A BOLA não vos vai falhar

A BOLA não vos vai falhar

OPINIÃO31.01.202510:00

O jornalismo atravessa momento delicado e tem, de certo modo, voltar às origens em contexto ultramoderno. Um trabalho de Hércules a cada esquina, mas, se não formos nós, quem o fará?

A BOLA festeja, esta semana, 80 anos de existência. O dia certo, com direito a bolo e flutes com champagne, celebrou-se na quarta-feira, porém deixem-me prolongá-lo um pouco mais.

É uma honra ter nascido aqui para o jornalismo, mesmo que me tenha feito homem noutro projeto. Voltou a sê-lo novamente, depois de, há alguns anos, ter decidido regressar. Retornei num momento difícil, sim, ainda antes da enorme transformação positiva do jornal que, para mim, sempre se confundiu com o desporto e o desporto com ele, desdobrável em dois assentos à minha frente, em múltiplas viagens de comboio para a universidade. Ou nas escadas dos prédios da minha rua, ainda de manhã, antes de horas intermináveis de peladas começarem. No tapete do chão da sala. Descobriam-se, nesses tempos, caminhos inesquecíveis em notícias que lançavam os primeiros factos na primeira página, prosseguiam pela 15 ou 23 e terminavam mais à frente, por vezes até na última. Era um mundo a girar-nos nas mãos eternamente.

Talvez seja da data, ou da velhice que me arrepia os ossos, ao lado da grandeza da responsabilidade histórica dos dias que vivemos, o estarmos mais emotivos e pensativos, quase sugestionados a refletir. Perdoem-me, mas sinto que também devo dizer alguma coisa. Se será insignificante ou não, não dependerá de mim.

Os desafios e ambições de A BOLA enquanto projeto que já está bem para lá dos limites da página que lê, uma nova, bem viva e cheia de energia e, claro, ainda a sofrer dores de crescimento, já foram enunciados pelo diretor Luís Pedro Ferreira e não tenho muito que acrescentar. Os inúmeros trabalhos de Hércules ao longo da estrada, todos os conhecemos. São senso comum. Os media vivem tempos difíceis, financeiros e não só, com desafios a todos os níveis, que, todavia, já não são mais do que ossos do ofício. Eu, por exemplo, que não conheço outra realidade, tenho a certeza de que vamos andar ao ritmo dos versos de Palma: enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar

A BOLA: há 80 anos a jogar para a frente

29 janeiro 2025, 10:00

A BOLA: há 80 anos a jogar para a frente

A BOLA encara desafios há 80 anos, desde a censura à velocidade de um mundo em constante mudança: fá-lo como sempre fez e da única maneira: a jogar para a frente!

Só que o jornalismo, acreditem ou não, nunca será apenas uma questão de subsistência ou sobrevivência. Se se tratar exclusivamente disso, nunca atingirá a nobreza que o deve fazer mover-se. É com espírito de missão, não nos achando melhores do que os outros, porém com a consciência de que podemos e devemos contribuir com a nossa parte, que temos de olhar para o dia a dia. Mesmo que os tempos sejam inimigos da verificação, que novos canais tenham sido criados, acessos condicionados e trancados a sete chaves, que a valorização que outros fazem do trabalho seja nula e ainda pairem no horizonte novas ameaças, como fake news em doses industriais e os passos largos e eticamente complexos dados pela IA.

Ouvi e li vários diretores de diversos órgãos sobre os novos tempos como se tivessem acabado de lhes bater à porta ou ainda virassem a esquina ao longe, e não se tivessem ainda anunciado de acordo com o protocolo, quando estes já percorrem há anos os gabinetes e as redações. Entraram-nos, sem pedir licença, porta dentro. Recordo donos que, do alto da esmagadora sapiência, clamavam há um par de anos que a Internet era o futuro, quando já só nos apetecia perguntar-lhes qual delas. Responsáveis preocupadíssimos com o que poderia vir a suceder, enquanto tudo há muito acontecia, sem que ninguém o tivesse antecipado ou tomado medidas para evitá-lo, permanecendo enclausurados no seu mundo inacessível e exclusivo. Os que ainda hoje vivem no passado foram corresponsáveis por não quererem lutar por um melhor presente. E mesmo que os idolatrem, haverá sempre alguém que sabe bem o que se passou.

Mensagem do Presidente da República pelos 80 anos de A BOLA

29 janeiro 2025, 09:20

Mensagem do Presidente da República pelos 80 anos de A BOLA

Ler A BOLA era uma obrigação. Ler A BOLA era obrigatório. Foi obrigatório antes do 25 de abril, durante a ditadura e a Censura, foi obrigatório na revolução e foi obrigatório depois da revolução. Fui sempre leitor, serei leitor até ao fim da minha vida

Admito. A velocidade da informação é esmagadora. Privilegia-se dar primeiro. Não se tem tempo para mais. Cruzar, confirmar. As redações perderam séniores, na realidade a sua almofada de consciência, com capacidade para questionarem até o senso comum. O que torna a velocidade ainda mais arriscada. Temos de saber abrandar o tempo. Como? Preparando-nos.

O jornalismo deixou, há muito, de ser filtro para as pessoas, que passam a receber tudo o que governantes, presidentes e outros líderes, selecionaram que seja recebido. Omitindo o que não lhes interessa. A profissão perdeu olhar crítico, capacidade de análise, tornou-se intermediária de agências, federações, ligas e clubes. De outros jornais, citando. Caiu o valor da notícia. Se é o que acontece, para que serve mesmo? Apenas para amplificar?

Sei que há quem acredita que não precisa dos meios de comunicação para nada, porque tem os próprios jornais ou canais de televisão para emitir sem contraditório. Paira ao mesmo tempo um certo sentimento de inimputabilidade para quem vai além do limite a fim de que se confunda mensagem com notícia. No entanto, o povo carece da sua presença, embora talvez não o saiba, por em democracia ser fundamental questionar e verificar, de modo a que possam ser tomadas melhores decisões. Não há e nunca poderá haver comparação possível ou confusão entre notícia e propaganda. Sim, os pioneiros desbravaram os caminhos que hoje percorremos, mas desengane-se quem pensa que a nossa missão é mais fácil.

Lembro-me de uma conversa que tive com o meu diretor de então. Dizia-lhe eu, virara ainda há pouco o milénio, que não sabia se queria ser jornalista. Passados dois ou três anos, acabaram-se as dúvidas. Hoje, continuo sem tê-las. Amanhã, dure o que durar, sei que dificilmente serei outra coisa. Porque é precisamente o estar do lado da notícia e não da propaganda que me atrai. Mesmo que paguem pior.

A tempestade mais do que perfeita

30 janeiro 2025, 10:00

A tempestade mais do que perfeita

O andebol português elevou-se uma vez mais bem acima da realidade do país, Benfica e Sporting qualificaram-se na Liga dos Campeões e o dia foi de festa a todos os níveis, a começar n' A BOLA

É das novas instalações de uma A BOLA que sobreviveu à censura e a tanto mais, e lutou ao vosso lado, ganhando o direito a fazer parte da história dos últimos 80 anos, que vos escrevo. Sem soberba, apenas com a realidade.

Escrevo-vos porque, para mim, o jornalismo só tem um caminho. Ser aquilo que lhe foi destinado à nascença. Informar, e lutar pela liberdade e pela verdade. Acreditem. A BOLA está mais jovem do que nunca e não irá falhar. Não vos irá falhar.