A 'espanholização' do Brasileirão
Palmeiras (três) e Flamengo (duas) ganharam cinco das últimas seis edições do Brasileirão
O futebol brasileiro sofre de muitas doenças, o calendário insano e o amadorismo de algumas direções são as mais graves, mas em dois pontos é até mais saudável do que as cinco principais ligas da Europa: na quantidade incomparável de novos talentos que produz e, acima de tudo, no número generosíssimo de clubes grandes, logo, de candidatos ao título que se apresentam a cada edição do Brasileirão.
Esse número generosíssimo, que inclui quatro gigantes de cada um dos dois principais centros, Rio de Janeiro e São Paulo, mais dois de Belo Horizonte, outros dois de Porto Alegre, fora clubes de Curitiba, de Salvador, do Recife e não só que já conquistaram títulos nacionais, é a força motriz do futebol no país no futebol, a vantagem competitiva que o aproxima do potencial económico e geográfico da NBA e dos outros desportos americanos e o distancia das citadas ligas europeias de topo.
Por isso, observadores brasileiros temem perder essa vantagem competitiva. Mas alguns, os mais pessimistas, acham que ela já está a ser perdida – chamam ao fenómeno a «espanholização do futebol brasileiro». Ou seja, acreditam que, tal como o Real Madrid e o Barcelona em Espanha, o Palmeiras e o Flamengo ameaçam usurpar as taças todas no Brasil.
De facto, Verdão (três) e Fla (duas) ganharam cinco das últimas seis edições do Brasileirão. Como em Espanha, só um Atlético, não de Madrid mas Mineiro, campeão em 2021, furou o monopólio. E este ano, as equipas de Abel Ferreira e de Tite, com ótimos plantéis e gestões profissionais, já estão a preparar uma fuga do pelotão ainda antes do fim da primeira volta.
«O Brasileirão jamais viveu uma fase de duopólio tão acentuado como experimenta agora (...) esta prevalência de dois clubes é algo que acontece pela primeira vez desde 1971», escreveu o pessimista Douglas Ceconello, no GE.
Outros observadores, mais otimistas, acham que não, que o Botafogo só não ganhou no ano passado porque faltou um bocadinho de pedalada, que o São Paulo, atual detentor da Copa do Brasil, anda na roda dos grandes, que o Atlético resiste, que o Athletico Paranaense e o Bragantino crescem sustentadamente e que o Fluminense, mesmo último no atual Brasileirão, ao vencer a Libertadores de 2023 mostrou que o sucesso está alcance de qualquer um, desde que bem treinado e bem dirigido.
«Nos últimos dez anos, cinco clubes ganharam o Brasileirão, nos últimos dez anos, sete clubes ergueram a Copa do Brasil», lembra o otimista Maurício Noriega, no site Trivela.
Aliás, a discussão começou há uma dúzia de anos, com Flamengo e Corinthians, por serem os dois clubes mais populares e por isso com fatias maiores dos direitos de TV, a fazerem o papel de Barça e de Madrid. Na altura, o Timão, de Tite, ganhava tudo e o Verdão caiu nas malhas da Série B. De repente, é o Verdão, de Abel, que ganha tudo e o Corinthians que está com medo da B.