Selecionador Paulo Jorge Pereira dá instruções aos jogadores da seleção portuguesa de andebol, no Mundial (foto: IMAGO)
Selecionador Paulo Jorge Pereira dá instruções aos jogadores da seleção portuguesa de andebol, no Mundial (foto: IMAGO)

BOLA DO DIA Aí vão os irmãos de Quintana

OPINIÃO31.01.202509:49

Inspirada pela ligação sentimental ao malogrado guarda-redes, a Seleção de Paulo Jorge Pereira junta talento a uma crença inabalável, para fazer história no Mundial de andebol

Por norma os treinadores não gostam muito de vitórias morais, mas eu, que nunca tive esse papel — só o de futebolista amador —, não as renego por completo. No papel de jornalista, mas sobretudo de adepto, de apaixonado por desporto, sei reconhecer conquistas que valem tanto ou mais do que um troféu.

Vem isto a propósito da campanha da nossa Seleção de andebol no Mundial. Não me levem a mal, que dispenso agoiros antes da meia-final com a Dinamarca e sou incapaz de descartar novo feito dos Heróis do Mar, mesmo frente aos tricampeões do mundo e detentores do título olímpico. Pelo contrário, vejo esse triunfo difícil, mas possível, e se há vitória moral que vale a pena celebrar é a possibilidade de acreditar que é mesmo possível vencer.

Essa é a grande conquista da equipa orientada por Paulo Jorge Pereira, líder de mistura rara entre sobriedade e ambição. Quando o selecionador assumiu o cargo, em 2016, nem havia legitimidade para marcar encontro com as melhores seleções do mundo, quanto mais para derrotá-las. Portugal chegou a falhar 14 fases finais consecutivas, entre Europeus e Mundiais, e não foi assim há tanto tempo. Agora, cinco anos depois de ter quebrado esse ciclo lutuoso, a Seleção já não se limita a surpreender os portugueses, ousa espantar o mundo. A modalidade, que no início deste século estava em processo de autodestruição, acentuado pelo litígio entre liga e federação, mostra-se agora pujante, de dentro para fora. Haverá mérito também de dirigentes, claro, e muito dos clubes, assim como da federação, mas acima de tudo virtude de um grupo de trabalho que sabe que a maior conquista é fazer mais e melhor todos os dias. Que não perde a humildade perante aquilo que alcança, mas que recusar colocar limite aos sonhos. Uma equipa que junta atletas que ganharam calos no tal período soturno do andebol português a outros que cresceram com a possibilidade de ambicionar mais. Uma família que não se cansa de fazer história, de olhar para cima.

São os irmãos de Alfredo Quintana, tios da Alicia. Unidos pela ligação sentimental a um guarda-redes que deixou saudade e que se tornou guia. Não ouso dizer que a Seleção joga com um elemento a mais, mas não tenho a menor dúvida quanto ao segredo desta equipa. Uma crença inabalável naquilo que os inspira, mas acima de tudo uma crença inesgotável naquilo que podem fazer.

Campeões da crença, quem sabe algo mais.