A noite que não tem fim

OPINIÃO06.12.201903:00

VÍTOR OLIVEIRA, no domingo, após ter ganho sem especial alarido ao Sporting, fez magistral exercício de humildade e lucidez. De humildade porque não se pôs em bicos de pés após ter vencido um grande; de lucidez porque disse o que toda a gente vê mas,  pelo menos em Alvalade, ninguém ousa dizer. O Sporting não é candidato ao título porque não tem a mesma qualidade, pelo menos em termos de jogadores, dos rivais. Outro senador do nosso futebol, Jorge Jesus, citava muitas vezes Marx quando cá estava. «A prática é o critério da verdade.»

Não há frase que se possa aplicar com maior propriedade ao futebol profissional dos leões esta época. Mas o treinador do Gil voltou a citar o fatídico 15 de maio de 2018, quando um ataque dum bando de energúmenos deitou uma bomba de neutrões sobre o futebol leonino. Os efeitos foram devastadores, é verdade, mas todas as noites têm fim. O Sporting ficou sem capacidade negocial, sem qualidade no plantel e teve de reduzir o orçamento para cerca de metade mas, ainda assim, as verbas despendidas a cada época são, no mínimo, oito vezes superiores às gastas por clubes como o Gil. Portanto, poder-se-ia compreender uma taxa de insucesso na Liga a rondar os 25 por cento - o Sporting ainda não defrontou os outros dois grandes - mas 50 por cento é absurdo. As razões para o apagão em termos internos não têm a ver apenas com o passado, mas com área crucial : o mercado. A cada janela de transferências, Varandas e restante administração foram sempre retirando qualidade à equipa e, salvo raríssimas exceções, não contrataram quem acrescentasse algo - com condescendência, Luiz Phellype e Vietto. É uma das razões da noite do leão não ter fim, mas há outras, como ainda estar à procura do melhor caminho para chegar ao interruptor ou os próprios adeptos lhe pregarem rasteiras. Mas quem não ouve os sinais também tem sempre mais dificuldade em chegar à saída do labirinto.