O sonho americano de Jenson Brooksby: do autismo severo ao triunfo em Houston
Quando tinha quatro anos, não conseguia articular duas palavras seguidas. Chorava, gritava, os barulhos incomodavam-no, só gostava de sumo e leite com chocolate. O seu comportamento diferente das outras crianças tinha uma razão: ainda bebé foi diagnosticado com perturbação do espectro do autismo muito grave.
Agora, aos 25 anos, venceu o primeiro torneio ATP da sua carreira, em Houston, derrotando na final o compatriota Frances Tiafoe por 6/4 e 6/2, tornando-se ao mesmo tempo o terceiro tenista com pior ranking a conseguir conquistar um troféu.
Jenson Brooksby, who saved a match point in three different matches to reach the final, defeats Frances Tiafoe 6-4 6-2 for the @mensclaycourt title. pic.twitter.com/wJl80Nmvv1
— TennisNow (@Tennis_Now) April 6, 2025
Brooksby entrou na qualificação como 507.º do Mundo depois de dois anos de ausência devido a uma lesão no pulso e a uma suspensão por ter falhado três testes antidoping em 12 meses e para vencer o ATP 250 salvou match points em três partidas diferentes. Pior caminhada do que o americano, só Marin Cilic que saiu de 777.º do ATP para vencer o torneio de Hangzhou em setembro de 2024 e Lleyton Hewitt, que era 550.º da hierarquia quando venceu o torneio de Adelaide em janeiro de 1998, com apenas 16 anos.
Mas a história de Jenson Brooksby joga-se muito para lá dos courts.
«Acho que enfrentei muitas adversidades na vida, dentro e fora do ténis. Ainda fico nervoso, um pouco tenso com estas circunstâncias de pressão nos jogos, mas acho que ter enfrentado outras coisas difíceis na vida dá-me uma perspectiva diferente», explicou ele com um sorriso de orelha a orelha após a vitória.
Curiosamente, o tenista venceu na semana do Dia Mundial da Consciencialização sobre o Autismo, que é dia 2 de abril.
Jenson começou na terapia ainda não tinha três anos. Até hoje Michelle Wagner está ao seu lado. «Quando conheci Jenson, aos dois anos e nove meses, ele era uma criança gravemente afetada pelo autismo. Completamente envergonhado, com uma necessidade imperiosa de que tudo corresse bem e uma incapacidade de tolerar a frustração ou a mudança. Além disso, era hipersensível aos sons», descreveu a terapeuta.
«Quando penso ou falo sobre isso, os meus olhos enchem-se de lágrimas. É mágico, é louco quando sabemos de onde vem. Muitos dos jovens que acompanhei conseguiram tornar-se independentes e encontrar trabalho a tempo inteiro após os estudos, mas nenhum como Jenson», disse.
Jenson Brooksby, champion on the ATP tour for the first time, spoke with me after his big win in Houston. Seems fitting this big moment in his career takes place in April, the month of Autism Awareness, after recently revealing he was on the spectrum himself as a child.#USClay pic.twitter.com/9zknb5xgNK
— Myles David (@TunedIntoTennis) April 7, 2025
Quando tinha cinco anos, os pais decidiram inscrevê-lo em aulas de ténis. E ficaram de boca aberta.
«As primeiras aulas foram incríveis. Este menino não conseguia pronunciar uma palavra, mas era capaz de aplicar de forma muito precisa e incansável as instruções técnicas que lhe eram dadas em court. Nessa altura considerei esta atividade altamente terapêutica», explicou, sem contudo, imaginar o que se seguiria.
🎾 Saves match point in first round of qualifying
— Tennis TV (@TennisTV) April 6, 2025
🎾 Saves 3 match points in second round
🎾 Saves match point in semifinals
🎾 Wins first ATP Tour title
What a week for Jenson Brooksby! #USClay pic.twitter.com/qKBAraoWXx
Aos sete anos, mudou de escola e os pais não informaram ninguém sobre as suas diferenças. Seguiu sem problemas e cada vez mais focado e apaixonado pelo ténis, tal como no sonho da profissionalização.
Em 2021, com 21 anos, chegou à final do ATP Newport. Perdeu. Um ano depois voltou a sair derrotado em Dallas e Atlanta, mas, nessa altura, era o n.º 33 do ranking ATP, sem que ninguém imaginasse o que tinha passado para ali chegar.
O seu american dream era cada vez mais real, mas 2023 não trouxe nada de bom. Uma lesão num pulso obrigou-o a uma cirurgia e as coisa ficariam ainda mais complicadas quando, em outubro, ainda lesionado a Agência Internacional para a Integridade do Ténis castigou-o com 18 meses de suspensão por ter faltado a três testes antidoping.
O seu mundo desabou.
A defesa explicou os problemas de comunicação entre o tenista e a entidade e a suspensão acabou por ser reduzida para oito meses assim que os investigadores souberam da sua condição médica.
Antes de regressar à competição, dias antes do último natal, Brooksby decidiu tornar pública a sua condição. «É algo que não quero ter de guardar para mim. Espero que isso inspire as famílias a não desistirem».
Tal como o próprio fez.