A psicologia da saída de Vítor Bruno
Desportiva_MENTE é o espaço de opinião quinzenal de Liliana Pitacho, Psicóloga e docente no Instituto Politécnico de Setúbal
Asaída de Vítor Bruno do comando técnico do FC Porto é um exemplo claro de como as dinâmicas psicológicas grupais e as expectativas sociais podem influenciar a liderança no desporto. Desde o início, a sua ascensão foi marcada pela perceção da alegada traição a Sérgio Conceição, um líder idolatrado pela sua personificação dos valores do clube. Este texto não pretende analisar a competência técnica do treinador Vítor Bruno ou mesmo a sua capacidade de liderança, mas sim a forma como a sua ascensão a treinador principal da equipa e o contexto em que ela surge pode ter ditado desde sempre a baixa tolerância dos adeptos às falhas, mas também a resistência da própria equipa desportiva.
A teoria da dissonância cognitiva ajuda a explicar o desconforto que alguns adeptos sentiram ao ver Vítor Bruno assumir o papel principal, com a lealdade a Conceição em conflito com a aceitação do novo treinador. Este desconforto gerou uma rejeição imediata que foi difícil de superar. A ideia que pairava sobre a mudança de mentalidade no clube nesta que seria uma nova era agravou ainda mais a sua situação. Junta-se à explicação a teoria da identidade social que sublinha que um líder eficaz deve refletir os valores do grupo.
Enquanto Conceição era visto como a personificação de garra e resiliência, Vítor Bruno apresentou-se com um estilo mais tranquilo e muitas vezes condescendente, o que não refletia a identidade do clube. Foram muitas as vezes em que se ouviram os adeptos a lamentar que equipa não estava a jogar à Porto. Apesar de nos últimos tempos termos visto claras alterações de discurso e comportamento do treinador a ligação aos adeptos e aparentemente também a grupo resistente de atletas não chegou a ser forte o suficiente para suportar alguns desaires. Neste cenário, apesar do desejo de sucesso, muitos adeptos não criaram expectativas muito positivas sobre o desempenho de Vítor Bruno demonstrando o impacto das expectativas sociais e do viés de confirmação.
Muitos adeptos já esperavam que Vítor Bruno falhasse e interpretavam os resultados de forma a confirmar essas crenças, o que foi visível ao longo do percurso sempre que existiu um resultado menos positivo. Este ambiente de constante descrédito afetou a confiança mútua entre o treinador e os jogadores, gerando um ciclo de resultados inconsistentes.
A saída de Vítor Bruno é um caso de incongruência entre perceções, identidade coletiva e liderança.
Este episódio reforça a importância de considerar não apenas as competências técnicas, mas também os fatores emocionais e sociais na gestão desportiva. No desporto, a conexão entre líder, equipa e adeptos é tão crucial quanto a tática no campo.