Espaço Universidade Futebol: ‘a bagatela mais séria do mundo’ (artigo de Vítor Rosa, 95)
Uma bola, 22 jogadores. Duas equipas adversárias, mas não inimigas, metade de cada lado. Fora das quatro linhas, ficam os adeptos(as) das duas equipas. Muitas vezes agrupam-se em claques de apoio e, frequentemente, vestem-se a rigor com as camisolas, cachecóis, bonés e gorros do clube que apoiam.
Jogo criado em Inglaterra por homens e para homens, o futebol, grande competição desportiva, é um produto de globalização. É uma indústria de entretenimento que age intensamente na cultura e na economia dos países. O ambiente nos estádios de futebol suscita reações contrastadas. Uns celebram a importância das multidões que assistem aos jogos, outros denunciam a agressividade e a violência dos adeptos, outros ainda exaltam a força emocional dos cantos e clamores que aí ressoam. Seja fator de atração ou de aversão, o futebol, como espetáculo, raramente deixa indiferente os atores sociais. Entre a glorificação entusiasta - e o entusiasmo é tal que se tornou a “bagatela mais séria do mundo”, segundo Bromberger (1998) - e a condenação definitiva, entre a fascinação devota ou a repulsão, o leque de atitudes e de opiniões são particularmente amplas.
As bancadas e as tribunas compõem um mosaico de microterritórios, mais ou menos visíveis e delimitados, mais ou menos efémeros e instáveis, mais ou menos estruturados e organizados. São o local onde se propagam as emoções mais profundas; basta olhar para os rostos para nos apercebermos da multitude de expressões que animam e revelam a panóplia de sentimentos vividos: angústia, alegria, cólera, desespero, injustiça, etc.
Acolher um megaespectáculo de futebol, tem investimentos avultados (infraestruturas, segurança, marketing, etc.). São também um meio de promoção dos países, evidenciando a importância social, cultural e económica que os grandes eventos desportivos assumem nas sociedades. Com o adiamento do Euro2020 para 2021, devido à crise originada pelo coronavírus, perdeu-se tudo isto. Para já, as maiores vítimas pelo adiamento são as federações nacionais. As fases finais das grandes competições são uma boa fonte de receita.
Referência:
Bromberger, C. (1998). Football, la bagatelle la plus sérieuse du monde. Paris: Bayard.
Vítor Rosa
Sociólogo, Doutor em Educação Física e Desporto, Ramo Didática. Investigador Integrado do Centro de Estudos Interdisciplinares de Educação e Desenvolvimento (CeiED), da Universidade Lusófona de Lisboa