ENTREVISTA A BOLA Neemias Queta: «O meu pai só queria que eu fosse alguém»

BASQUETEBOL19.06.202411:47

Instantes após sagrar-se campeão da NBA, o poste português sentou-se à conversa com A Bola para falar sobre aquilo que acabara de conseguir; A perda do pai três dias antes do jogo do título deu-lhe ainda mais força

Ainda no meio da festa, o primeiro português a sagrar-se campeão na NBA falou com ABOLA e dedicou o título ao pai que faleceu três dias antes. Do Vale da Amoreira para o topo do Mundo do basquetebol, Neemias Queta na primeira pessoa com as emoções à flor da pele.

BOSTON— Neemias é campeão da NBA. Ali dentro do balneário foi uma festa incrível. Qual é a sensação?

— É uma sensação indescritível… Todos, todos trabalhámos um ano inteiro para chegar a este momento. Um ano inteiro com um objetivo e agora chegámos aqui, é o ponto final. Conseguimos concretizá-lo. É tudo o que podíamos pedir.

— Jogou nas finais, jogou no ‘play-off’, teve uma temporada que pode ser considerada como a sua melhor época de sempre. Como é que faz este balanço?

— É um balanço muito positivo, quer em termos coletivos, quer em termos individuais. Fomos competitivos em todos os aspetos e, especialmente eu, em termos individuais, também consegui competir muito. Consegui afirmar-me muito mais na liga e acho que foi um ano para repetir. E que para o ano seja ainda melhor.

— O que é que foi o melhor de toda esta época? O que é que vai recordar?

— Nesta altura, é muito difícil escolher um momento específico. Estamos todos muito felizes só por estar a viver isto agora. Mas, acho que um dos momentos mais incríveis para mim foi quando tivemos uma sequência em que conseguimos ganhar muitos jogos seguidos. Quando fizemos aquela sequência dos jogos iniciais, em casa, sem perder. Foi incrível naquela altura em que toda a gente nos apoiava. Ficámos muito felizes com isso. Sentimos os adeptos a apoiar-nos desde o início e agora é tempo de celebrar.

— O que diria ao menino do Vale da Amoreira, no outro dia falámos nisso, que ia para os treinos, que se dedicou e que sonhou?

— Aquelas viagens… Andar mais de uma hora para ir para os treinos e depois, às vezes, voltar a andar aquele tempo todo no regresso, ou apanhar boleia de colegas, valeu sempre a pena. Sempre. Não só porque cheguei a este momento, onde estou agora, mas pelo humor, pelo jogo, pela maneira como soube sempre desfrutar e como fui capaz de ultrapassar todos os obstáculos para aqui chegar. Quer seja no College, no Benfica, no Barreirense, Sacramento ou aqui, houve sempre muitos momentos difíceis, mas acho que sempre soube lidar com eles da melhor maneira. E agora é saber desfrutar porque Deus é Pai e estou muito feliz com o momento de hoje.

— Há pouco perguntei-lhe sobre tatuagens na NBA porque deve ser dos poucos que não tem e para perceber se, agora que é campeão, faria uma?

— Não, não, por agora não, não estou a pensar muito em fazer tatuagem sobre isso. Graças a Deus tenho sido campeão em muitas fases da minha carreira e acho que ainda tenho muitas condições para poder voltar a viver um momento como este e, por isso, posso esperar para que, no fim da minha carreira, possa ter um número ilimitado de campeonatos e, nessa altura, fazer uma tatuagem.

— Estava a dizer que foi campeão várias vezes mas nada se compara a isto, pois não?

— Não, não. Por acaso nunca fui campeão nacional, tive muitas oportunidades para ser campeão nacional em Portugal mas agora posso dizer que sou campeão nacional.

— E da NBA!

— E da NBA que é a melhor liga do mundo. A partir daqui é o sonho máximo.

— No meio desta alegria toda, a maior parte das pessoas não sabe, estes últimos dias não foram fáceis porque no sábado faleceu o seu pai. Ontem, nem sequer esteve a treinar-se, penso que a equipa lhe deu dispensa por causa disso. Foi difícil tentar concentrar-se e estar aqui no treino sabendo que não podia estar ao pé dele, sabendo que ele não podia ver esta alegria que está a viver e que a sua família não podia estar aqui consigo?

— Não sei… Ainda não tenho palavras para descrever este momento, para descrever esta situação difícil pela qual a minha família e eu estamos a passar, mas a melhor maneira de explicar este momento é saber que o meu pai está num sítio melhor, que o meu pai está muito feliz com o que tenho feito na minha carreira. Acho que a esta altura estou a deixá-lo muito orgulhoso porque sempre lutei pelos meus objetivos. Ele sempre me ensinou a ser uma pessoa humilde e a lutar pelo que queria. Hoje tenho um dos objetivos conquistados, e só tenho pena ele estar aqui presente para ver.

— Este título acaba por ser da família, não é? É de todos e se calhar dedicado a ele?

— É, é. Este título estou claramente a dedicá-lo ao meu pai. Ele sempre me quis ver ganhar, sempre quis apoiar-me para que eu fosse alguém na vida. Só tenho a agradecer-lhe por tudo o que fez por mim.