Japa: «Fico muito contente por ficar na história do pentacampeonato do Benfica»
Japa em entrevista ao jornal A BOLA

ENTREVISTA A BOLA Japa: «Fico muito contente por ficar na história do pentacampeonato do Benfica»

VOLEIBOL30.05.202408:00

André Aleixo, ou Japa como é conhecido, chegou à Luz quando os encarnados tinham conquistado o primeiro de cinco campeonatos consecutivos, contudo, o zona 4 brasileiro tornou-se numa peça fundamental do penta das águias durante o seu percurso no clube português. Até porque foi das mãos do jogador de 33 anos que o inédito feito dos lisboetas foi selado

Indo diretamente ao assunto, pela primeira vez na história o Benfica conquista o pentacampeonato. O que eu queria perguntar é se o título tem um gosto extra, visto que o ponto que deu o título saiu das mãos do Japa.

 - [risos] Já me perguntaram isso. Claro que eu fico contente. Querendo ou não, estou a fazer parte da história [do clube]. Agora sempre que passar o último ponto do de sempre do pentacampeonato do vólei do Benfica, eu vou aparecer. Claro que na altura não pensei nisso, só queria ajudar a equipa o melhor possível do começo ao fim da partida. Fico muito contente de ter sido eu a fazer o último ponto e ficar para a história do Benfica.

Vamos ao início da temporada. A época começou com a Taça Ibérica, o Benfica chegou à final e foi vencido pelo clube espanhol Guagas. De que forma a derrota influenciou o resto da temporada?

- Uma derrota nunca é bem-vinda. Pelo menos para a nossa equipa, porque é uma coisa que fica a doer por um bom bocado de tempo. Claro que tinha outras circunstâncias. Foram o primeiro e segundo encontros do ano. Dissemos que estava tudo bem, mas doeu na mesma. Tal como aconteceu antes do play-off final, na Taça de Portugal, quando perdemos na semifinal. Também doeu. Doeu a semana inteira, mas passou. Trabalhámos no duro, continuamos a trabalhar forte para chegar bem às finais. E assim fomos evoluindo.


Pouco depois também competiram na Supertaça e venceram a Fonte do Bastardo. O título deu algum ânimo para o início da temporada e para o que viria a acontecer?

- Com certeza, até porque há dois anos perdemos a Supertaça para a Fonte do Bastardo. Lembro-me bem, porque depois não temos mais nenhum título para conquistar até à Taça de Portugal que é em março/abril. Foi um período muito longo sem troféus. Parecia que estávamos na… vou dizer assim: na m****. Mas sim, é bom começar com um título. Até porque para a Supertaça já começamos a treinar no duro, por isso, se venceres, vais bem para o resto da temporada. Foi igual há dois anos atrás, treinámos forte, chegámos e perdemos. Parece uma maré sem título.

Japa conquistou o ponto que deu o pentacampeonato de voleibol ao Benfica (Fotografia cedida por SL Benfica)

 E isso deixa a equipa nervosa?

- Não digo nervosa, mas sim ansiosa para vir o próximo título para ser conquistado, porque queremos tirar esse sentimento. O que fica é o que perdemos. Então, a melhor forma de ultrapassar isso é vencer o próximo

 Na fase regular do campeonato não perdeu qualquer encontro em 14 jogos e na segunda fase quase fez o mesmo, mas na última jornada contra o Sporting, por 3-0, num jogo em que Marcel Matz [treinador do Benfica] admitiu que estava a poupar jogadores para a Taça de Portugal. Apesar disso, a derrota custou?

- Custou. Há diferenças em relação às outras. Sabíamos que não ia alterar nada para o campeonato, nem o 1.º ou 2.º lugar, só que ninguém quer perder. Quem entrou em jogo queria vencer, mas não correu bem. Quem entrou depois, também queria vencer. E surgiu um pouquinho de dúvidas. ‘Será que não estamos a jogar tão bem?’. Depois, na Taça de Portugal perdemos outra vez. Foi diferente. Sabíamos que o último jogo da segunda fase não tinha grande valor, mas sabíamos que o seguinte teria, mas queríamos vencer sempre.

