentes. Os próximos dias e semanas têm todos os ingredientes para isso: dois jogos na Liga dos Campeões que podem devolver alguma dignidade na competição, e um calendário daqui até ao Natal que pode afirmar ou reforçar a liderança da liga. Quem sabe Roger Schmidt não tem uma surpresa preparada para o que falta desta época?
Quem não seria feliz a celebrar uma Liga Europa que atire a primeira pedra
NUM mundo repleto de maus políticos e de aprendizes, é sempre bom quando alguém responde sem rodeios a uma pergunta que dispensa rotundas. Rui Costa não hesitou nas palavras quando lhe perguntaram pelo desempenho na Europa: um falhanço. A palavra escolhida pelo presidente do Benfica é usada poucas vezes no clube, felizmente, mas é bom que um dos principais responsáveis pelo que de bom e mau venha a acontecer esta época evite esconder-se em desculpas que seriam mais confortáveis. Podia ter optado por lamentar o bom momento de forma dos adversários, podia ter vociferado contra as arbitragens, podia ter dito muitas coisas para evitar chamar a esta fase de grupos aquilo que foi. Não o fez e por isso tem a minha simpatia. Acho que é importante e salutar que Rui Costa utilize o capital de confiança de que dispõe, não para mistificar, mas para falar com sinceridade aos adeptos.
Talvez um dia mais tarde tenhamos que debater os motivos que tornaram esta Liga dos Campeões uma prestação inversamente proporcional à da época passada, vulgo desastre, mas não me parece que isso deva acontecer na semana em que se discute uma vaga na Liga Europa. Podia ser melhor? Todos sabemos que sim, mas encontrem-me um Benfiquista que diga que não celebraria uma Liga Europa no museu do clube e eu próprio pedirei satisfações a essa pessoa. Aplica-se aqui a máxima que deve guiar o Benfica: seja quando for e onde for, todos têm que aparecer para trabalhar e deixar tudo em campo. Enquanto houver um troféu para conquistar ou três pontos para vencer, não há mais nada para discutir.
O toca e foge de Bernardo Silva
Receio vir a ser mal recebido, mas já me cansa um bocadinho ver um jogador que tanto gosto de ver jogar, e que geralmente tem coisas interessantes para dizer sobre a modalidade, brincar a esta espécie de toca e foge com o Benfica.
Tenho a certeza que Bernardo Silva não o faz por mal, mas de cada vez que o ouço dizer que gostava de um dia regressar ao Benfica pergunto se fez tudo para que isso acontecesse nos últimos anos. A resposta é, evidentemente, não. Nem tinha que o fazer. Compreendo que o tempo de um futebolista não é igual ao de muitas outras profissões, e aceito sem problema que alguém opte por maximizar a sua prosperidade e garantir a segurança financeira das gerações seguintes. Mas, se assim for, não será melhor deixar os perpétuos regressos de um filho pródigo para quando forem uma possibilidade concreta e iminente? Não sou diferente da maioria dos benfiquistas, que, creio, sonham com o regresso de Bernardo Silva ao Benfica. Só peço uma coisa a todos os envolvidos: acordem-me quando o sonho for concretizável.
O leilão de João Neves
Manchester United prepara-se para decidir se quer fazer uma proposta. Real Madrid terá acompanhado o parto e observou todos os jogos do atleta desde os infantis, mas ainda não está preparado para bater a cláusula de rescisão. Bayern Munique estuda a possibilidade de enviar um segundo observador para acompanhar o primeiro observador, que já terá adquirido um T1 no Alto dos Moinhos por forma a facilitar o acompanhamento mais próximo do jogador. Jorge Mendes não sei quê. Fulano que joga com João Neves na seleção diz que já meteu uma cunha, sicrano que joga FIFA online com João Neves diz que o atleta poderia ter optado por uma carreira em e-sports. Fabrizio Romano afirma que a tia de um fulano que uma vez esteve com o João Neves numa festa de aniversário no Kidzania, quando ambos ainda queriam ser camionistas, garante que o jogador não vai sair antes do final da época, salvo se alguém bater a cláusula de rescisão, e parece haver quem esteja disposto a bater a cláusula de rescisão, designadamente em vários países, ainda que nenhum clube esteja preparado à data de hoje para avançar com uma proposta em janeiro, preferindo eventualmente aguardar pelo final da época para formalizar uma abordagem, que poderá ser em dinheiro ou envolver jogadores.
Nota-se que estou farto dos leilões públicos dos meus futebolistas favoritos? Enquanto adeptos do maior clube português e de um dos maiores clubes do mundo, será que podemos organizar alguma espécie de boicote a todo este folclore e garantir que o miúdo é feliz no Benfica e nada mais? Ou será que preferimos patrocinar este festival de desinformação na sarjeta das redes sociais, com vendas antecipadas a cada hora? Depois admirem-se quando alguém diz que os jovens da formação têm medo de ser vendidos. Pudera, se até nós ajudamos à festa.