Opinião A encruzilhada de Villas-Boas

OPINIÃO11:30

O presidente do FC Porto sabia ao que vinha. A aposta em Vítor Bruno foi mediática e supreendente, pelo que dificilmente dependerá de um resultado contra o Anderlecht

Quarenta, 50, 60, ou mesmo 20 ou 10 indivíduos que sejam, a gritar desalmados durante a noite no meio da rua, assustam qualquer cidadão. Fazem barulho, perturbam a ordem das coisas, manifestam-se como podem ou sabem. Foi o que aconteceu no domingo, no Estádio do Dragão, quando da chegada do autocarro da equipa do FC Porto que acabara de perder, em Moreira de Cónegos, uma longa invencibilidade na Taça de Portugal e a oportunidade de discuti-la pela quarta vez consecutiva no Jamor, o palco de todas as emoções da Prova Rainha.

Ao assumir o comando do FC Porto, com uma ratificação dos sócios inimaginável há um par de anos, André Villas-Boas sabia que ficaria sempre refém dos resultados — como qualquer responsável de um grande clube —, mas sobretudo que ficaria sempre, caso as coisas não corressem logo bem, à mercê da franja de 20 por cento de associados que não votaram nele e têm uma espantosa capacidade de fazer barulho, seja de noite ou de dia. Ainda por cima com o antecessor, autor de mais de quatro décadas de uma liderança singular, infelizmente cada vez mais doente e debilitado.

Acontece que as coisas de facto não têm corrido especialmente bem, apesar do bom e motivador início, com aquela reviravolta épica na Supertaça e o cumprimento da obrigação na Liga, exceção feita à derrota na casa do campeão, mas que nem por isso seria caso de monta.

Acontece, também, que depois o FC Porto foi goleado na casa do maior rival — também ele vindo de uma espécie de penumbra que ainda perceberemos se existia ou era mais caso de hipocondria clubística. E tudo ficou mais duro.

Perder em Moreira de Cónegos, para a Taça, seria a última coisa que Villas-Boas desejaria, tanto mais que houve o tempo das seleções para lamber feridas. Mas o futebol acontece.

A aposta em Vítor Bruno foi arrojada e supreendente. Não acredito que André Villas-Boas a tenha feito apenas para beneficiar do efeito-surpresa, e por isso também me custa acreditar que um jogo da Liga Europa, na Bélgica, seja um tudo ou nada para o novo treinador portista.

Nenhum clube do Mundo é imune à bactéria da derrota, que obriga a recurso à famigerada chicotada psicológica, antibiótico que às vezes funciona bastante bem. Mas não na maior parte das vezes.

Se abdicar de Vítor Bruno, Villas-Boas hipoteca uma parte relevante e mediática do projeto que apresentou aos portistas. E foi amplamente aceite.