Ricardo Costa, treinador do Sporting e pai das duas principais figuras, fala sobre os planos futuros de dois dos jogadores mais promissores do mundo
O futuro de Martim e Kiko Costa, duas das maiores promessas do mundo, é tema nesta segunda parte da entrevista com Ricardo Costa, treinador do Sporting, mas também pai dos dois jogadores. O técnico quer contar com os jogadores, e o pai está feliz porque eles... estão felizes. Por isso, não há muito mais a dizer por enquanto, no que diz respeito aos jovens de 21 e 19 anos.
Indo um bocadinho ao lado pessoal, mas sem sair do andebol. Foi falado que houve propostas nos últimos dois anos pelo Kiko e pelo Martim. Qual é o peso do pai Ricardo, no futuro deles?
Neste momento é difícil conseguir separar as duas coisas, mas acima de tudo eu sou treinador do Sporting e quero o melhor para o Sporting. Quero continuar a vencer e quero ter os melhores jogadores. Por isso, enquanto for possível eu lutar para que eles cá estejam, irei fazê-lo. Quando eles não estiverem contentes de cá estar, não sou eu que os vou obrigar a ficar. Agora, quero que eles se sintam à vontade, mas acima de tudo que se sintam felizes. Todos os treinadores gostam de ter os melhores atletas, eles, para mim, são dos melhores.
Houve possibilidade de saírem?
Esse interesse nunca foi assumido realmente. Há muita gente a perguntar qual é a situação, mas nunca existiu nada concreto. Se calhar, porque nós também não deixámos que passassem a coisas concretas, porque estamos felizes aqui. Sabemos que eles ainda têm alguns anos para acabar a sua formação, para se tornarem noutro tipo de jogadores, e não queremos dar passos que não sejam aqueles que nos interessam.
Que passos são esses?
Neste momento, o que nos interessa é estar no Sporting, concentrar-nos no clube. O Sporting também fez muito por nós, nós queremos continuar a fazer, enquanto família Costa, até por uma dívida de gratidão, se assim se pode dizer.
Pego nas suas palavras do tal catálogo que os clubes grandes têm. Acredito que o Kiko e o Martim estejam nesse catálogo. Vai ser possível segurá-los muito mais tempo?
Eu espero que sim e confio no projeto do Sporting. Agora, não posso responder daqui a um, dois ou três anos, porque não sei. No mundo do desporto tudo muda de um momento para o outro. Às vezes há lesões, há momentos em que os atletas não estão tão bem e que existe depois o desinteresse. Nós temos de manter os pés na terra, viver o dia-a-dia e olhar para aquilo que temos. O que tiver de acontecer, irá acontecer naturalmente. Sinceramente, não é algo que nos preocupa. E eu entendo essa pergunta de muita gente, mas acreditem que nossas conversas em casa não passam minimamente por aí a procurar outros sítios. Nós estamos muito felizes aqui, queremos continuar no Sporting. Algum dia terá de acontecer, mas não me tira o sono, nem a eles.
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O Kiko já disse que um dos sonhos que tinha para a carreira era ganhar a Liga dos Campeões com o pai e o irmão. Neste momento o Sporting está na Liga dos Campeões, mas longe dessa luta ainda. Podemos vir a ter aqui uma segunda versão da família Dujshebaev?
Oxalá, e oxalá pudesse até ser aqui no Sporting, mas sabemos que não é fácil. Só para se perceber, o Veszprém é uma equipa que gasta muitos milhões e nunca conseguiu ganhar uma Champions. É muito, muito complicado. Diria que no andebol, o Barcelona está como o Real Madrid para o futebol: é um papa-taças. Tem um campeonato muito, muito fácil, que lhes permite chegar à parte final da época vivo e ganhar a Liga sem muito sacrifício. E depois podem apresentar-se frescos, enquanto as equipas alemãs lutam até à última jornada pela Bundesliga. E quando chegam à Final Four, vê-se que muitas vezes não têm força. Mas também temos de lhes dar mérito porque tem uma grande equipa.
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O Ricardo foi dos primeiros andebolistas portugueses a emigrar numa altura em que o jogador português emigrava muito pouco, também. Agora já vemos jogadores a saírem para as grandes equipas, mas não treinadores. Sente que pode vir a abrir essa porta num futuro?
Sinceramente, não é... Tinha essa ambição quando jogava. Se me vejo num projeto europeu? Não é algo que eu tenha uma vontade, como tinha quando era jogador e sentia queria ir lá para fora. Neste momento, estou numa equipa competitiva, estou numa boa cidade, jogo a maior prova de clubes do mundo. O que é que eu quero mais? Se gostava de ter uma equipa com orçamento de 20 milhões? Certamente que gostava. E gostava de ser campeão europeu, não vou dizer que não. Mas não é uma ambição ou algo em que pense muito. Se tiver de acontecer, irá acontecer.
Já disse que passou grande parte da carreira de jogador a desejar ser treinador. Está a corresponder às expectativas criadas por um atleta que jogou no mais alto nível?
Sim, está. Tive sempre esse sonho, desde os 22 ou 23 anos. Aliás, quando deixei o curso de arquitetura, aos 19, e me licenciei em Ciências do Desporto, essa já era a motivação. Também gostava de ser professor, e o que aprendi no curso ajudou-me muito a estruturar o pensamento enquanto treinador. Mas posso dizer que não tenho saudades do tempo em que jogava. Zero! Mas há muitos anos.
A transição foi fácil?
Não vou dizer que não passei mal, quando deixei de jogar, aos 35 anos. Foi muito duro, sobretudo porque o meu cérebro continuava a trabalhar como atleta de alta competição e pedia-me que eu treinasse todos os dias. Mesmo que o meu corpo me pedisse para parar, porque já tinha muitas dores e algumas limitações. E esse desconforto é duro, por isso passei mal. Mas depois foquei-me em ser um bom treinador e nunca mais pensei em jogar. Eu gosto da parte de controlar o processo. É a mesma coisa que sermos pais e sermos filhos: claro que eu quero continuar a ser filho, mas dá-me um gozo enorme ser pai e controlar o processo de crescimento dos meus filhos. Nós não queremos voltar a viver em casa dos nossos pais. E eu queria estar do outro lado a controlar o processo.
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Mas dá mais trabalho…
[risos] Dá imensamente mais trabalho! Dá demasiado trabalho. Quer dizer… Eu tive um treinador, o Jordi Ribera [atual selecionador de Espanha] que dizia: «um treinador não é pago para trabalhar. É pago para ter resultados. Se trabalhas muito ou pouco, é problema teu». Por isso, não podemos dar a desculpa de que dá muito trabalho. Temos é de conseguir que as nossas equipas vençam. Se é com muito ou pouco trabalho, é uma escolha tua.