Ricardo Costa lembra o percurso suis gerneris como treinador e garante: «Tenho muito orgulho»
Ricardo Costa viveu dois anos anormais enquanto treinador do FC Porto: venceu todos os jogos da fase regular em duas épocas seguidas... mas acabou sem o título nacional. Depois dessa experiência, a opção do técnico foi radical: assumir o comando do FC Gaia, na 2.ª divisão. No primeiro ano, levou o clube à final four da Taça de Portugal, no segundo subiu de divisão e no seguinte ficou em 7.º já entre a elite. Seguiu-se um ano no Avanca, antes de dar o salto para o Sporting.
Quando foi apresentado no FC Porto, em 2015, o clube vinha de um período de grande domínio, e o Ricardo na apresentação disse ter a certeza de que seriam campeões. Se chegasse hoje ao Sporting, teria a mesma confiança?
Completamente! Podemos falar de há nove anos: tivemos dois anos a ganhar os jogos todos da fase regular, tal como fizemos agora com o Sporting. Eu sei que as pessoas podem não valorizar isso, mas eu valorizo. Eu já era competitivo como atleta, queria estar até à última para poder ganhar! Por isso, posso pôr-me em bicos de pés para dizer que as minhas equipas são competitivas, ganhando ou perdendo.
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Chegou a temer que acontecesse o mesmo este ano?
Naquela altura, o formato competitivo era diferente, havia play-off. Na época passada, nós partimos nove pontos à frente [os pontos eram divididos ao meio para a 2.ª fase], perdemos um jogo - que é normal ir perder ao Dragão – e esses nove pontos foram à vida. Podíamos ter perdido. Porque se nós temos dois ou três atletas importantes que não estão… e se calhar dizia-se que o Ricardo Costa é um pé frio! Mas já seria mau treinador? Eu acho que não. A análise que faço do meu trabalho é muito mais do que apenas e só de meter a medalha ao peito. E hoje sou muito melhor treinador, como um jornalista com 20 anos de experiência, é muito melhor do que quando começou. Mas não tenho vergonha do meu passado. Tenho orgulho enorme, sabendo que hoje sou melhor do que era há dez anos.
Treinador recebeu um convite e desafiou os filhos a acompanharem-no
Após a conquista do título, partilhou que teve um momento, ali com o troféu à sua frente, em que ficou a pensar no seu trajeto. Após sair do FC Porto foi treinar o FC Gaia, na 2.ª divisão e demorou quatro anos até regressar a um grande. Quão importante foi isso na sua carreira?
[sorri] Quando decidi ir por esse caminho, a minha família perguntou-me se eu estava bem. E eu tive momentos de reflexão para pensar no que queria para a minha carreira. Eu acreditava e acredito sempre em mim e na minha capacidade enquanto treinador e digo muitas vezes aos atletas que, por vezes, temos de dar dois passos atrás para dar um à frente. Eu era consciente de que precisava de provar às pessoas que era capaz. Não pondo em causa a minha capacidade ou aquilo que eu pensava sobre mim. E não tive problema nenhum em assumir: vou para a 2.ª divisão, vou construir aqui uma equipa, rodear-me de atletas que conheço daqui que são umas mais valias.
Trabalhou com equipas muito muito jovens.
Sim. Eu disse ao [Pedro] Rêma [então dirigente do clube e pai de Diogo Rêma] «vou conseguir subir esta equipa e vamos lutar por estar lá em cima». No primeiro ano fomos à final four da Taça, perdemos por quatro contra o Benfica. No ano seguinte conseguimos subir e foram uns anos que me deram um gozo enorme. Tive a possibilidade de começar a trabalhar com os meus filhos e de me dedicar todos os dias. Há coisas que nos acontecem na vida e que não percebemos o porquê de nos estarem a acontecer. Mas acredito muito em mim e na força do trabalho. E, acima de tudo, tenho orgulho no meu trajeto.
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E era nisso que pensava logo após sagrar-se campeão?
Sim. Naquele momento, quando fui campeão pelo Sporting, foi um momento de introspeção e de pensar que valeu a pena. Valeu a pena dar os dois passos atrás. E não vou mentir: muitas vezes pensava: eu gostava de ter uma oportunidade num grande. E por isso tenho de agradecer ao Carlos Carneiro, que se lembrou de mim, e de dois miúdos que podiam vir a ser [grandes jogadores], mas ainda não eram. Acho que o mérito é dele, porque foi ele que acreditou e propôs ao presidente Frederico Varandas. Disse que tinha uma direção para o andebol Sporting e acho que saímos todos a ganhar.