«Dá para perceber que o Rúben Prey tem imenso potencial»
Fotografia Ivo Martins/A BOLA

ENTREVISTA A BOLA «Dá para perceber que o Rúben Prey tem imenso potencial»

BASQUETEBOL01.04.202412:56

PARTE 3 -Neemias Queta analisa vantagens e desvantagens que o português do Juventut de Badalona terá para se mostrar à NBA se for para uma universidade americana ou se ficar a jogar na Europa. Confirma que gostaria que as empresas que fazem os cromos também incluíssem jogadores com contratos de duas-vias, e fala sobre as diferenças de viver em Boston e Sacramento... não esquecendo Utah, onde estudou

— Rúben Prey é agora a grande esperança do basquetebol nacional e até para que exista um segundo português a atuar na NBA. Concorda? Já viu o Rúben a jogar e acha que sim, que ele poderá ter essa esperança? Sentes-te demasiado sozinho a ser o único português da Liga?

— Sim, dá para perceber que ele tem imenso potencial. Está numa boa situação na equipa do Juventut [Badalona, na liga ACB espanhola], tem imenso potencial para poder chegar onde quer que seja. Se há um limite para ele e desde que continue a trabalhar, acredito que está no bom caminho.

— O Rúben, tem 19 anos, e vai ter de tomar uma decisão em breve que é: se, por exemplo, como foi o seu caso, aposta em vir para uma universidade americana e mostrar-se para tentar entrar na NBA pela NCAA, ou continuar a jogar ao mais alto nível na ACB e nas competições europeias e tenar chegar à liga a partir daí. Qual a diferença entre os dois caminhos, até porque escolheu um, mas, hoje em dia, grande parte dos basquetebolistas europeus, normalmente, preferem manterem-se na Europa? O que é que pensa sobre isso?

— As diferenças entre as duas opções podem ser muitas. Tem tudo a ver com o contexto de cada pessoa, com cada situação onde tu estás e onde é que podes acabar por chegar. Acho que tem tudo a ver com a forma como tu pensas, onde tu queres chegar. Por exemplo, ficar na Europa pode ser uma situação melhor em termos monetários, mas não tens tanta visibilidade como se vieres para os Estados Unidos jogar numa universidade. Mas também pode ser visto do outro lado. Outro exemplo, vindo para aqui, para a universidade, não estás a jogar basquetebol com jogadores tão adultos. É uma questão de saber meter os dois pesos na balança e decidir entre eles.

— Estar num jogo dos Boston Celtics, no TD Garden, e saber que nas bancadas estão 22 pessoas, que vieram especificamente de Portugal para o ver e apoiar, como aconteceu agora [contra Pistons e Bucks], foi diferente de quanto se encontra numa partida normal? Sentiu isso no aquecimento ou é algo de que conseguiu desligar-se completamente?

— Normalmente consigo desligar-me, porque estou sempre focado no jogo, mas quando tenho 22 pessoas que vêm de Portugal para me ver jogar, acho que me deu um bocadinho mais de nervos … Não sei como posso explicar de que forma  me senti, mas não posso dizer que tenha sido normal.

— Lembro-me, na época passada, no All-Star da NBA em Salt Lake City, onde disputou o All-Star da G League, quando lhe ofereceram o seu cromo de rookie dos Sacramento Kings [2021/22]. O sorriso que tinha é inesquecível, porque já tinha visto o cromo antes, mas não tinha nenhum. Agora, há um problema, não se fazem cromos para os jogadores que têm contratos de duas-vias. É uma norma que devia ser mudada nas empresas que criam os cromos? Os jogadores de duas vias também deviam ter esse direito?

[risos] Era o que ia perguntar, é por isso que não havia cromos este ano. Não vi ninguém com cromos [meus] este ano por isso deviam mudar essa regra, sim senhor.

— O que é melhor para viver, Sacramento ou Boston?

— Se vais a ver, Sacramento tem um estilo mais parecido em termos de Portugal, porque é mais quente, e se é isso que eu quero seria aí que gostaria de viver, mas não existe uma diferença assim tão grande. Se comparar-mos Boston com Utah [onde estudou e jogou três épocas] que também é frio e tem muita paisagem natural e é bonito, creio que existem semelhanças entre ambos os lados onde vivi anteriormente, por isso gosto das duas cidades.

Fotografia Ivo Martins/A BOLA

— Em Boston, o bom é que também está mais perto para poder ir num instante a casa em Portugal e para a sua família visitá-lo.

