O fim da ‘Liga Covid-19’ (artigo de José Manuel Delgado)

CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO O fim da ‘Liga Covid-19’ (artigo de José Manuel Delgado)

NACIONAL24.07.202013:36

Disputa-se entre hoje e domingo a última jornada do Campeonato Nacional mais atípico do futebol português. E em boa hora Federação, Liga e clubes se puseram de acordo, com o beneplácito do Governo e a supervisão da Direção Geral de Saúde, para levar por diante as dez jornadas que faltavam para a conclusão da prova, à altura do confinamento. Jogando-se, criando-se condições para que as decisões acontecessem dentro das quatro linhas e não na secretaria, não só foi defendido o primado da verdade desportiva como foram geradas receitas que permitiram que, indo os anéis ficassem os dedos.
 

Foi penoso, sem dúvida, disputar os jogos à porta fechada, tendo como testemunhas presenciais as bancadas vazias. Mas antes isso que nada, e mesmo do ponto de vista dos jogadores, a sensação que fica é a de que, como a Coca-Cola de Fernando Pessoa, primeiro estranhou-se e depois entranhou-se, parecendo agora muito mais à vontade no novo normal.
 

E a próxima época, como será? Igualmente estrambólica, com uma interrupção a meio para deixar passar uma segunda onda de Covid-19? Ainda sem público a dar alma ao espetáculo? Com as receitas limitadas à televisão, sem bilhética nem merchandising?
 

Infelizmente, estes cenários não podem considerar-se catastrofistas. Antes fossem. Continuamos dependentes da vacina, que demorará algum tempo até que seja distribuída pela população, de uma cura que trave a doença, ou, em último caso, da resiliência de cada um perante os avanços e recuos do vírus, dos surtos que vão e vêm e nos deixam desamparados.
 

Do ponto de vista meramente desportivo, a temporada de 2020/21 vai ser, na melhor das hipóteses, de transição. E se, entre nós, em relação ao futebol da I Liga parece ter sido encontrado um suporte financeiro televisivo, já as dúvidas relativamente à II Liga são muitas e então quanto às restantes divisões e escalões etários, não só do futebol, mas de todas as modalidades, a incerteza paira e o receio de ser mantida a paragem está presente.
 

Porque, no fim do dia, continuará a prevalecer a necessidade de não comprometer a segurança sanitária; e os custos dessa segurança são exorbitantes, suscetíveis de serem acomodados por um nicho, mas incomportáveis para a generalidade do desporto.
 

Ao dia de hoje, olhando friamente para a realidade, não vejo como 2020/21 possa ser muito diferente de 2019/20. O que realmente mudou foi a nossa maneira, mais distendida, de conviver com a Covid-19, sem o pânico do primeiro mês de confinamento. Mas o vírus continua aí - na maior parte do Mundo, em crescimento exponencial – e a única certeza (se é que há certezas) é a de que o País não aguenta outro lockdown.