Teve influência na meia-final da Taça de Portugal?

- Não digo que influenciou de forma negativa nem negativa. Talvez uma certa dúvida, vamos dizer assim, mas não acredito que foi esse o fator.

 Antes de passarmos para o Play-Off da final do campeonato nacional, Marcel Matz disse após a derrota na Taça de Portugal que alguma coisa tinha de mudar os Play-Offs. O Benfica acabaria por vencer a liga. O que mudou, exatamente?

- Talvez tenham sido as duas derrotas, pode ter ajudado a equipa a treinar ainda mais. É difícil falar disso porque os meus companheiros podem ouvir isto, mas a equipa trabalhou desde o primeiro dia até ao último. Com as duas derrotas pensamos isso, temos de fazer alguma coisa diferente. Se achávamos que estávamos a dar o nosso melhor, tínhamos de dar ainda mais para conseguir entrar muito melhor no jogo. As duas derrotas talvez nos tenham ajudado a jogar melhor na fase final da competição.

Equipa de voleibol do Benfica a celebrar pentacampeonato (Fotografia cedida por SL Benfica)

 Foi o aspeto mental que mudou e não a abordagem tática?

- Talvez, mas acredito que a parte tática também ajudou. A cada jogo que íamos fazendo com o Sporting, sabíamos cada vez mais o que tínhamos de fazer contra eles, em relação às opções que tinham.

 Porque é que o fator em casa foi tão importante?   

- As duas finais mostraram o porquê de ser tão importante. Os adeptos, com certeza [ajudam]. Muitas vezes, na hora do jogo, estávamos muito cansados. Do terceiro set para a frente já estamos muito cansados e depois vemos os vermelhos a saltar, a gritar e isso diminui o cansaço, a sério. Começamos a pensar que nada vai correr mal, vai tudo correr bem. Há muita energia e ficamos totalmente focados. Não sei dizer ao certo, mas nas duas finais ficou provado o porquê de o fator casa ter prevalecido. 

 E a jogar fora acontece o contrário?

- Acontece o mesmo para eles. Tanto que na final anterior [contra Fonte do Bastardo em 22/23], estávamos a ganhar por 2-0 ou 2-1 e sofremos reviravolta. Não era suficiente para nós. Contra o Sporting, estava 2-0, empatámos o primeiro jogo lá [2-2] e acabámos por perder no tie-break também.

 Falando no quarto jogo, em que o Sporting venceu e empatou eliminatória à entrada para último encontro, Ivo Casas disse após a derrota que tinha a certeza que o Benfica ia ganhar em casa. A confiança da equipa não ficou abalada?

- Lógico que sofremos com todas as derrotas. Doeu, mas sabíamos que logo a seguir teríamos o 5.º jogo. Penso que esse jogo foi na quarta e o quinta era no sábado, então não tínhamos tempo para ficar a remoer. Logicamente que essa noite foi má, para mim foi má. Porque sabíamos que tínhamos condições para vencer lá, mas o nosso jogo não correu bem. Tínhamos o fator casa, para decidir em casa. Sabíamos que teríamos a ajuda dos adeptos e que toda aquela energia voltaria a aparecer.

Japa, jogador de voleibol do Benfica (Fotografia cedida por SL Benfica)

 Foi a temporada mais difícil do Benfica?

- Por que diz isso?

