A doença de Alzheimer: o exercício físico ajuda a retardar o declínio cognitivo (artigo Vítor Rosa, 223)

Espaço Universidade A doença de Alzheimer: o exercício físico ajuda a retardar o declínio cognitivo (artigo Vítor Rosa, 223)

ESPAÇO UNIVERSIDADE21.02.202312:21

Acredita-se que a irisina (hormona e proteína libertada pelo exercício físico), ajuda a fortalecer a memória a curto prazo, prevenindo, assim, o declínio cognitivo. De acordo com um estudo internacional publicado na revista Nature Medicine, as proteínas e hormonas libertadas pelo exercício podem retardar o aparecimento de doenças, nomeadamente a de Alzheimer.

Segundo informações disponíveis no site da Associação Portuguesa de Familiares e Amigos dos Doentes de Alzheimer, “a Doença de Alzheimer é um tipo de demência que provoca uma deterioração global, progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas (memória, atenção, concentração, linguagem, pensamento, entre outras). Esta deterioração tem como consequências alterações no comportamento, na personalidade e na capacidade funcional da pessoa, dificultando a realização das suas atividades de vida diária”. Diz-nos Augusto Cury, em “Nunca desista dos seus sonhos” (Bertrand, 2016), “Do ponto de vista científico, nada é tão drástico para a memória e para o mundo das ideias como o esfacelamento cerebral. A memória desorganiza-se, biliões de informações perdem-se, os pensamentos descolam-se da realidade, a consciência mergulha no vácuo da inconsciência. O tudo e o nada tornam-se a mesma coisa” (p. 43).
 

Para chegarem à conclusão de que a irisina poderá ajudar no combate ao declínio cognitivo, os investigadores trabalharam em ratos. Quando os analisaram, notaram que os roedores com níveis de irisina no cérebro inferiores à média tinham problemas de memória a curto prazo e menos capacidade de reforçar as suas sinapses, ou seja, as ligações entre os neurónios que apoiam o fluxo de informação e a recordação da memória no cérebro. Outra observação importante a destacar é a seguinte: quando bloquearam os sinais da irisina, os roedores não beneficiaram do impulso cognitivo normalmente desencadeado pelo exercício. Esta proteína é, portanto, a chave para uma memória forte, observa o estudo. “As nossas descobertas mostram que a irisina pode ser uma nova terapia para prevenir a demência em pacientes em risco. Também atrasa a progressão da doença em pacientes em fases mais avançadas”, sublinham os investigadores.  Se foram feitos alguns avanços científicos, nota-se ainda que os mecanismos, através dos quais a irisina influencia a função cerebral, permanecem pouco claros. Por conseguinte, é necessário realizar-se mais investigação. 
 

Este estudo não é o primeiro a destacar os benefícios do exercício físico sobre o cérebro e a memória. Em 2016, investigadores americanos descobriram que as pessoas fisicamente ativas tinham uma matéria cinzenta mais desenvolvida do que as pessoas sedentárias, reduzindo, assim, o risco de desenvolvimento da doença de Alzheimer. No seu estudo, os cientistas observaram uma redução do risco de demência entre os idosos que gostam de jardinar, os que preferem andar de bicicleta em detrimento da condução e os que gostam de nadar. Observaram também que as pessoas que já tinham a doença ou um ligeiro défice cognitivo poderiam atrasar o declínio cognitivo através da prática de desporto. Quanto mais calorias os pacientes queimam, menos matéria cinzenta perdem nas áreas cerebrais responsáveis pela memória e a cognição.


Vítor Rosa

Sociólogo, Pós-Doutorado em Sociologia e em Ciências do Desporto, Doutor em Educação Física e Desporto, Ramo Didática.