“Por Portugal não me vou calar”, “Quotas? Só para os Costas”, “Contagem de Tempo de Serviço”, “Esta luta é a aula mais importante da vida”, “Não brinquem com o nosso futuro” – eis alguns exemplos de palavras de ordem que se viram em cartaz ou outro material improvisado e ouviram na manifestação de professores, realizada no passado dia 14 de janeiro de 2023, em Lisboa.
Faço já uma declaração de interesses: não sou membro de nenhum sindicato. Se esta manifestação foi convocada pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (STOP), ela ultrapassou claramente o movimento sindical. Muitos professores aderiram de forma espontânea, organizando a viagem de autocarro, e pagaram as suas despesas. Não sei quantos professores estavam presentes nas ruas, mas posso garantir que eram muitos. Era um “mar de gente” numa marcha pela escola pública (de qualidade), desde o Marquês de Pombal até à Praça do Comércio.
Foram também muitas as pessoas a apoiar esta contestação das janelas das suas casas. As reivindicações dos professores são antigas: melhores condições de trabalho e salariais, contagem do tempo de serviço, conceção de apoios financeiros para as deslocações a que são sujeitos todos os anos, fim da precariedade laboral, entre outras. Vergonhosa foi a atuação da GNR e da PSP, que tentaram impedir a chegada a Lisboa de dezenas de autocarros com os manifestantes. Fiscalizaram mochilas.
Como os professores têm sentido de humor, fizeram circular pelas redes sociais um pequeno cartaz a dizer: “Dia histórico para a GNR. Apreendidos: 37500 rissóis, 245000 croquetes, 125000 pataniscas, 55000 garrafas de água, 550 vuvuzelas, 4500 apitos”. Da minha parte, gritei palavras de ordem, cantei, acenei um lenço branco… e ainda tive tempo para ir almoçar, com outras colegas professoras, um belíssimo cozido de grão na Casa do Alentejo. Foi uma bela manifestação!
Vítor Rosa
Sociólogo, Pós-Doutorado em Sociologia e em Ciências do Desporto, Doutor em Educação Física e Desporto, Ramo Didática.