Editorial: A BOLA celebra 78 anos

A BOLA 29.01.2023 08:00
Por João Bonzinho, diretor de A BOLA

Este país onde muitos parecem cheios de certezas, e onde, como escreveu Miguel Sousa Tavares, nunca tantos souberam tão pouco sobre tantas coisas, as minhas crescentes dúvidas não dizem, pelo menos, respeito, seguramente, à missão que julgo ser de um jornal e de um jornalista, que é a de escrever para os seus leitores, sem dever sentir-se condicionado, jornal ou jornalista, pela ideia de o mundo digital ter condenado as edições impressas, sobretudo, da comunicação diária.


Como tão bem lembrava na edição de ontem do jornal Público o jornalista José Alberto Lemos, mesmo admitindo a dura realidade de o número de leitores de jornais impressos ser hoje significativamente menor do que o número dos que consomem leitura através dos meios digitais, nunca, mas nunca, o jornalista deve olhar para os seus leitores como leitores de primeira e de segunda, consoante façam parte do reduzido grupo dos que ainda preferem sentir o papel, e dos que fazem parte do fortalecido universo que prefere procurar informação nos ecrãs pequenos dos smartphones ou nos de tamanho médio dos iPad.


A BOLA continua a cumprir hoje a nobre missão de falar com os leitores que mantêm, como diz José Alberto Lemos, os «hábitos antigos», sem deixar, evidentemente, de olhar para o fascinante mundo que todos os dias resulta da inevitável revolução tecnológica. Serão menos os leitores do papel, mas nunca serão leitores menores, são, sim, os leitores para quem nós, jornalistas e jornais, no limite, começámos por encontrar razão de existir.


Hoje, 29 de janeiro de 2023, celebra este desafiante jornal 78 anos de história e de muitas e muitas estórias, mas, sobretudo, de incessante e apaixonante aventura de tocar nos leitores, de lhes acrescentar algo de fundamental na vida, de informar a entreter, de pensar a conhecer.


Neste país onde tantos têm tantas certezas, e onde a gritaria, na década de 80, lembra-se, caro leitor?, sobre a construção do Centro Cultural de Belém, quase se confundiu com a feroz discussão provocada pela construção das Torres das Amoreiras, e, já na década de 90, o debate sobre o projeto do maravilhoso Parque das Nações pareceu ameaçar os alicerces da democracia, é ainda o mesmo país onde hoje, mais de 20 anos depois, parecemos viver a infeliz atmosfera onde todos são cada vez mais suspeitos e tudo merece ainda maior desconfiança, e vemos promover-se, demasiadas vezes e com demasiado despudor e facilidade, um inqualificável clima de inqualificável insinuação e de inaceitáveis julgamentos populares, em substituição de uma Justiça que qualquer sociedade deve clamar por verdadeiramente mais justa.


Na passagem dos 78 anos, cumpre-nos apenas continuar a sentir o espírito dessa nobre missão de informar e entreter leitores, sem esquecer a essencial defesa de direitos fundamentais, em particular a dignidade e integridade de todos, no fundo, como está historicamente gravada na longa vida deste jornal, a indispensável defesa da Liberdade. Não há como falar em democracia sem falar em liberdade de expressão e liberdade de imprensa.


Mas também não há como falar em liberdade de expressão e de imprensa sem falar em respeito e dignidade. Não se pode falar em liberdade sem falar no direito à vida privada, à honra e à dignidade da pessoa. Liberdade de expressão e de imprensa não pode admitir ofensa, calúnia, insinuação, invasão da intimidade. A liberdade é um direito. Mas, olhando talvez melhor, é também um dever.


A BOLA nasceu, pois, a 29 de janeiro de 1945, já lá vão 78 anos a servir leitores, com o melhor que sabemos e somos capazes, neste país e neste ritmo de vida cada vez mais efémero de hoje, mas com a profunda paixão de sempre. A BOLA é uma instituição que sempre enobreceu o País e a língua portuguesa.


Os tempos vão sendo outros e os dias da imprensa podem parecer, para muitos, dias contados. Pego, porém, de novo, na ideia do jornalista José Alberto Lemos, quando lembra que também, quando surgiu, a rádio ia acabar com os jornais, e, quando apareceu, a televisão também ia acabar com a rádio. Está tudo, ainda, por cá. Parabéns a todos os que, neste caso, mantêm, mantiveram e manterão A BOLA de pé.

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