 Estou a fazer a pergunta não só pelos resultados, mas também porque o treinador Marcel Matz falou no papel das lesões ao longo da temporada. Tal como aconteceu com Bernardo Westermann, afastado em dezembro até ao fim da época, o Peter Wolfie também se lesionou uma semana antes da meia-final da Taça de Portugal, e até o Felipe Banderó esteve lesionado em dezembro…

- Certo, nem me lembrava [risos]. Até estive com o Westermann agora no balneário, mas as lesões atrapalharam, sim. Mesmo sendo o segundo distribuidor, é uma segurança que nos dá. Ele entra, serve a 120 quilómetros por hora. Fácil. Olhas para ele e até parece fácil fazer isso, mas não é. E o Peter tem toda a experiência como central. Só voltou a ficar bom perto dos play-offs. Faz bastante diferença. Se é complicado, não sei dizer. Todos os anos são. Acredito que, este ano, o Sporting teve contratações muito específicas que resultaram muito bem para a equipa. Isso é um ponto que pode ter deixado as coisas mais complicadas. Mas não sei se foi o ano mais complicado. Claro que se virmos pelos resultados, há três e quatro anos ganhámos 3-0 e 3-1 na final. Se pensarmos assim, o ano passado e este foram mais complicados, sim.

 Indo agora para o panorama internacional, o Benfica tem muito sucesso em Portugal, mas na Liga dos Campeões não tanto. O que funciona em Portugal que contra as melhores equipas da Europa não resulta?

- Essa pergunta é difícil. Estamos a jogar num nível muito alto. Encontramos algumas equipas que são… Por exemplo, a equipa italiana que defrontámos este ano.

O Piacenza…

- Sim, [tem] dois jogadores da seleção brasileira, o distribuidor da seleção francesa [Antoine Brizard] e por aí vai… central da seleção cubana [Robertlandy Simon Aties]. São o topo do topo de cada país e as outras equipas também. Estamos a jogar contra seleções, um misto de seleções.

Japa no jogo do Benfica frente ao Piacenza a contar para a Liga dos Campeões (Fotografia cedida por SL Benfica)

Pablo Natan já tinha referido que o serviço não tinha tanto efeito contra estas equipas. Também teve esse sentimento?

- [risos] É essa a diferença. O Pablo [Natan] ainda faz serviços a 120 quilómetros por hora e isso é o Pablo [Natan] a falar. Quantos ases conseguiu fazer na temporada e quantos fez na Champions? Não sei dizer, mas essa é a diferença. O nível de receção também é muito alto, o nível de ataque é muito alto e o nível de bloqueio também é muito alto. E não é só isso, é também a mentalidade de todos os jogadores e das equipas.

O Japa esteve em quatro dos cinco títulos consecutivos do Benfica. Para já, nesta off-season, alguns nomes que estiveram presentes neste ciclo estão de saída do Benfica. É o caso de Rapha Oliveira e Lucas França, neste caso esteve nos últimos três títulos. Sente que está a começar um novo ciclo no clube?

- A única saída que sei é a do Lucas França, que já estava confirmada por motivos particulares com a esposa. Se vai começar um novo ciclo, não sei dizer. O staff é que vai cuidar disso. Tenho a certeza de que quem sair, o Lucas, por exemplo, vai deixar saudades, no nosso dia a dia, mas também vai fazer muita falta. Mas quem chegar, que venha não para apagar essas pessoas, mas com o mesmo espírito que a nossa equipa tem. Espírito trabalhador, batalhador, que goste de treinar e de jogar- E é o que os adeptos gostam de ver, à Benfica.

A reconquista da Taça de Portugal é um dos principais objetivos para a próxima temporada?

- Com certeza. Lembro-me que quando perdemos a Supertaça [2022] e fomos jogar a mesma competição este ano, reparei que já tínhamos um brilho diferente. Tínhamos de recuperar esse título. Quando chegar a altura da Taça no próximo ano, vamos encontrar esse brilho outra vez.

 Para terminar, de onde vem o nome Japa?

- Boa pergunta [risos]. É por causa da minha mãe, que é descendente de japoneses e o nome vem daí. Quando tinha 17 ou 18 anos, quando estive na minha primeira equipa profissional no Brasil, o diretor do clube perguntou-me que nome queria colocar na camisola. Eu disse que ele é que decidida. E, então, escolheu estampar Japa. ‘Toda a gente te chama de Japa’. Desde então, sou o Japa.