A importância dos miúdos no clássico

OPINIÃO12.02.202205:30

Há, hoje, como também se viu no Dragão, dois pilares decisivos na sustentabilidade do futebol português: a formação e o ‘scouting’

HÁ dois pilares decisivos na sustentabilidade dos clubes de futebol, em Portugal, quer sejam pequenos, médios ou grandes: a formação e o scouting. Nenhum clube português que tenha  um projeto de futuro pode prescindir da qualidade na formação dos seus jovens jogadores e da qualidade na análise do recrutamento. Mesmo aqueles dirigentes que pensam no futebol com inconfessados interesses pessoais e usam o poder mediático para fazerem acreditar que os melhores negócios são os que permitem valores elevados, com comissões rápidas e lucrativas, acabam por se denunciar na repetição de casos de jogadores que chegam com algum nome internacional e com valor de mercado aparentemente firme, mas que ficam sempre aquém das expectativas que geram.
No que respeita aos três clubes grandes, o eixo essencial de desenvolvimento está nas suas fábricas do Olival (FC Porto), de Alcochete (Sporting) e do Seixal (Benfica). Entretanto, outros clubes, por todo o país, iniciaram projetos próprios, muitos deles bem pensados e bem estruturados, e que podem vir a dar resultados a médio prazo e tornar o futebol português mais interessante e competitivo. O caso do SC Braga, por exemplo, é digno de expectativa.
É possível, pois, admitir que o clube que forma melhor, que tem mais condições para produzir melhores atletas e que escolhe melhor (mais eficácia) no recrutamento nacional e mundial está mais perto de ser o melhor, de vencer mais vezes, de conquistar mais títulos. Sobretudo se souber juntar uma boa gestão e uma competente capacidade de escolha de técnicos pluridisciplinares, a começar pela escolha do treinador principal, de acordo com um perfil definido e uma personalidade compatível com o desenvolvimento do projeto.
E tudo isto também tem a ver com o clássico de ontem, no Dragão, onde também se enfrentaram os jogadores de fábrica imaginados e criados pelos dois clubes. Olhemos, pois, o nível de influência que tiveram no jogo.

F ÁBIO VIEIRA foi, ontem, o senhor do jogo. Agora com 21 anos, nascido e criado pelo FC Porto desde o futebol de sete. Jogador decisivo, ontem, num clássico que se tornou vergonhoso por descontrolo dos próprios jogadores. Um golo precioso (o primeiro da sua equipa) numa conclusão de grande qualidade técnica, um cruzamento magnífico, que deu a Taremi o golo do empate e uma exibição de encher o campo. O jovem médio portista foi o exemplo perfeito da importância do aproveitamento de uma formação capaz de criar alguns dos melhores talentos no futebol português.
Se quisermos olhar na mesma perspetiva e do lado do Sporting, podemos assinalar a exibição de grande maturidade e eficácia do central Gonçalo Inácio. Apenas 20 anos de idade e um currículo ligado a um crescimento sustentado na formação do Sporting.
O clássico mostrou-nos ainda outros exemplos. Vitinha, João Mário e Diogo Costa, na equipa portista ou Ricardo Esgaio e Palhinha no Sporting. Não tiveram, no jogo, a mesma expressiva evidência de Fábio e de Gonçalo, mas são, hoje, jogadores nucleares nas suas equipas.
Lamentável, portanto, que um futebol que é capaz de produzir jogadores de tão notáveis qualidades seja o mesmo que oferece espetáculos deprimentes como o de ontem. Espetáculos que mancham a qualidade exibicional das equipas com uma cultura selvagem de total ausência de dignidade desportiva. É o lado escuro de uma lua que tinha tudo para ser imensamente luminosa.


DENTRO DA ÁREA
CREDIBILIDADE DO COMITÉ OLÍMPICO

José Manuel Constantino recandidata-se na missão de presidir ao Comité Olímpico de Portugal. não é considerado um acontecimento mediático, mas é, indiscutivelmente, uma boa notícia para o Desporto português e para Portugal. Num país que tão poucas vozes se fazem ouvir com uma estratégia e um objetivo concreto na área do desporto, Constantino tem sido o líder consistente e competente de um pensamento político para o desporto em Portugal. Daí, o lema da sua recandidatura: O desporto é um bem público.  


FORA DA ÁREA
‘CHEF’ EVARISTO É COMENDADOR

Restaurante emblemático de Lisboa, ponto de encontro de políticos, desportistas, jornalistas, atores, apreciadores da boa mesa com o requinte dos sabores de uma comida tradicional, o Solar dos Presuntos teve a visita amiga do Presidente da República, que condecorou o Chef Evaristo com a Ordem do Mérito Empresarial e Comercial. Evaristo, agora com 80 anos, veio para a capital há quase meio século e nos anos oitenta já era um chef consagrado, tendo sido escolhido como chef da seleção nacional no Mundial do México-86.