A jogada do Sporting que deveria ser exemplo para todos os jovens futebolistas
Daniel Bragança mostrou como se deve conduzir um ataque rápido no segundo golo dos leões diante do Athletic Bilbao. É um momento que se deveria ser isolado e passado na formação
Há uma jogada do Sporting-Athletic que deveria ser isolada em vídeo e vista e revista até à exaustão desde tenra idade por todos os candidatos a futebolistas profissionais. Não se trata da finalização de Pedro Gonçalves ou do passe de Gyokeres no 1-0 ou sequer das muitas arrancadas de Geovany Quenda, que se estreou a titular para dar ainda mais combustível à ideia de que Benfica e FC Porto terão sempre algum caminho pela frente para se aproximarem da fiabilidade aparente do campeão. Não é nada disto.
Aos 80 minutos, Daniel Bragança conduziu um ataque rápido pelo centro do terreno. Em vez de se livrar da bola, correu e aguentou-a até ao limite, de forma a que o próximo portador tivesse o espaço necessário para aproveitar o desequilíbrio da superioridade numérica. É uma jogada de escola.
O objetivo é fixar o adversário direto e dar para o sítio e jogador certo – não são a mesma coisa, porque se tivesse sido um destro em vez de Matheus Reis a receber o resultado dificilmente seria idêntico – na altura certa. Parece simples, mas não é. Até tem o seu quê de arte, uma a desaparecer no futebol moderno. O que teria sido do ex-benfiquista Rafa, por exemplo, se tivesse juntado esta capacidade na tomada de decisão aos restantes argumentos? A consequência foi o 2-0, apontado por Edwards, numa finalização frontal, sem grande grau de dificuldade. Só possível devido à ação decisiva de Bragança, que não vai aparecer nas estatísticas que todos procuram, as de golos e assistências. Mas vejam e revejam o momento, e mostrem-no aos vossos filhos, se os tiverem.
O Sporting não teve teste fácil. De certa maneira, o 3-0, para as dificuldades que os bascos criaram, poderá ser considerado exagerado, porém o que interessa é o exame e a nota positiva. Perante uma identidade muito vincada, que assenta na pressão e reação à perda, e alterna entre ataques rápidos e o jogo posicional, os leões trabalharam a saída de perto da sua baliza com as dinâmicas habituais e ainda colocaram mais dúvidas aos rivais com a introdução de um segundo ala explosivo, que os torna ainda mais indomáveis.
É verdade que houve erros, abordagens arriscadas – se entendermos como risco a oportunidade de garantir ataques rápidos através das mesmas, como, por vezes, aconteceu – e perdas de bola que poderiam resultado num placar menos colorido. Nada, contudo, que apague a ideia principal: o processo está saudável e desafiará e muito os grandes rivais.