A Europa antes do Mundo
Argentina venceu o Mundial-2022 (IMAGO/Ulrich Hufnagel)
Foto: IMAGO

A Europa antes do Mundo

OPINIÃO06.10.202309:09

Sete anos seria um prazo decente para um novo aeroporto e uma rede de alta velocidade

Portugal organizará, dentro de sete anos, um Campeonato do Mundo de futebol e para aqueles que desde já criticam, porque iremos ter demasiados jogos em Espanha (incluindo a final), muitos em Marrocos e alguns até na América do Sul, talvez seja bom lembrar que Portugal não tem dimensão demográfica, económica e até política para poder organizar sozinho um grande evento desportivo, como o Campeonato do Mundo de futebol ou uns Jogos Olímpicos. Quem acha que sim, não sabe o que é um Mundial de futebol, nem uns Jogos Olímpicos, nem, sequer, conhece Portugal.

A notícia é, pois, de celebrar. Sobretudo se pensarmos que a organização, mesmo que em regime de cooperação, de um Campeonato do Mundo de futebol pode implicar uma aproximação decisiva do país à Europa. Devemos aliás recordar que, apesar das muitas críticas feitas pelo que diziam ser o esbanjamento de meios financeiros na realização da Expo-98, Portugal ganhou respeito mundial pela sua capacidade de organização de grandes eventos e ganhou toda uma zona urbana moderna e funcional que substituiu uma lixeira pantanosa e imunda. E também podemos recordar que o tão detestado Euro-2004, mais a enormidade da despesa da construção dos novos estádios, muitos dos quais com Euro ou sem Euro teriam de ser construídos pelo Benfica, Sporting, FC Porto, Boavista ou Vitória de Guimarães, constituiu um ponto fundamental de viragem de um turismo incipiente e avulso por uma indústria moderna e profissional, que nos trouxe e continuará a trazer uma onda constante de turistas de todo o mundo, que contribui para uma parcela essencial do PIB e do crescimento da nossa economia.

Com a organização do Mundial de 2030, Portugal tem uma oportunidade única para balizar investimentos que, apesar de serem há muito tempo urgentes, têm continuado adiados pelo peso da tradição de uma cultura mesquinha e miserabilista que vê sempre despesa onde deve ver investimento. Sete anos seria um prazo decente para construirmos o novo aeroporto de Lisboa e um início de rede de comboios de alta velocidade que nos aproxime da Europa e nos afaste do do velho isolamento da «ocidental praia lusitana». Portugal precisa deste Mundial até para estabelecer metas objetivas e datadas para o seu desenvolvimento.