O voleibol feminino encarnado tem feito uma ótima campanha europeia e já está nos quartos de final da Challenge. Passaram 34 anos, desde que as atletas do Benfica enchiam o clube de orgulho. Eram 10, todas Marias. A Câmara Municipal de Lisboa prometeu homenageá-las há três anos e A BOLA foi ouvir as suas histórias
Foram necessários 34 anos para o Benfica voltar a pisar os palcos europeus no voleibol feminino. A equipa encarnada estreou-se a ganhar e já lhes chamam «As Marias». E não, não é porque são portuguesas e este é um nome tipicamente nacional. É porque todos gostariam que fossem as herdeiras de «As Marias do Benfica», forma como ficou conhecida a equipa de voleibol feminino que durante nove anos consecutivos se sagrou campeã nacional. Sem perder um set, juram muitos, perdendo apenas um set juram outros. Isso, na realidade, pouco conta no currículo ímpar daquelas jogadoras, 11, embora 10 com mais efetividade, que tinham muito em comum: pioneiras e todas com o mesmo nome: Maria.
A equipa das Marias do Benfica. Uma lenda no que toca às modalidades de pavilhão do Benfica. Dominaram o voleibol feminino entre 1966 e 1975 com nove títulos seguidos.
Porquê Marias do Benfica? Todas elas tinham Maria no nome.
— Violinista da Luz (@ViolinistadaLuz) June 4, 2023
Quatro delas juntaram-se para fazer o livro das suas memórias que não esqueceram e gostariam que fossem lembradas. Maria José Maya, Maria Margarida Leite, a capitã Maria Madalena Canha e Maria Teresa Fernandes juntaram pedaços, literalmente, da história que construíram e deitaram mãos à obra para reescrever esta parte da história do voleibol português.
Percurso sem mácula
As Marias venceram nove campeonatos consecutivos, entre 1966/1967 e 1974/1975, num percurso talhado na resiliência de um grupo de mulheres que partilharam muito mais do que o primeiro nome. Conquistaram as duas primeiras Taças de Portugal (72/73 e 73/74) e participaram sete vezes na Taça dos Clubes Campeões Europeus: 1968 Leipzig (RDA), 1969 Bratislava (Checoslováquia), 1970 Viena (Áustria), Praga (Checoslováquia), 1973 Edimburgo (Escócia), 1974 Moscovo (Rússia) e 1975 Budapeste (Hungria).
Conheça a história de quatro jogadoras com o mesmo nome próprio que brilharam de águia ao peito nas décadas de 60 e 70. Um livro para breve. Enfermeiras, médicas ou professoras não interessava, a paixão pelo voleibol juntou-as
A Câmara Municipal de Lisboa prometeu homenageá-las há três anos. O trabalho difícil está feito, só falta entregarem as medalhas — prémio a que já estão habituadas dado que nunca ganharam nada mais do que isso, com exceção a umas faixas em 1972. «A memória existe e pode permanecer em estado de latência por longo tempo, reservando para momento oportuno a sua revelação. Aconteceu agora, talvez porque os laços que nos unem são muito fortes, porque constatámos em vários momentos haver muitas distorções dos factos, e por ser interessante fixarmo-nos em detalhes do nosso percurso que espelham a forma como a nossa equipa se posicionou no contexto nacional, como era encarado o desporto em geral e o feminino em particular e a projecção que lhe foi dada pela comunicação social. O livro que brevemente será publicado é a história de um passado que foi em si memória do que construímos e que, no nosso entender não deverá ser esquecido», explicam.
As “Marias” foram o epíteto das equipas de voleibol do @SLBenfica durante anos. Começaram em 1950/51, época em que a secção foi criada, e consolidaram-se entre 1966 e 1975 como uma das melhores equipas do país! Na imagem, um momento de descontração à saída do Estádio da Luz.🔴⚪ pic.twitter.com/PPddcLwGo1
«Reescrever detalhes do percurso foi um trabalho de aturada pesquisa que procura ser o mais objectivo e isento contando, também, apontamentos de muitos que connosco partilharam o quotidiano, fosse no associativismo na família ou na profissão», elogiam.