Futebol: ‘a bagatela mais séria do mundo’ (artigo de Vítor Rosa, 95)

Espaço Universidade Futebol: ‘a bagatela mais séria do mundo’ (artigo de Vítor Rosa, 95)

ESPAÇO UNIVERSIDADE16.04.202018:26

Uma bola, 22 jogadores. Duas equipas adversárias, mas não inimigas, metade de cada lado. Fora das quatro linhas, ficam os adeptos(as) das duas equipas. Muitas vezes agrupam-se em claques de apoio e, frequentemente, vestem-se a rigor com as camisolas, cachecóis, bonés e gorros do clube que apoiam.

Jogo criado em Inglaterra por homens e para homens, o futebol, grande competição desportiva, é um produto de globalização. É uma indústria de entretenimento que age intensamente na cultura e na economia dos países. O ambiente nos estádios de futebol suscita reações contrastadas. Uns celebram a importância das multidões que assistem aos jogos, outros denunciam a agressividade e a violência dos adeptos, outros ainda exaltam a força emocional dos cantos e clamores que aí ressoam. Seja fator de atração ou de aversão, o futebol, como espetáculo, raramente deixa indiferente os atores sociais. Entre a glorificação entusiasta - e o entusiasmo é tal que se tornou a “bagatela mais séria do mundo”, segundo Bromberger (1998) - e a condenação definitiva, entre a fascinação devota ou a repulsão, o leque de atitudes e de opiniões são particularmente amplas.

As bancadas e as tribunas compõem um mosaico de microterritórios, mais ou menos visíveis e delimitados, mais ou menos efémeros e instáveis, mais ou menos estruturados e organizados. São o local onde se propagam as emoções mais profundas; basta olhar para os rostos para nos apercebermos da multitude de expressões que animam e revelam a panóplia de sentimentos vividos: angústia, alegria, cólera, desespero, injustiça, etc.

Acolher um megaespectáculo de futebol, tem investimentos avultados (infraestruturas, segurança, marketing, etc.). São também um meio de promoção dos países, evidenciando a importância social, cultural e económica que os grandes eventos desportivos assumem nas sociedades. Com o adiamento do Euro2020 para 2021, devido à crise originada pelo coronavírus, perdeu-se tudo isto. Para já, as maiores vítimas pelo adiamento são as federações nacionais. As fases finais das grandes competições são uma boa fonte de receita.

Referência:

Bromberger, C. (1998). Football, la bagatelle la plus sérieuse du monde. Paris: Bayard.

Vítor Rosa

Sociólogo, Doutor em Educação Física e Desporto, Ramo Didática. Investigador Integrado do Centro de Estudos Interdisciplinares de Educação e Desenvolvimento (CeiED), da Universidade Lusófona de Lisboa