— É verdade, facilita-lhe imenso a vida.

«Os Celtics têm cultura única e mentalidade que ajudou a vencer campeonatos»

1 abril 2024, 11:36

«Os Celtics têm cultura única e mentalidade que ajudou a vencer campeonatos»

PARTE 1 - BOSTON - Após dois anos nos Sacramento Kings, o primeiro português na NBA, de 24 anos, está agora nos Boston Celtics, melhor conjunto da fase regular, mas diz que os principais candidatos ao título são os campeões Nuggets. Bastante reservado a tudo o que seja conversas de balneário, está satisfeito com a vida em Boston, o clube e os fãs da equipa que considera ser a melhor em que já jogou .

— E em termos da cultura dos clubes, Celtics e Kings, falou há bocado um pouco sobre isso. Existe uma grande distinção entre estar nos Boston Celtics ou nos Sacramento Kings, e os adeptos de um e de outro?

— Há uma diferença em termos de que os fãs de Boston já têm uma estrutura da mesma franchise desde que a NBA foi estabelecida, é uma base de adeptos mais antiga, tem maior tradição nesse aspeto, enquanto os Kings não foram originalmente criados em Sacramento, daí que não exista tanta lealdade à franchise nesse aspeto.

— Quer dizer que se sente o peso daqueles 17 estandartes de campeão pendurados no tecto do TD Garden?

— Não diria que se sente o peso, mas pelo menos tens uma noção.

— De que essa cultura dos fãs se projeta de maneira diferente quando vocês estão no court?

— Sim, acho que sim.

— Porque é uma cidade muito maior do que Sacramento já é reconhecido em Boston quando passeia na rua ou ainda consegues andar tranquilamente?

— Normalmente não passeio.

— Os três melhores momentos que teve nesta temporada, quais foram?

[Alguns segundos para recorda] Não quero estar a fazer um balanço agora porque ainda pode haver mais jogos em que podem vir a ser melhores momentos, nunca se sabe e a época é muito longa. Há tantos momentos bons que uma pessoa não consegue se lembrar de todos de repente, Agora apanhou-me de surpresa.

— Eu notei. Agora, por mais que se queira não ligar, é incontornável o facto de haver só uma vaga na equipa para um contrato standard para irem ao play-off [só podem ser inscritos 15 basquetebolistas]. Neste momento vocês são três jogadores com vínculos de duas-vias. Sente dos outros dois [JD Davison e Drew Peterson] a apetência de também lutarem por essa vaga? Ou isto é uma coisa que preferem não conversa?

— Somos colegas de equipa ao fim do dia, acha que... Isso de andar com guerras por lugares...

— Mas não tem a ver com guerras, mas com a ambição…

— Sim claro, toda a gente ambiciona muito mais. Mas dá para perceber que somos todos amigos uns dos outros. Não há nada disso.

— Os Celtics são, atualmente, os grandes candidatos ao título?

— Não… os principais candidatos são os campeões em título [Denver Nuggets]. Têm a mesma equipa... Mantiveram todos os jogadores do ano passado, estão saudáveis, a jogar um bom basquete... Daí que seja fácil dizer que eles é que são os grandes candidatos ao título.

— O Joe Mazzulla, daquilo que soube, consegue falar uma série de línguas, ao contrário da maior parte dos americanos. Penso que falará três ou quatro línguas e gosta de aprender. Não sei se sabias isso? Há que colocar aprender o Joe a falar português?

— Ele pode vir a aprender no futuro, se estiver interessado. Já fala algumas línguas, tem origem italiana, então já fala italiano. Daí que se investir um bocado, é bem capaz de aprender facilmente.

— Vamos pôr o Joe a falar português para te meter mais vezes em campo?

[risos] Assim falamos a mesma língua, é isso que queres que diga, não é… [novamente risos].

«O Joe Mazzulla adora ver futebol. Percebe imenso, nota-se que também joga»

1 abril 2024, 12:18

«O Joe Mazzulla adora ver futebol. Percebe imenso, nota-se que também joga»

PARTE 2 - Neemias Queta confirmou a paixão do treinador dos Celtics quanto ao 'desporto rei' (no resto do mundo) e revela como o técnico, que visitou o Manchester City e Pep Guardiola, costuma integrar vídeos nos treinos. Sempre que pode, o poste português tenta acompanhar a liga portuguesa de basquetebol e os jogos da Seleção