A Gala da APAF e Luís Godinho
A mãe do Luís não merecia partir assim, tão jovem e de forma tão infeliz, tal como ele e todos os seus familiares não mereciam passar por esta dor horrível,
No passado sábado, a APAF - Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (do qual me orgulho de ser associado há várias décadas) - realizou a sua 12.ª Gala.
O evento teve lugar no salão do Casino da Figueira da Foz e serviu para premiar as árbitras, árbitros, árbitros assistentes e observadores que mais se destacaram na época transata a nível distrital, nacional, profissional e internacional.
Nessa celebração estiveram presentes centenas de convidados dos mais diferentes quadrantes: futebol, futsal e futebol de praia. Marcaram também presença representantes da FPF, Liga Portugal, Associações de Futebol, associações de classe e autarquia local.
Esta iniciativa, agora no seu segundo ano, veio colmatar a ausência absoluta de um espaço onde os melhores árbitros de cada categoria pudessem ser recompensados pela forma como atingiram a excelência no sempre difícil mundo da arbitragem.
Ao palco subiram muitos colegas - meninas e meninos, homens e mulheres - de várias idades e valências, com um brilho imenso no olhar, sinal do orgulho com que terão recebido aquele que, para a maioria, terá sido o primeiro prémio na arbitragem.
Este momento será inesquecível para os galardoados mas também servirá de incentivo para todos aqueles que, por uma ou outra razão, não atingiram os objetivos desportivos que fixaram.
A equipa liderada por Luciano Gonçalves voltou a estar muito bem, lembrando a todos que a arbitragem não pode apenas valorizar o esforço de quem já está no topo. É fundamental que valorize, apoie e motive sobretudo aqueles que estão na base a olhar para o futuro, com infinita ambição. São esses que estarão nos europeus, mundiais e jogos olímpicos em 2030, 2035, 2040. O futebol português tem que acompanhar todos eles com carinho e (muita) proximidade, para depois poder orgulhar-se daquilo que um dia poderão fazer por nós e pelo nosso país.
Quanto ao evento e além da homenagem prestada aos melhores classificados de cada categoria, foi também merecidamente homenageada a equipa de arbitragem portuguesa presente no Campeonato da Europa que ainda decorre na Alemanha. Artur Soares Dias usou da palavra para agradecer o apoio e solidariedade que recebeu ao longo de toda a prova.
Luís Godinho, meu amigo, colega e atual Presidente da Assembleia Geral da APAF, foi um dos primeiros a usar da palavra, sem saber que o estava a fazer poucas horas antes de perder a sua mãe para um trágico acidente no Arquipélago dos Açores.
Quis o destino (ou talvez não) que o árbitro internacional de Évora fizesse da sua primeira intervenção um dos momentos mais emocionantes da noite: antes de falar sobre a gala ou premiados, Godinho pediu a todos os presentes que fizessem um minuto de silêncio em memória dos pescadores que perderam a vida numa tregédia ocorrida pouco antes na Figueira da Foz. A forma sentida e inesperada como o fez e as emoções genuínas que entregou ao momento valeram-lhe uma salva de palmas de pé de todos os presentes.
Confesso-vos que é exatamente isso que me apetecia fazer agora, dar-lhe uma enorme standing ovation por tudo: pelo momento horrível que está a viver, pela pessoa extraordinária que é, pelo ser humano incrível que sempre foi e até pela forma corajosa como procura humanizar a figura do árbitro, em opção difícil de cumprir (sei bem do que falo).
A mãe do Luís não merecia partir assim, tão jovem e de forma tão infeliz, tal como ele e todos os seus familiares não mereciam passar por esta dor horrível, numa fase tão bonita da sua carreira desportiva (foi recentemente promovido ao Grupo-1 da UEFA, uma espécie de pré-elite da arbitragem europeia).
Ao Luís Godinho e a todos aqueles que lhe são queridos/próximos, um abraço do tamanho do mundo e a garantia de que nunca estará só.
A arbitragem sabe cuidar bem dos seus e ele é um dos nossos.