O basquetebol reinventa-se? - Parte 3 (artigo de António Pereira)

Espaço Universidade O basquetebol reinventa-se? - Parte 3 (artigo de António Pereira)

ESPAÇO UNIVERSIDADE03.04.202015:34

Promover a formação de jogadores é assumir a importância que os escalões de formação devem ter para a estratégia de desenvolvimento do basquetebol português e um dos propósitos do basquetebol.

Através da prática desportiva, formamos atletas que desejam e ambicionam jogar no escalão sénior, mas contribui-se igualmente para formar homens através da prática desportiva, preparando-os para enfrentar os desafios que as suas vidas pessoais e profissionais vão encontrar no futuro.

Hoje, temos presente que a vida pessoal e a atividade profissional de cada pessoa é uma atividade de equipa, e mais do que nunca, para termos sucesso, temos de ter bons colegas de equipa, bons mestres e líderes capazes de partilhar conhecimentos com os mais novos, e que ao mesmo tempo sejam bons modelos.

Todos no basquetebol têm um papel a desempenhar na construção de atitudes e do carácter dos mais jovens.

Ver um jogo de basquetebol nos escalões de formação acaba em muitos casos, por se tornar um repto, por um conjunto de situações com que somos confrontados.

Causa-me algum desconforto ver jogos muito desnivelados!

Cria-me alguma estranheza ver os ataques, quase sempre a meio do campo, robotizados e que, no final, acabam por ser decididos por um bloqueio direto ou por um único elemento (quase sempre o mesmo), num contexto de 1x1, com o tempo de ataque a esgotar-se. A maioria das equipas parte de “coreografias” complexas, para o estado de desenvolvimento da equipa, dos jovens jogadores e quando nada resulta o tal “quase sempre o mesmo” acaba por resolver a situação.

Não vos cria confusão que muitos dos treinadores que treinam os mais jovens não conhecem o jogo, evidenciando enormes dificuldades na liderança e nas atitudes pedagógicas?

Neste contexto, como se pode reinventar o basquetebol português na formação?

Através de um conjunto de medidas que permitam o melhoramento das diversas etapas que um atleta tem ao longo do seu percurso e que considero fundamental para que o jovem que ambiciona jogar em seniores tenha mais possibilidades de ter sucesso.

Cabe à Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB), às Associações distritais, à Escola Nacional de Basquetebol, aos Clubes, Juízes, e outras partes envolventes, analisarem e tomarem medidas, por forma a que a formação assuma uma real importância na estratégia de desenvolvimento da modalidade.
 

As nossas propostas incidem em 4 pilares de atuação. Assim temos:

1 - Formação de treinadores e ensino do jogo:

- Elaboração de um manual/guia de auxílio ao treinador, devendo neste documento constar os conteúdos programáticos e objetivos a atingir por cada etapa de aprendizagem do percurso de formação e que o atleta deverá dominar antes de passar à etapa seguinte;

- Formação de treinadores com conteúdos que permitam que estes ensinem o jogo que atualmente se joga ao nível mundial e ter em conta qual a provável evolução do jogo na próxima década;

- Existência de um quadro de treinadores interassociativo com capacidade e experiência que proceda à avaliação rigorosa do trabalho de cada treinador no clube;

- Reconhecimento do trabalho dos treinadores de formação através da premiação pública e envolvimento em projetos da FPB;

2 – Quadros competitivos das competições e sua posterior estabilidade:

- Repensar o quadro competitivo dos diversos Campeonatos Nacionais e Regionais/Zonais de formação masculinos e femininos;

- Repensar o sistema de competição da Festa do Basquetebol Juvenil, nomeadamente na idade dos participantes (sub 15 e sub 13);

- Repensar o quadro competitivo NBA Jr., aproveitando a competição para que esta seja o verdadeiro reflexo do trabalho da escola e não um prolongamento do clube;

- Incentivar os clubes a investir na relação com as escolas e desenvolvimento de atividades a partir destas;

- Em determinadas competições, dar a possibilidade de cada associação poder apresentar mais do que uma equipa, desde que se mostre competitiva e contribua para a valorização do grupo e da competição;

– Introdução dos Campeonatos Distritais/Zonais e Nacionais de 3x3, nos moldes dos restantes campeonatos;

3 – Desenvolvimento do jovem jogador:

– As subidas de escalão etário devem responder a critérios rigorosos de avaliação do atleta.

- Os atletas devem jogar no escalão superior sempre que as suas competências técnicas e qualidades físicas e estrutura mental o permitam como forma de desafiar o atleta para novos patamares de exigência. Contudo, não se deve descurar a possibilidade de o atleta jogar no seu escalão etário, por forma a desenvolver a sua autoconfiança e não só por motivos competitivos.

- Há que evitar, a todo o custo, as subidas de escalão ad hoc que enfermam o basquetebol português, num claro subterfúgio para constituir uma equipa de escalão superior;

- O jovem atleta precisa de adquirir competências que permitam no futuro conhecer o jogo, capacidade de decisão face aos problemas que o jogo apresenta, desenvolvimento de qualidades técnicas, físicas e mentais;

4 – Clubes de formação

– Incrementar os valores a atribuir a clubes pela participação de atletas em seleções distritais e nacionais, ao abrigo de uma iniciativa já adotada pela FPB (medida já em vigor, mas que carece de ampliação);

- Fomentar e apoiar a relação de clubes com a escola (local de excelência para o recrutamento);

- Apoio à campanha “1 bola 1 jogador”, onde poderia ser incluído mais algum material;

- Apoio ao basquetebol informal (basquetebol jogado pelos atletas, desenvolvido pelas regras do grupo);

Ter audácia para reinventar o basquetebol português ao nível da formação deve ser expresso:

- Desenvolver o gosto pelo basquetebol através de experiências positivas e por o desporto em geral, tornando o jovem atleta num adepto/fan para o resto da vida;

- Incentivar de forma progressiva o jovem atleta na vontade de querer jogar no escalão sénior;

- Na potencialização através do trabalho da qualidade dos jovens jogadores com reflexo na posição dos rankings de jovens da FIBA;

- Verificar que existe um impacto nas competições seniores, no que diz respeito ao número de jogadores presentes no plantel das diversas equipas e tempo de jogo útil significativo num jogo de basquetebol.

Gosto de ter presente a frase “Uma competição só pode sobrevier se tiver formação de qualidade ou dinheiro para contratar jogadores estrangeiros”.

Como é que uma formação de atletas com qualidade pode contribuir para a sustentabilidade e reinvenção do basquetebol português?

António Pereira

António Pereira, é um ex-jogador e ex-treinador de basquetebol, tendo desenvolvido a função de scouting durante vários anos. É licenciado em Comunicação Organizacional com as especialidades de Comunicação de Marketing e Comunicação de Relações Públicas, Mestre em Marketing e Comunicação e escreve sobre Gestão do Desporto, Marketing e Comunicação do Desporto no blog https://apbasketball.blogspot.com/ , https://ideiasparaobasquetebol.blogspot.com/ entre outros.