OPINIÃO A fatura que a Champions passa ao Sporting

Rúben Amorim foi honesto e objetivo na análise do empate com o PSV, o que se elogia, mas não o exime da responsabilidade da pior exibição da época

Ouvir Rúben Amorim antes ou depois dos jogos, para quem gosta de futebol, é sempre um prazer. Já aqui partilhei a minha admiração não só pela forma como pelo conteúdo da comunicação do treinador do Sporting, concordando mais do que discordando com ele. Mesmo não podendo dizer tudo, Rúben Amorim vai dizendo muito, como aconteceu depois do empate com o PSV, em Eindhoven, anteontem, ao reconhecer que o resultado foi melhor do que a exibição e ao deixar implícito que a responsabilidade de tantas escorregadelas dos jogadores do Sporting não foi de mais alguém se não deles próprios, por não cuidarem, no aquecimento, de se preparar para as condições do relvado. Não é para todos.

Rúben Amorim também identificou os problemas do leão com o PSV, assinalou que a equipa esperava aquelas dificuldades e, no entanto, não foi capaz de ultrapassá-las. O PSV expôs fragilidades que ninguém em Portugal foi capaz de destapar. E não estou a ver, pelas circunstâncias que dominam Benfica ou FC Porto, para falar apenas nos candidatos ao título, que qualquer dos adversários esteja em condições de fazê-lo em breve.

O Sporting continua a ser a equipa mais bem trabalhada em Portugal, os jogadores sabem de cor e salteado o que fazer e como fazer, quando fazer e porque fazer. Isso é mérito do treinador. Mas não é equipa perfeita — se alguma existe — e o PSV, mesmo não sendo da primeira linha do futebol europeu, deixou mais do que isso bem claro.

O jogo do Sporting depende muito de Gyokeres e, com o PSV, a equipa não o teve. Mas faltou-lhe muito mais. Foi curioso ver que Rúben Amorim não encontrou solução para o bloqueio dos três homens da frente — Trincão, Gyokeres e Catamo, marcados individualmente —, que, ao contrário do que disse o treinador, não tiveram muitas oportunidades de jogar de frente para os defesas até o jogo ficar partido, por volta dos 70', quando o PSV defendia com cinco ou seis e outros já não corriam para trás.

Ficou claro, ainda, que não funcionou a saída a jogar de trás. Debast, Inácio ou Quaresma foram submetidos a pressão para a qual não estavam preparados e cometeram erros graves. E, no meio-campo, com Hjulmand e Morita recuados, havia um buraco enorme sem alguém para ligar o jogo. Bragança beneficiou, na segunda parte, da desorganização do PSV para fazer esse papel.

Esta época ainda nenhuma equipa submeteu o Sporting a esta condição de não conseguir ligar o jogo e sair a jogar. É uma das faturas que se têm de pagar quando se joga a Liga dos Campeões. Na época passada, a Liga Europa foi uma bênção, os adversários permitiram a Rúben Amorim fazer a gestão que não se pode dar ao luxo sequer de pensar na Champions, pelo menos nos jogos seguintes, com o Sturm Graz fora e depois com Man. City e Arsenal em casa.

A conquista do título será sempre a prioridade de qualquer equipa portuguesa, apesar de Rúben Amorim já ter afirmado (e bem) que queria fazer melhor do que na última vez que chegou aos oitavos de final, nos quais foi eliminado pelo City (0-5 em Alvalade e 0-0 em Manchester). Esta Champions, porém, permitirá perceber também se o plantel está equilibrado — à primeira vista, Morita, Hjulmand e Daniel Bragança para dois lugares parece curto. E depois há as lesões — 10 desde o início da época, o que noutras latitudes serviria seguramente de arma de arremesso. Disso Amorim não tem culpa.