47 pontos

OPINIÃO07.02.202106:00

O Benfica está a 11 pontos do primeiro classificado. Perdemos 17 pontos em 51. Decerto que há razões para tamanha desgraça!

O título é consciente. E consistente! E desafiador. O Benfica, este Benfica, tem de arrecadar, na segunda volta da nossa Liga - ainda Liga NOS - , 47 pontos. Sei bem que estão 51 pontos em disputa. O que significa que apenas pode empatar dois jogos. E, obviamente, não perder nenhum. E no próximo mês, nos próximos 30 dias, tem nove jogos. Dois para a Liga Europa, dois para a Taça de Portugal e cinco para a Liga que, por ora, é a Liga do nosso descontentamento. Sim, e em razão das expectativas criadas - e, aqui, assumo também responsabilidade já que fui na onda! -, a dor é imensa, a desilusão intensa, a desconfiança crescente. Agora, e na principal competição interna, temos dois jogos no Estádio da Luz - amanhã face ao Famalicão e no final deste mês de fevereiro frente ao Rio Ave - e três jogos fora da Luz, respetivamente em Moreira de Cónegos , em Faro e no fim de semana de 7 de Março no Jamor, esperando-se que já com um relvado melhor cuidado e melhor tratado! E arrecadar 47 pontos implica voltar a marcar golos, a ter um modelo de jogo e, também, um modelo alternativo treinado, a correr mais do que os adversários e a acreditar que é possível, diria até que é indispensável, lutar pelo acesso direto à Liga dos Campeões. E estes 47 pontos, acredito, permitirão essa conquista, determinante em termos financeiros, mas ainda perturbante em termos desportivos. Chegar a meio da Liga a 11 pontos do primeiro classificado - justamente primeiro! -  significa, em termos numéricos, que perdemos 17 pontos em 51. Decerto que há razões para tamanha desgraça! Sim, é desgraça. Face ao investimento feito, aos jogadores contratados, à equipa técnica escolhida, à organização posta ao dispor do plantel. Há o Covid 19 e os seus graves e perturbantes efeitos. Mas importa assumir que se o modelo de jogo do Sporting convence e motiva , o do Benfica não convence nem motiva. Há entrega dos jogadores, como se viu em grande parte do jogo face ao Vitória de Guimarães. Mas, peço desculpa, já que vi o jogo, o Benfica não poderia ter vencido o jogo «por quatro ou cinco a zero» como afirmou o treinador adjunto João de Deus. Sabendo nós que «o real serve-nos para fabricar melhor ou pior um pouco de ideal»! Se for nesta perspetiva de busca do «ideal», aceitemos, corrigindo, tais proclamações. Mas se olharmos para alguns números voltamos a cair no «real». E este real  significa que nem somos o melhor ataque - é o Futebol Clube do Porto, com 39 golos - nem a melhor defesa. E, aqui, é a do Sporting com apenas nove golos, seguida do Vitória de Guimarães com 13 golos e  do surpreendente Paços de Ferreira com 14!  E Benfica e Braga têm 16 e o Futebol Clube do Porto 17 golos sofridos. Temos, assim, de acreditar que ainda é possível . Mas assumindo, com todas as suas consequências, que a primeira volta foi muito má e que tudo se fará, em conjunto, para realizar uma extraordinária segunda volta . Em termos similares ao primeiro momento de Bruno Lage e de uma cavalgada tão galvanizante quanto vitoriosa ! Agora com o plantel estabilizado há que procurar combinar a qualidade individual com a construção coerente de um onze - ou de um catorze!!! - que tenha ambição, espírito de conquista e forme, de verdade, um coletivo ganhador. E sem que haja necessidade de passar para o exterior conversas privadas ou advertências no e do balneário. É que o excesso de comunicação - e de comunicadores e, até , digo-o, de vozes pretensamente autorizadas e fidedignas! - mais do que justificante é perturbante. E como nos ensinou Lutero «todo o pecado é um tipo de mentira»! Sob pena de relermos Virgílio Ferreira quando nos diz: «Fecha os olhos para não seres cego»! 

Desilusão de Pedrinho e Gabriel no jogo contra o V. Guimarães (0-0), no Estádio da Luz

Hoje em Doha, capital do Catar, o Palmeiras, liderado por Abel Ferreira, disputa com a equipa mexicana do Tigres o acesso à final do Mundial de Clubes. O Palmeiras, vencedor da Taça dos Libertadores, regressou ao topo do futebol sul-americano e, em sequência, mundial, sob a liderança de um bem preparado e arrojado treinador português e depois de um outro treinador com grandes ligações a Portugal - Luiz Felipe Scolari - ter levado este emblemático clube de São Paulo à conquista da Libertadores em 1999. O que sabemos da sociologia do desporto brasileiro é que o São Paulo Futebol Clube é «associado à burguesia paulista , o Palmeiras à classe média, o Corinthians às classes populares e parte da nova torcida santista a jovens pobres». Na verdade, o interessante livro de José Miguel Wisnik, Veneno Remédio, o Futebol e o Brasil (2008) é bem expressivo no estudo  da «democracia racial» e do «homem cordial»!  Ali nos recorda - e muito útil também para este momento do Benfica! - que «ganhar remete ao imaginário, perder remete ao real,  empatar, voltar ao zero a zero do reinício». Abel Ferreira merece chegar à final deste Mundial de Clubes e, acredito, jogar, sem medo, com o campeão europeu, o forte Bayern Munique. Que amanhã tem de ultrapassar a histórica e forte equipa do Egito, o Al Ahly, para garantir o acesso à final da próxima quinta-feira. O que sabemos, de verdade, é que a projeção mediática do Mundial de Clubes do ano passado foi bem maior do que a deste ano. O que nos ajuda a perceber o que é a ilusão e ambição, as circunstâncias e a contemplação, a esperança e o entusiasmo, a perseverança e a vontade. E sabemos bem que «os grandes feitos são conseguidos não pela força mas pela perseverança»! E, aqui, Abel Ferreira, a sua alegria e as suas lágrimas, são a expressão pura da ambição e da entrega, da esperança assumida e da imensa perseverança. Felicidades, Abel Ferreira. Parabéns, Abel Ferreira!

 

Falemos de um clube de base do município de Barcelos que recebeu esta semana o seu relativo e sugestivo euromilhões. Na verdade, neste tempo de angustiante crise de tesouraria de centenas de clubes - e que já levaram muitos e  levarão alguns outros, até nos próximos dias, a medidas extraordinárias! - o Santa Maria, ali na freguesia de Galegos, acredita que vai receber cerca de 450 mil euros pela transferência de Paulinho do Sporting de Braga  para o Sporting. Tem direito a três por cento da transferência de um jogador que ali se formou e ali cresceu, a pulso. Boas notícias para um clube de base. Como são, em outro sentido, para a Ericeira e o seu emblemático Ericeirense ver Matheus Nunes, carioca -jagoz,  afirmar-se na equipa principal do Sporting. E para minha dor, marcando o tento solitário e vitorioso frente ao Benfica em Alvalade! Mas a vida, a vivida e a desportiva, é feita de tristezas e alegrias, de dor e de prazer. E acredito que «o prazer é sempre legítimo»! É o que ambiciono que o Benfica, este Benfica, concretize na segunda volta desta Liga: 47 pontos!