A 28.ª final de Ronaldo

OPINIÃO16.01.201903:00

Juventus-Milan! A final da Supertaça italiana joga-se hoje em Jeddah, na Arábia Saudita, pelas 17.30 horas. Um clássico que pode trazer a Ronaldo o primeiro título em Itália e o 27.º da carreira na 28.ª final disputada desde 18 agosto de 2002, quando assistiu no banco, no estádio do Bonfim, à goleada (5-1) imposta pelo Sporting de Lazlo Boloni ao Leixões de Carlos Carvalhal na final da Supertaça portuguesa. Foi esse o primeiro título oficial da carreira de Cristiano, embora não tenha chegado a entrar (os suplentes utilizados foram César Prates, Carlos Martins e Danny; entre os titulares estavam Quaresma, Niculae, Paulo Bento e Rui Jorge; JVP estava suspenso pela FIFA e Jardel ainda não regressara de férias…). O primeiro título ganho por CR7 no terreno ocorreria dois anos mais tarde, já com a camisola do Man. United, no estádio Millennium em Cardiff  perante 71.350 almas: 3-0 ao Milwall na final da mítica ‘FA Cup’ com Ronaldo a marcar o primeiro dos red devils à beira do intervalo. Outra curiosidade é a possibilidade de Ronaldo igualar em Jeddah o fantástico pleno-recorde do compatriota José Mourinho, que ganhou a Supertaça em quatro países: Portugal, Inglaterra (duas vezes), Itália e Espanha. São dois fenómenos à parte, realmente: Ronaldo tem 26 títulos e joga a 28.ª final (ganhou 20 e perdeu 7). Mourinho tem 25 títulos e participou em 25 finais (ganhou 18 e perdeu 7). Tão parecidos, não é?  


Catorze anos (quase 15), 24 títulos e 659 golos depois da tal final de Cardiff, Cristiano continua o mesmo animal de competição focado e incansável. Aos 33 anos, a ânsia de conquista e superação é a mesma do miúdo alto e magricelas que dizia a Aurélio Pereira que um dia haveria de ser o melhor do Mundo. O título que está hoje em jogo será certamente o menos importante de uma época onde Ronaldo pode ganhar Série A, Taça de Itália, Champions e a primeira edição da Liga das Nações com Portugal. Mas poderá ficar na história como o primeiro troféu conquistado com a camisola juventina seis meses após a amarga saída do Real Madrid. O Milan não será adversário submisso, mas a Juve, mesmo sem o lesionado Mandzukic, parte favorita. Há dois meses, em San Siro, a Juventus ganhou ao Milan por 2-0 num jogo marcado [além do inevitável golo de Ronaldo] pelo penálti falhado por Higuain (41 m) e subsequente expulsão do argentino (83 m) depois de perder a cabeça - discutiu com o árbitro, com os próprios colegas e com os adversários (chegou a empurrar CR7), antes de abandonar o relvado em lágrimas. A raiva de Gonzalo a Cristiano é conhecida e  já vem de longe - de Madrid, precisamente. Na época de estreia de CR7 (2009/2010), Higuain pura e simplesmente não lhe passava a bola. Depois, um dos dois teve de sair. A coisa azedou ainda mais no verão passado, quando a Juventus se desfez de Higuain (por quem havia pago €90 M) para financiar a aquisição do português. O craque argentino, segundo a Imprensa italiana, arde num desejo de vingança e quer aproveitar a final de hoje, que pode ser o seu último jogo pelo Milan (Sarri espera-o no Chelsea), para finalmente amargar a vida a Ronaldo. Talvez consiga. Ou não, claro.


A escolha da Arábia Saudita como palco da final (lembre-se que a Supercoppa já se disputou em Washington, Tripoli, New Jersey, Pequim, Doha e Shangai…) provocou grossa polémica em Itália depois do bárbaro assassinato do jornalista Jamal Khashoggi no consulado saudita em Istambul. E não só. O facto de as mulheres só poderem assistir ao jogo em companhia masculina num setor especifico do estádio desgostou até o próprio ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, que se insurgiu publicamente contra essa descriminação. Para nós portugueses, a Arábia Saudita é país onde voltam rivalizar Jorge Jesus (Al Hilal) e Rui Vitória (Al Nassr), ambos principescamente pagos - sem esquecer Pedro Emanuel (Al Tawoon), já que Paulo Alves deixou anteontem o Ohod. Pode ser que Cristiano acrescente algo à história, mais logo. 

Um Leão a rugir em Lille
 

Foi um dos que rescindiram unilateralmente com o Sporting. Sousa Cintra afirmou que não era essa a sua vontade, mas que o jovem jogador acabou por ceder a pressões familiares e interesses vários. O Benfica teve-o na mira mas foi para o Lille Olympique Sporting Club de Luís Campos (e dos manos Fonte, Edgar Ié e Xeka) que o promissor avançado formado em Alcochete seguiu. Não esqueço que Jorge Jesus disse no verão passado em entrevista à A BOLA TV que considerava Rafael Leão o jovem talento português com maior potencial para seguir os passos de CR7. «Tem coisas do Ronaldo e do Mbappé», disse o treinador que lançou Rafael na primeira equipa do SCP, a 12 outubro de 2017 em Oleiros, para a Taça de Portugal - o miúdo respondeu logo com um golo (!) e haveria de marcar outro, belíssimo, em pleno Dragão, um minuto depois de entrar.


Leão não rugiu imediatamente em França. Entre várias peripécias, teve de esperar que o Lille vendesse jogadores para cumprir as regras do fair play financeiro para poder ser inscrito e jogar. Facto é que a fera nascida em Almada [de origem angolana] só começou a ser utilizada regularmente por Christophe Galtier a partir de finais de outubro, mas pelo que se tem visto nos últimos tempos, o dianteiro português parece ter ganho um lugar no sensacional Lille, que segue no 2.º lugar do championnat, atrás do Catar-PSG. Três golos nos últimos três jogos e um entendimento cada vez mais consolidado com o velocíssimo marfinense Nicolas Pepé (23 anos), trouxeram Rafael para os cabeçalhos da imprensa desportiva francesa. Sim, também acho que Rafael tem coisas de Cristiano e de Mbappé. É alto (quase 1,90 m), musculado, elástico, veloz, repentista e está a desenvolver uma boa relação com o golo, o que é fundamental num avançado com pretensões de grandeza. Só lhe posso desejar que mantenha os pés no relvado e trabalhe muitíssimo para poder cumprir a profecia de Jorge Jesus. Lá que tem potencial…